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  Post 075 -  Março de 2012  

 

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o problema da habitação

                                                           

eu: «vem aí a primavera...»

o Ruy: «espero pelo verão como por outra vida.»

eu: «e já parece que o verão vai acabar.»

joaquim: «a minha mãe viajou de bela a velha em segundos.»

 

Há dias assim, em que preciso da poesia que posso como de um pardieiro no meio dos arranha-céus de uma cidade demasiado grande.

 

 

 

 

Grua — Hora do Nascente

Da série Três Respostas Concretíssimas ao Problema da Habitação, 1981.

ANTERO DE ALDA

 

 

 

em memória de Ruy Belo

 

Joaquim Jorge Carvalho (Ribeira de Pena, Fevereiro de 2010), escreveu algures mais ou menos isto: «Comprei casa com empréstimo bancário. Pus nela as minhas poupanças, a minha ideia de lugar amável, os meus livros, a minha família. Depois, a casa foi envelhecendo e os juros da Euribor foram subindo. Por ser tão custoso mantê-la, é muito improvável não desistirmos dela, mas é igualmente inviável não termos uma habitação. O preço de viver não se mede apenas pelo spread, pelo Banco Central Europeu ou pelo valor do crude. Basta dizer que o Verão vai acabar, que a minha mãe viajou de bela a velha em segundos, que o meu pai morreu no ano passado antes de falarmos, que já me vai faltando a ingenuidade essencial de acreditar...»

 

 

 

Oh as casas as casas as casas

as casas nascem vivem e morrem

Enquanto vivas distinguem-se umas das

                                                                     outras

distinguem-se designadamente pelo cheiro

variam até de sala para sala

As casas que eu fazia em pequeno

onde estarei eu hoje em pequeno?

Onde estarei aliás eu dos versos daqui a

                                                                   pouco?

Terei eu casa onde reter tudo isto

ou serei sempre somente esta instabilidade?

As casas essas parecem estáveis

mas são tão frágeis as pobres casas

Oh as casas as casas as casas

mudas testemunhas da vida

elas morrem não só ao ser demolidas

Elas morrem com a morte das pessoas

As casas de fora olham-nos pelas janelas

Não sabem nada de casas os construtores

os senhorios os procuradores

Os ricos vivem nos seus palácios

mas a casa dos pobres é todo o mundo

os pobres sim têm o conhecimento das casas

os pobres esses conhecem tudo

Eu amei as casas os recantos das casas

Visitei casas apalpei casas

Só as casas explicam que exista

uma palavra como intimidade

Sem casas não haveria ruas

as ruas onde passamos pelos outros

mas passamos principalmente por nós

Na casa nasci e hei-de morrer

na casa sofri convivi amei

na casa atravessei as estações

Respirei – ó vida simples problema de

                                                        respiração

Oh as casas as casas as casas

 

RUY BELO

O Problema da Habitação

1962

 

 

 

 

 

 

 

Em 1984 fiz na Escola Superior de Belas Artes do Porto uma exposição com o título «Três Respostas Concretíssimas ao Problema da Habitação...», sabendo já do Ruy e de que uma casa é esse lugar onde guardamos o nosso corpo e o que trazemos embrulhado nele depois de despidos de tudo o que não é essencial. Fazia parte um Processo Disciplinar recolhido nos arquivos de uma (então) conhecida empresa de construção civil:

 

 

Processo Disciplinar Nº 182-A

 

Aos 21 de Maio de 1982, nos escritórios da x, sobre a matéria dos autos à margem identificados em que é arguido y, o mesmo declarou que o z, por andar zangado com o seu pai, também trabalhador da firma, disse-lhe que a mãe dele era uma puta, ao que o declarante retorquiu que puta era a mãe dele.

Em seguida o z atirou-lhe uma pá, com violência, que só não o atingiu por se ter desviado para trás de um pilar. Em seguida chegou-se junto do declarante e deu-lhe um murro na cabeça.

 

y (1)

___

(1) Assinatura de y

 

ANTERO DE ALDA

Da série Três Respostas Concretíssimas ao Problema da Habitação

1982

 

 

 

 

Joaquim escreveu ainda: «Poucos versos foram capazes, como os de Ruy Belo, de cruzar a frágil terrenidade da existência com uma espécie de Absoluto lindo que é esta ideia de tudo talvez ter um sentido. De haver talvez formosura para lá da usura. De haver talvez Tejo para lá do Tédio. De haver talvez Belo para lá de Ruy.»

 

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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