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Saramago:
a morte
conveniente
Recebemos
hoje [18 de Junho de 2010] a notícia da morte de José Saramago
(1922-2010). Exactamente no dia em que, neste pequeno rectângulo de
desmesuradas hipocrisias, se discute a possibilidade de se mudarem
os feriados nacionais (e, valha-nos Deus!, até os dias santos) para
o mesmo canto ignóbil dos fins-de-semana... Estás a ver, Saramago,
as nossas crianças a aprenderem na escola que o 25 de Abril não foi
a 25, mas a 24 ou a 26 ou a 27 em nome da produtividade nacional? E
tu, se não fosses tão diabólico e merecesses também um lugar
na história do nosso triste fado português, provavelmente terias morrido um dia ou dois mais cedo, para que as tuas exéquias
não afectassem o erário público e o PIB.
«Nós estamos a assistir ao que chamaria de morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos, e cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém te pergunta o que pensas, agora perguntam-te que marca de carro, de roupa, de gravata tens, quanto ganhas…»
J OSÉ
SARAMAGO
Jornal El Mundo, 6 de Dezembro de 1998.

foto PEDRO CUNHA/Público,
s/d.
Eis, portanto, uma morte inofensiva, até conveniente (pois, o que morreu foi o cidadão, não foi o cliente...)
Morreu satanás, jezebel, o diabo!
Eis a morte que convinha à igreja, à nossa democracia, aos bancos e
usurários, à grande podre pátria europeia, ao euro (é verdade: até
ao inofensivo euro esta morte convinha!), ao FMI, à OCDE... Aos
profetas do pós-modernismo, ao capitalismo selvagem e ao comunismo
ortodoxo, aos
tecnocratas e intelectuais no poder.
A estaline, hitler, mussolini, salazar, sarkozy, a essa
'coisa'
chamada berlusconi. A césar divi filius o imperador de Roma. E ainda ao PIB e
aos patrões. Ao trabalho. Ao medo. À mordaça!
Morreu Saramago e até as nuvens agradecem. Sim, e o ar que nós
respiramos, o nosso décimo terceiro mês, as criancinhas obrigadas a
trabalhar na China e no Bangladesh, os mortos enterrados em valas
comuns na Faixa de Gaza e as
vítimas dos gulags na Sibéria porque todos têm agora —
inalienável! — um lugar merecido na consciência dos homens de boa
vontade.
Este Saramago (quero dizer: satanás, jezebel, o diabo!) que morreu
era um perigo, uma espécie de bin laden da América, um bêbado
indigente que
atirava pedras às estrelas da imaculada bandeira azul da UE.
Eis, portanto, uma morte inofensiva, até conveniente (pois, o que
morreu foi o cidadão não foi o cliente...).
Por muitos anos se ouvirá ainda às portas do inferno:
«a puta que
os pariu a todos!»
A puta que pariu os que o quiseram ver ali, prostrado, inerte, inofensivo na sua
última morada e puseram gravata preta e mandaram lançar foguetes e
salvas de morteiro e falaram aos jornais e às televisões e choraram
para a fotografia e com ele embalsamaram o futuro.
Notícia de última hora: a ministra da cultura vai-te buscar a
Lanzarote num C295 da Força Aérea portuguesa. Vá lá, José, faz um
derradeiro esforço, dobra-te sobre o teu próprio cadáver para que
se poupe ainda em combustível na tua viagem até um
dos nove
círculos do inferno de Dante.

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