ANTERO DE ALDA Photography Recent Works

 

American Full Moon

 

Adema Balde Eyes, Dembel Jumpora, Guinea-Bissau s/d.

photo AMI VITALE

 

 

Today, by seeing the images of happiness of the children of Haiti with a few packets of biscuits in their hands, collected from the humanitarian trucks after the earthquake of January 12th, I reminded myself of Ami Vitale and her stories with children from Guinea-Bissau.

 

«I don’t know if it’s possible to get to a truth, but I’m searching for that.»

AMI VITALE, The Digital Journalist, 2003.

 

 

 

 

When young Ami began working on image editing for Associated Press, shortly after graduating in International Studies in the University of North Carolina, she still looked like a teenager in her closed little interior universe, but began to realize what the photographic markets of New York and Paris were demanding to the great photojournalists, worldwide. Perhaps more importantly, she discovered that she wanted to quickly abandon that “introverted shell”: In her gut, she always felt that photographers are introverted people looking for a way to relate to the world.

Relating to the world was, ever since, what Ami Vitale did, and already in 1999 – as Matt Brandon said in The Digital Trakker of December that year – perhaps it was not possible to find someone who had received that many awards and decorations.

 

With the money made from editing the images of others, alone and without compromise, Ami Vitale decided to travel to Europe and made her first major stop in the Czech Republic, in 1997, because she was impressed with the news and pictures that she had received from the Balkans. Since then, she never stopped again and according to her account, she has known over 70 countries in the five continents.

 

In some places where she has been, she felt fear: Afghanistan, Kosovo and India (Kashmir from New Delhi — where she lived), were the places that impressed her. However, in an interview given in January of 2003 to journalist Susan B. Markisz, at the time working for The Digital Journalist, the already renowned Ami Vitale confessed her passion for Africa (where she has also lived). To explain that her presence as a person was equally or more important than her presence as a photojournalist, she said that in many places where she has been, she collected her food, prepared her own meals, washed her clothes, played with children on the street and attended the religious ceremonies: masses, funerals, weddings, male and female circumcisions...

 

 

In Guinea, the children of Fama Jamanka, the woman that took her in her mud hut, were astonished at her lack of expertise to collect water from the well (Ami Vitale is flimsy like all the great women). With some difficulty, she explained to them that to get water in America she only had to press a button.

Once, on a full moon night, after gazing at the surprised expression of the photographer after a magnificent sunset, a group of children asked her if there was no moon in America. Ami lived like one of them, one day at a time like there was no future, and still, she couldn’t quite figure what to answer them...

 

Still to this day, at her home in Miami, Florida, where she works for National Geographic and many other international organizations, when the full moon arises, she remembers Guinea and lets a tear drop from her eyes. And now she realizes, better than ever, why is it that those children could cope so well with their tragedy.

 

Living with the poor made Ami Vitale a much richer person. According to her own words, she still doesn’t know if there is a truth out there, but she still continues to pursuit it.

 


English version 

 

Antero de Alda: Câmara Antiga (Ami Vitale — lua cheia americana)

 

 

contacto

poesia

fotografia

home

 

  Post 025 -  Janeiro de 2010  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

www.anterodealda.com

 

 

pesquisar neste blog

 

Recentes

 

o editor pergunta-me...

          [ a reserva de Mallarmé ]

 

 

Antigas

 

o ministro foi às putas de pequim

manual de sobrevivência [ XXV ]

o comboio de... Cristina Peri Rossi

o tesoureiro de Leipzig

manual de sobrevivência [ XXIV ]

manual de sobrevivência [ XXIII ]

manual de sobrevivência [ XXII ]

e o lado oculto da Europa...

a Espanha oculta de...

