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  Post 084 -  Maio de 2012  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

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Power house mechanic working on steam pump. Nova Iorque, 1920.

foto LEWIS HINE

 

 

 

 

 

   Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e cana, construídas na margem de um rio de águas transparentes que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas ainda não tinham nome e para as mencionar era preciso apontar com o dedo. Todos os anos, pelo mês de Março, uma família de ciganos andrajosos montava a sua tenda perto da aldeia e, num grande alvoroço de apitos e timbales, davam a conhecer as novas invenções. Primeiro levaram o íman. Um cigano corpulento, de barba ferina e mãos de pardal-dos-telhados, que se apresentou com o nome de Melquíades, fez uma truculenta demonstração daquilo que ele próprio denominava de oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedónia. Foi de casa em casa a arrastar dois lingotes metálicos, e toda a gente ficou espantada ao ver como as caldeiras, os tachos, as tenazes e os fogareiros caíam dos seus lugares, e as madeiras rangiam pelo desespero dos pregos e dos parafusos que tentavam despregar-se, e até os objectos perdidos há muito tempo apareciam por onde mais se procurava e arrastavam-se em debandada turbulenta atrás dos ferros mágicos de Melquíades. «As coisas têm vida própria», apregoava o cigano com um sotaque áspero, «é tudo uma questão de lhes acordar a alma.» José Arcadio Buendía, cuja imaginação desaforada andava sempre à frente do engenho da Natureza e ainda mais além do milagre e da magia, pensou que era possível servir-se daquele invento inútil para desentranhar o ouro da terra...

 

Gabriel García Márquez

"Cem Anos de Solidão"

 

 

 

   Poderemos estar no início de mais cem anos de solidão, divididos entre (para uns) «as coisas [que] têm vida própria» e (para outros) a desesperada necessidade de «desentranhar o ouro da terra.» Divididos e com a pesada tarefa de nos conciliarmos...

 

_______

"acordar a alma..."

Cem anos de solidão ou cem anos de cegueira ou cem anos de ilusões (José Arcadio Buendía trocou a sua mula e algumas cabras pelos dois lingotes magnetizados porque acreditava que depressa lhe sobraria ouro com que empedrar a casa, enquanto a mulher Úrsula chorava de consternação...) poderão muito bem ser também cem anos de atraso. Na verdade, sinto-me a viver assim, num mundo com cem anos de atraso: não tanto na solidão de quem enlouquece com os excessos, mas muito mais na solidão de quem está a morrer aos poucos com as carências mais simples. Porém, como sugere o próprio Gabriel García Márquez, acredito que, mais do que pelo amor e pelo ódio, todos estamos terrivelmente ligados por essa outra feérica solidão de «uma dor comum de consciência.» Afinal, é tudo uma questão de «acordar a alma...»

 

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

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