A guerra é o grande alicerce da sociedade
pós-moderna. A guerra ou a ideia da sua iminência. Tudo se faz e se
desfaz a pensar nesse fantasma. Afinal, no fantasma da guerra e no
fantasma do dinheiro...
«Numa economia de guerra a morte é um bom negócio, a pobreza é boa para a sociedade e o poder é bom para os políticos.»
MICHEL
CHOSSUDOVSKY e
ANDREW
GAVIN
MARSHALL
'The Global Economic Crisis. The Great Depression of the XXI Century' Montreal, 2010.
«Costuma-se dizer que as más ideias florescem porque atendem aos interesses de grupos poderosos.»
NOAM
CHOMSKY
'O lucro ou as pessoas'
São Paulo, 2002.
O maior erro da civilização actual é defender um
sistema que em vez de servir os injustiçados, os doentes, os idosos,
os trabalhadores e as crianças serve-se destes para criar economias de
sucesso. Michel Chossudovsky e Andrew Gavin Marshall definem isto
com uma frase: «os pobres são feitos para combater os
pobres» ('The Global Economic Crisis. The Great Depression of the XXI Century', Montreal, 2010).
Poderia dizer-se o mesmo de outra maneira: os pobres são um produto
do mercado, existem e devem ser cada
vez mais, porque é do seu trabalho e das suas necessidades básicas que floresce o negócio dos ricos. Eis uma má ideia, pois. Mas, como diz Chomsky, são as
más ideias que — tal como a pobreza — servem os interesses dos poderosos.
É esta má ideia, aliás, que Georg Simmel define como ausência de
liberdade, sendo que para ele a liberdade é «o carácter inconfundível que mostra aos demais que o nosso modo de vida não nos é imposto por
outros» ('Fidelidade e Gratidão e outros textos',
Lisboa, 2004).
Perguntamo-nos frequentemente porque é que a China,
que acreditou ter sido um baluarte marxista e agora é uma
superpotência que compra títulos de dívida dos países em falência,
não inventou ainda máquinas capazes de substituir o trabalho
infantil...
Este, porém, não é um
problema isolado.
O Capitalismo, implementado com
sucesso nos países sobrepovoados e subdesenvolvidos — onde a liberdade dos
indivíduos não depende tanto de si mesmos, mas de um sistema
que lhes é imposto
(uma
necessidade, um
negócio, uma guerra...) —, tornou-se tão obscuro quanto mortífero, a partir da fraude
institucionalizada, da publicidade e da manipulação dos media, das transacções
financeiras virtuais realizadas nos grandes mercados de
acções... Assim, com o argumento de que se deve deixar a economia
seguir os seus passos (a liberdade da economia parece estar acima da
liberdade das pessoas), quem vence é a própria economia — essa
criatura abstracta que esconde, sob o diáfano manto de poder dos
políticos, os grandes negócios do petróleo, das
indústrias multinacionais, dos gestores e especuladores financeiros,
prostíbulos
e senhores da guerra.
Vence a economia,
ou... a ausência dela. Os
indivíduos (as pessoas
e os seus valores morais) foram banidos em nome da competitividade.
E por consequência outra vez a guerra...
Pesquise-se na Web
por Barack Obama, Durão Barroso e Jean-Claude Trichet.
Veja-se os
resultados e volte-se a pesquisar sobre estes. E pesquise-se ainda e
ainda...
MURAL
PÓS-MODERNO (e
m
construção).
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uma figura para este mural
texto
«O inferno nada pode contra os pagãos.»
ARTUR RIMBAUD
'Uma estação no Inferno'
Original de 1873.
Um mural pós-moderno, um mural com bestas que
fomentam esta barbárie geral em nome da sua particular «fatalidade de felicidade»
só pode ser um mural apocalíptico.
Mas um homem que quer mutilar-se é também um
condenado. Saibamos honrar-nos: «o inferno nada pode
contra os pagãos».
______
Um homem que quer mutilar-se é também um condenado, diz
Rimbaud. Teremos as nossas dúvidas a partir do que cada um entender
por 'mutilação'. Acabo de ler uma entrevista que o escritor
britânico Ian McEwan deu ao semanário 'Expresso', a 3 de Novembro de
1990, e percebo como a riqueza vacuosa — uma espécie de
«inocência voluntária dos satisfeitos» (segundo o entrevistador Luís
Coelho) — pode levar à culpa. Teses literárias, ainda por cima
kafkianas, que não comovem os pós-modernos: a arte que não se vende
não faz parte dos códigos de honra da economia. Permanece o sentido
que dou à frase: não nos deixemos vencer nunca, e muito menos por
algo em que não acreditamos.