a vida não é para cobardes
[ ou a vidinha e outras notícias
como diria O'Neill
]
Vem aí Setembro. Outra vez.
É preciso encomendar lenha seca...
Gelman,
Prémio Cervantes: «Se me dessem a escolher, escolheria/ esta
saúde de saber que estamos doentes,/ esta felicidade de andarmos tão
infelizes. (...) Aqui acontece, senhores,/ que jogo com a
morte.»

Venus (2006), de Roger Michell, com Peter O'Toole e Leslie
Phillips.
Direcção
de fotografia de HARIS ZAMBARLOUKOS
já houve tempo
em que jogava com a morte
passei longos anos a ouvir sonatas
surdas de
Beethoven.
hoje regresso a
Vivaldi sinfonia (anacrónica) da
Primavera.
a cama feita a roupa lavada a
mesa posta a mulher saciada.
lá fora as crianças saltam aos limoeiros da horta do vizinho:
na sua instante ingenuidade haverão que ensaiar o
amargo de algum dia.
a televisão desligada.
como diria Roger Michell em Venus, a felicidade devia ser
exterminada!
ANTERO DE ALDA
inédito
11 JUL 2012
_______
"O'Neill"
Alexandre O'Neill: «Ao lado do homem vou crescendo/ Defendo-me da morte quando dou/ Meu corpo ao seu desejo violento/
(...) Ao lado do homem vou crescendo/ E defendo-me da morte povoando/ de novos sonhos a vida.»
E de novo a riqueza vacuosa
(Ian McEwan) ou essa espécie de «inocência voluntária dos
satisfeitos», segundo Luís Coelho.
Aviso: o hipócrita faz o ninho nas barbas do cobarde.

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