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manual de sobrevivência
[ V ]
[ a maldição da macieira ácida ]
Hoje decidi que todas as minhas energias serão encaminhadas para fugir do rebanho...
foto HENRI CARTIER-BRESSON Prostitutas de Alicante,
Espanha 1933.
foi quando o meu pai chegou à esquina
da macieira ácida
que lhe deu aquele aperto no peito.
nem tudo é perfeito na esquina
da macieira ácida.1
1 Na verdade, fui eu que comprei
a macieira ácida. A minha mãe sempre me disse: «Escolhe bem as
ervas que te hão-de salvar. Seria uma desgraça se morresses antes do
teu pai.»
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assalto aos cemitérios
«As mortalhas não têm bolsos», diz o papa Francisco.
«Rescisões amigáveis [despedimentos forçados] pagam imposto»,
dizem os jornais.
O mundo indignou-se agora com o saque aos milionários mafiosos do Banco Central do
Chipre, quando há muito que por cá já nos roubaram os subsídios, os
salários, o emprego... Na nossa infinita inconsciência, não nos
surpreenderemos (e muito menos nos indignaremos) se um dia destes os
governos se lembrarem de taxar os suicidas, a mortandade.
"rebanho: os órfãos do mal..."
«Lutei contra Hitler e fui eu que
ganhei», diz Stéphane Hessel.
Compramos todos as mesmas coisas nos
mesmos supermercados sem regatear, para
que os cínicos patrões que alimentam a
nossa inconsciência possam frequentar o
albergue de tetas de Nicósia como em
tempos os bordéis de Mexico city e
Alicante na desassombrada visão de Bresson.
Hoje decidi que todas as minhas energias
serão encaminhadas para fugir do
rebanho, sobreviver à mediocridade.
A velha Europa (personificada nessa
ardilosa União Europeia) está a agonizar
no seu leito da morte. Mais de 500
milhões de cidadãos ficarão
inevitavelmente presos à triste condição
de órfãos do mal, escravos — ainda — das
mesmas convicções que atiraram para o
degredo (a bastardia) comunistas e
árabes.
Agora, há uma crise em Itália porque o
povo está dividido. Crise, pois, porque
para os invejosos neoliberais só não há
crise enquanto puderem governar
sozinhos, quer dizer: enquanto houver
maiorias absolutas, enfim, ditadura.
Para esta gente, a vontade dos cidadãos
já não é respeitável. O povo deve ser cordeiro,
hegemónico...
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