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  Post 112 -  Junho de 2013  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

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um museu para o Eduardo

 

 

 

Defendi no passado sábado [8 de Junho], na Biblioteca Municipal de Amarante, a criação de um museu para o Eduardo. Certo de que, como muita gente ao longo de séculos, é necessário reconciliar o pensamento — ou a realidade — com a poesia, contrariando a ideia platónica muito bem traduzida por María Zambrano (A Metáfora do Coração, Assírio & Alvim, 1993), de que «perante a justiça, a poesia representa o engano.»

Afinal, é da mais elementar justiça celebrar «a poética da imagem» de Eduardo Teixeira Pinto.

 

 

 

foto EDUARDO TEIXEIRA PINTO Os Últimos, c. 1955.

 

 

"Os últimos" são as três figuras principais de um quadro em volta da Praça da República (mais conhecida por Largo de S. Gonçalo), emoldurada pelo mosteiro, os claustros e a varanda dos reis, o Tâmega, a ponte velha e a Igreja de S. Domingos (ou Igreja dos Aflitos), e ainda o Café-Bar, que compõem o magnífico centro histórico de Amarante. Mesmo a hora tardia (o relógio da torre assinala meia-noite menos vinte), eles resistem aos sinais de um inverno húmido, com os reflexos e o brilho das pedras da calçada, e também a vertical indumentária dos homens, em levitação, que dão a perceber que não se tratava de um fogacho de lua num Agosto de gota e de mosca. O cenário é iluminado por dois candeeiros públicos, com halos de orvalho ou de névoa, e ainda um foco de luz que já não existe, mas que nos anos (19)50 incendiava o relógio e a silhueta da igreja e ajudava o fotógrafo no milagre da criação.

Usou-se uma máquina Rolleicord V, com uma objectiva Xenar 3,5 e um filme Kodak Tri-X, provavelmente de 100 ASA (em vez dos habituais 400, pois percebe-se aqui uma estranha limpidez), 11 de abertura do diafragma e 2 segundos de exposição, sem a ajuda do tripé porque a mão firme do Eduardo Teixeira Pinto era secundada por um nariz carnudo onde a máquina se fixava.

"Os últimos" (os últimos a abandonar o café e ainda em amena cavaqueira) são o senhor Joaquim Coelho Oliveira (ainda vivo, nascido em 1933 e aqui apanhado com os seus 22 anos, à esquerda), Maurício Sampaio Machado (ao centro) e Manuel Luís Coelho (mais conhecido por Luisinho "do Osório").

O táxi (ou carro de praça, como lhe chamavam) é um Ford V8 100Cv Coupé Super Deluxe, provavelmente de 1945, com a matrícula AH-11-69, propriedade de dois dos três irmãos Queiroz: Emanuel, Rodrigo e Belchior. Rodrigo era pai do senhor José Ismael Queirós e avô da professora Anabela Queirós Magalhães, indefectíveis da actual tertúlia amarantina.

Por esta altura estava prestes a fechar-se o café, e dali haveriam de sair dentro de pouco tempo a senhora Dona Maria José Queiroz e o seu marido, o Belchior. Entravam no carro e seguiam para casa, poucos metros acima, pela 5 de Outubro até à rua da cadeia.

A fotografia concorreu ao prémio "Popular Photography", de Nova Iorque, em 1956.    

 

 

 

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!

 

 

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para o meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem

                                                         perdizes,

rocim engraxado,

feira cabisbaixa,

meu remorso,

meu remorso de todos nós...

 

ALEXANDRE O'NEILL

 

 

 

 

Papos de Anjo do meu derriço...

Derriço pode querer dizer, na acutilante metáfora de O'Neill, paixão ou pequenez. De uma destas duas interpretações devem os amarantinos recolher inspiração para criarem "um museu para o Eduardo", convictos de que se o fotógrafo tivesse nascido em Lisboa seria um dos maiores do mundo.

 

 

 

EDUARDO TEIXEIRA PINTO

A Poética da Imagem #12 fotografias

 

 

 

_______

"Eduardo Teixeira Pinto"

Eduardo Teixeira Pinto (1933-2009) nasceu em Amarante. Começou a tirar as suas primeira fotografias muito cedo, ainda no tempo dos estúdios da Foto Arte, propriedade da família, e herdou do seu pai — também fotógrafo — o prazer de fotografar. A sua longa experiência de toda uma vida e o seu olhar poético sobre a realidade fizeram de si um dos melhores e mais galardoados fotógrafos portugueses do século XX. A sua obra aborda diversos temas, com destaque para a Natureza e a figura humana, que tão bem soube conciliar. Em 2010, numa edição póstuma, publicou-se o livro A Poética da Imagem, que constitui uma primeira recolha do seu imenso espólio fotográfico.

www.eduardoteixeirapinto.com

 

"Papos de Anjo"

Papos de anjo são doces típicos portugueses, da tradição de doces conventuais, também enraizada em Amarante desde o séc. XIII. Feitos à base de gemas de ovos, conta uma lenda antiga que as freiras clarissas utilizavam as claras dos ovos para ajudar a engomar a roupa e serviam-se depois das gemas para confeccionarem os papos de anjo. Em Évora, Viseu e na Ilha Terceira, nos Açores, os papos de anjo são feitos com calda de açúcar, em Mirandela com doces de frutos, e em Amarante, desde os tempos do Convento de Santa Clara, com miolo de amêndoa, untados com manteiga, recheados com gemas de ovo, dobrados em folhas de obreia (papel de hóstia) e polvilhados com açúcar. Calda de aguardente e canela, leite de cabra ou de vaca, doce de cereja e ginjinha são outros ingredientes das imensas variedades de papos de anjo em Portugal e no Brasil.

 

"Convento de Santa Clara de Amarante"

Dá-se o caso de Amarante possuir um convento de freiras clarissas (séc. XIII) e um mosteiro de frades dominicanos (séc. XVI), este, fundado num antigo eremitério, onde é a actual igreja de S. Gonçalo, com uma arquitectura de tal forma virtuosa que terá servido de inspiração para muitas construções religiosas na vizinha Galiza.

Fundado por volta de 1227 por D. Mafalda Sanches (ou Infanta Santa Mafalda de Portugal, filha de D. Sancho I, também Rainha de Castela, beatificada em 1793 por Pio VI), o Convento de Santa Clara de Amarante — onde terão sido confeccionados os primeiros papos de anjo — foi lugar de recolhimento de freiras mantelatas, da Ordem Terceira. Foi destruído pela barbárie dos soldados de Napoleão, em 1809, e extinto por decreto de 6 de Maio de 1867, quando ali já só vivia a sua última abadessa, madre Ana Augusta de Lacerda Castelo Branco, que transitou para o Convento de Santa Clara do Porto. Depois, o Convento de Santa Clara de Amarante foi transformado em Casa da Cerca e actualmente acolhe a Biblioteca Dr. Albano Sardoeira, Arquivo Municipal.

Consulta: DANIEL JOSÉ SOARES RIBEIRO, Mosteiro de Santa Clara de Amarante — História, Património e Musealização. Coimbra, 2011. [descarregar PDF - 17Mb]

 

 

Relacionado [ manual de sobrevivência VI ]

 

 

 

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