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  Post 036 -  Junho de 2010  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

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Saramago:

a morte conveniente

 

Recebemos hoje [18 de Junho de 2010] a notícia da morte de José Saramago (1922-2010). Exactamente no dia em que, neste pequeno rectângulo de desmesuradas hipocrisias, se discute a possibilidade de se mudarem os feriados nacionais (e, valha-nos Deus!, até os dias santos) para o mesmo canto ignóbil dos fins-de-semana... Estás a ver, Saramago, as nossas crianças a aprenderem na escola que o 25 de Abril não foi a 25, mas a 24 ou a 26 ou a 27 em nome da produtividade nacional? E tu, se não fosses tão diabólico e merecesses também um lugar na história do nosso triste fado português, provavelmente terias morrido um dia ou dois mais cedo, para que as tuas exéquias não afectassem o erário público e o PIB.

 

 

«Nós estamos a assistir ao que chamaria de morte do cidadão e, no seu lugar, o que temos, e cada vez mais, é o cliente. Agora já ninguém te pergunta o que pensas, agora perguntam-te que marca de carro, de roupa, de gravata tens, quanto ganhas…»

JOSÉ SARAMAGO

Jornal El Mundo, 6 de Dezembro de 1998.

 

 

 

foto PEDRO CUNHA/blico, s/d.

 

Eis, portanto, uma morte inofensiva, até conveniente (pois, o que morreu foi o cidadão, não foi o cliente...)

 

 

 

Morreu satanás, jezebel, o diabo!

Eis a morte que convinha à igreja, à nossa democracia, aos bancos e usurários, à grande podre pátria europeia, ao euro (é verdade: até ao inofensivo euro esta morte convinha!), ao FMI, à OCDE... Aos profetas do pós-modernismo, ao capitalismo selvagem e ao comunismo ortodoxo, aos tecnocratas e intelectuais no poder.

A estaline, hitler, mussolini, salazar, sarkozy, a essa 'coisa' chamada berlusconi. A césar divi filius o imperador de Roma. E ainda ao PIB e aos patrões. Ao trabalho. Ao medo. À mordaça!

 

Morreu Saramago e até as nuvens agradecem. Sim, e o ar que nós respiramos, o nosso décimo terceiro mês, as criancinhas obrigadas a trabalhar na China e no Bangladesh, os mortos enterrados em valas comuns na Faixa de Gaza e as vítimas dos gulags na Sibéria porque todos têm agora — inalienável! — um lugar merecido na consciência dos homens de boa vontade.

 

Este Saramago (quero dizer: satanás, jezebel, o diabo!) que morreu era um perigo, uma espécie de bin laden da América, um bêbado indigente que atirava pedras às estrelas da imaculada bandeira azul da UE.

 

Eis, portanto, uma morte inofensiva, até conveniente (pois, o que morreu foi o cidadão não foi o cliente...).

 

 

Por muitos anos se ouvirá ainda às portas do inferno: «a puta que os pariu a todos!»

 

A puta que pariu os que o quiseram ver ali, prostrado, inerte, inofensivo na sua última morada e puseram gravata preta e mandaram lançar foguetes e salvas de morteiro e falaram aos jornais e às televisões e choraram para a fotografia e com ele embalsamaram o futuro.

 

 

Notícia de última hora: a ministra da cultura vai-te buscar a Lanzarote num C295 da Força Aérea portuguesa. Vá lá, José, faz um derradeiro esforço, dobra-te sobre o teu próprio cadáver para que se poupe ainda em combustível na tua viagem até um dos nove círculos do inferno de Dante.

 

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

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