          [ Cristina García Rodero ]

o cortejo dos amortalhados

EU — only for rich

a essência do Capitalismo

a essência de um Capitalista

os filhos do Diabo

manual de sobrevivência [ XXI ]

ódio à Democracia [ III ]

ódio à Democracia [ II ]

ódio à Democracia [ I ]

Warhol [ 85 anos ]

manual de sobrevivência [ XX ]

manual de sobrevivência [ XIX ]

manual de sobrevivência [ XVIII ]

taitianas de Gauguin

retratos de Van Gogh

nunca serei escravo de nenhum terror

as coisas [ Jorge Luis Borges ]

manual de sobrevivência [ XVII ]

manual de sobrevivência [ XVI ]

Portugal, noite e nevoeiro

o corno de Deus

manual de sobrevivência [ XV ]

manual de sobrevivência [ XIV ]

manual de sobrevivência [ XIII ]

a filha de Galileu

um museu para o Eduardo

manual de sobrevivência [ XII ]

manual de sobrevivência [ XI ]

Torricelli, Pascal, Hobbes, razão, utopia e claustrofobia

manual de sobrevivência [ X ]

manual de sobrevivência [ IX ]

os diabos no quintal

     [ histórias de homens divididos

       entre muitos mundos ]

o pobre capitalismo...

as Madalenas de Caravaggio

manual de sobrevivência [ VIII ]

o alegre desespero [ António Gedeão ]

manual de sobrevivência [ VII ]

manual de sobrevivência [ VI ]

manual de sobrevivência [ V ]

manual de sobrevivência [ IV ]

manual de sobrevivência [ III ]

sombras [ José Gomes Ferreira ]

Phoolan Devi [ a valquíria dos pobres ]

schadenfreude [ capitalismo e inveja ]

a vida não é para cobardes

europa

a III Grande Guerra

FUCK YOU!

EU — die 27 kühe [ as 27 vacas ]

europa tu és uma puta!

bastardos!

o daguerreótipo de Deus...

o honrado cigano Melquíades...

cem anos de solidão...

manual de sobrevivência [ II ]

o salvador da América [ Allen Ginsberg ]

o salvador da América [ Walt Whitman ]

[ revolução V ] as mães do Alcorão

[ revolução IV ] paraíso e brutalidade

[ revolução III ] andar para trás...

[ revolução II ] para onde nos levam...

[ revolução I ] aonde nos prendem...

o problema da habitação

cartas de amor

a herança de Ritsos

as piores mentiras

elegia anti-capitalista

da janela de Vermeer

manual de sobrevivência [ I ]

de novo o Blitz...

antes de morrer

as valquírias

forretas e usurários

           [ lições da tragédia grega ]

Balthus, o cavaleiro polaco

abençoados os que matam...

diário kafkiano

Bertrand Russell: amor e destroços

U.E. — game over

DSK: uma pila esganiçada

coração

kadafi

o tempo e a eternidade

Bucareste, 1989: um Natal comunista

mistério

o Homem, a alma, o corpo e o alimento

          [ 1. a crise da narrativa ]

          [ 2. uma moral pós-moderna? ]

          [ 3. a hipótese Estado ]

o universo (im)perfeito

mural pós-moderno

Lisboa — saudade e claustrofobia

          [ José Rodrigues Miguéis ]

um cancro na América

Marx, (...) capital, putas e contradições

ás de espadas

pedras assassinas

Portugal — luxúria e genética

rosas vermelhas

Mozart: a morte improvável

1945: garrafas

1945: cogumelos

bombas de açúcar

pão negro

Saramago: a morte conveniente

os monstros e os vícios

porcos e cinocéfalos

o artifício da usura

a reserva de Mallarmé

o labirinto

os filhos do 'superesperma'

a vida é uma dança...

a puta que os pariu a todos...

walk, walk, walk [Walter Astrada]

Barthes, fotografia e catástrofe

Lua cheia americana [Ami Vitale]

a pomba de Cedovim

o pobre Modigliani

o voo dos pimparos

o significante mata?

a Europa no divã

a filha de Freud

as cores do mal

as feridas de Frida

perigosa convivência

—querida Marina! («I'm just a patsy!»)

a grande viagem...

histoire d'une belle humanité

o coelhinho foragido

o sono dos homens...

«propriedade do governo»

os dois meninos de O'Donnell

o barco dos sonhos

farinha da Lua

o enigma de Deus

«nong qua... nong qua...»

«vinho de arroz...»

magnífica guerra!

a lei do Oeste...

Popper (1902-1994)

 

 

 

SnapShots

 

 

os dias todos iguais, esses assassinos...

 

[ Ami Vitale ]

Lua cheia americana

 

 

 

Adema Balde Eyes, Dembel Jumpora, Guiné-Bissau s/d.

foto AMI VITALE

 

 

 

 

Hoje, ao ver as imagens de felicidade das crianças do Haiti com alguns pacotes de bolachas nas mãos recolhidas dos camiões humanitários, depois do terramoto de 12 de Janeiro, lembrei-me de Ami Vitale e das suas histórias com crianças da Guiné-Bissau.

 

 

 

 

«I don’t know if it’s possible to get to a truth, but I’m searching for that.»

AMI VITALE, The Digital Journalist, 2003.

 

 

Quando a jovem Ami começou a trabalhar em edição de imagem para a Associated Press, pouco depois de se formar em Estudos Internacionais pela Universidade da Carolina do Norte, ela parecia-se ainda com uma adolescente fechada no seu pequeno universo interior, mas começava a perceber o que os mercados fotográficos de Nova Iorque e Paris estavam a pedir aos grandes fotojornalistas de todo o mundo. Talvez mais importante do que isso, ela descobriu que queria sair rapidamente da sua «introverted shell»: no seu íntimo, ela sempre achou que os fotógrafos são pessoas introvertidas à procura duma maneira de se relacionarem com o mundo («I think all photographers are introverts trying to find a way to bond with the world»).

Relacionar-se com o mundo foi, desde então, o que fez Ami Vitale, e já em 1999 — como disse Matt Brandon na The Digital Trakker de Dezembro desse mesmo ano —, talvez não fosse possível encontrar alguém que tivesse recebido tantos prémios e condecorações.

 

 

Com o dinheiro ganho a editar as imagens dos outros, sozinha e sem compromissos, Ami Vitale decidiu viajar para a Europa e fez a sua primeira grande paragem na República Checa, em 1997, porque estava impressionada com as notícias e as fotografias que lhe haviam chegado dos Balcãs. Desde então, nunca mais parou e segundo as suas contas já conheceu mais de 70 países nos cinco continentes.

 

Em alguns sítios onde esteve chegou a ter medo: Afeganistão, Kosovo e Índia (Caxemira, a partir de Nova Deli — onde viveu), foram lugares que a marcaram. Porém, numa entrevista concedida em Janeiro de 2003 à jornalista Susan B. Markisz, então colaboradora do The Digital Journalist, a já consagrada Ami Vitale confessou a sua paixão por África (onde também viveu). Para explicar que a sua presença como pessoa era tão ou mais importante do que a sua presença como fotojornalista, disse que em muitos lugares onde esteve recolhia os seus alimentos e fazia as suas próprias refeições, lavava a sua roupa, brincava com as crianças na rua e assistia às cerimónias religiosas: missas, funerais, casamentos, circuncisões masculinas e femininas...

 

Na Guiné, os filhos de Fama Jamanka, a mulher que a acolheu na sua cabana de lama, admiravam-se com a sua falta de perícia para recolher a água do poço (Ami Vitale é franzina como todas as grandes mulheres). Com alguma dificuldade, ela explicou-lhes que para conseguir água na América só tinha de carregar num botão.

Certa vez, numa noite de lua cheia, ao verificarem a expressão de surpresa da fotógrafa depois de um magnífico pôr-do-sol, um grupo de crianças perguntou-lhe se na América não havia lua. Ami vivia então como elas, um dia de cada vez como se não houvesse futuro, e ainda assim não sabia bem o que lhes responder...

 

Ainda hoje, na sua casa em Miami, na Florida, onde trabalha para a National Geographic e para muitas outras organizações internacionais, quando há lua cheia ela lembra-se da Guiné e deixa que uma lágrima se solte dos olhos. E agora percebe, melhor do que nunca, por que é que essas crianças conseguiam lidar tão bem com a sua tragédia.

 

Viver com os pobres fez de Ami Vitale uma pessoa muito mais rica. Segundo as suas próprias palavras, ela ainda não sabe se existe uma verdade, mas continua a procurá-la.

 

 

[ www.amivitale.com ]

 

 

 

anterior  |  início  |  seguinte

 

 

A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

webdesign antero de alda, desde 2007