as valquírias
Segundo a antiga mitologia nórdica, as Valquírias (Walküre,
que quer dizer “aquelas que escolhem os que devem morrer”) eram formosas
virgens guerreiras que cruzavam os céus em cavalos alados e armaduras
brilhantes, resplandecendo de tal modo no espectro celeste que se
confundiam com a Luz do Norte — a Aurora Boreal. Ao serviço de Odin (o deus dos deuses, da sabedoria, da guerra e da morte),
ficaram associadas
ao nascimento do império germânico, fundado na nobreza da raça ariana.
No século V as Valquírias figuram ainda na
efabulação das batalhas de Átila, rei dos Hunos, conhecido por Praga de
Deus e saqueador das províncias da Europa.
Todos os homens veneram a sua Valquíria
(a Morrigan na mitologia celta, a Fravashi persa, a Bellona
entre os romanos…), mas nenhuma possui a venerável eloquência de Atena, do círculo dos doze deuses olímpicos na
mitologia grega. Aliás, há registos de antigas e modernas
Valquírias horríveis — velhas, gordas, displicentes e rancorosas...
Em 1870 Richard Wagner estreou no Teatro
Municipal de Munique a ópera de título "O Anel do Nibelungo", onde se destaca a célebre Die Walküre,
popularmente conhecida por Cavalgada das Valquírias.
Valquíria foi também o nome
de uma operação militar que visou derrubar Hitler e terminou com o golpe
falhado de 20 de Julho de 1944. Nesse mesmo dia os quatro oficiais
directamente envolvidos foram acusados de traição à Pátria e executados.
Finalmente, em 1979 Francis Ford Coppola utilizou a Cavalgada das Valquírias de Wagner como fundo
musical para o ataque aéreo com uma esquadra de poderosos helicópteros Huey, Little Birds
modificados e caças F-5A sobre uma
aldeia do Vietname no filme Apocalypse Now.
«Tecemos, tecemos a teia da lança,
Enquanto vai adiante o estandarte dos
bravos.
Não deixaremos que ele perca a vida;
As Valquírias tem o poder de
escolher
os aniquilados...»
Canção das Valquírias
na mitologia nórdica.

Jovens da academia da Bund Deutscher Mädel
(Liga das Raparigas Alemãs).
Potsdam, Maio de 1935.
foto GEORG PAHL/Bundesarchiv
1.
Traidor de Atenas
Circulam por estes dias na Grécia desenhos
satíricos que comparam a chegada da "troika" da UE com a invasão das tropas de
Hitler durante a II Guerra Mundial. O novo primeiro-ministro grego é
apresentado como um traidor à Pátria, e já em Outubro o cartoonista Stathis Stavropoulos
declarava à agência Reuters: «os desenhos mostram que aquilo que a
Alemanha não fez com as armas na Segunda Guerra Mundial está agora a
fazer através dos meios económicos.»
2.
Admiráveis caciques
Aos portugueses, admiráveis caciques da União
e já tão pobres e deprimidos como os
gregos, o ridículo presidente da Comissão Europeia advertiu, em
declarações à televisão do Estado: «Portugal poderá ter bons
resultados económicos em 2013», mas para isso terá de adoptar «provavelmente
medidas adicionais...»
Regresso a Berlim, Março de 1945. Quando as
tropas de Estaline chegam à capital, já toda a Alemanha estava em
ruínas. Conhecedores das atrocidades indescritíveis do exército russo,
milhares de soldados nazis desfaziam-se das suas fardas e atiravam-se ao rio Elba para se renderem
aos americanos estacionados na outra margem. No Elba, no Spree, no Havel, no Reno e no Danúbio morreram
afogadas centenas de
mulheres que fugiam das ameaças de violação
pelos bravos cossacos comunistas.
3.
A Primavera da Europa
Na Grécia, a tentativa de referendo à moeda
única foi travada pela ameaça da bancarrota. Sem recurso ao voto, Lucas
Papademos sucedeu a Papandreou com a promessa de retomar os acordos com os países da zona euro e pagar a dívida.
Igualmente dispensando o voto popular, na Itália
o primeiro-ministro Berlusconi foi substituído pelo ex-comissário Mario Monti, com o apoio do
novo presidente do Banco Central Europeu.
Pois, se o povo não sabe escolher os seus
líderes (as Valquírias é que têm o poder de
escolher os seus heróis e as suas vítimas), os analistas admitem agora que
vários outros chefes de governo democraticamente eleitos na Europa venham
a ser também afastados nos próximos meses e substituídos por tecnocratas
ao serviço dos interesses dos mercados: a democracia e os direitos dos
cidadãos (os direitos dos trabalhadores e das crianças que sustentam as «economias
emergentes», como acontece na admirável Primavera da China) serão
sacrificados.
Heráclito dizia: «a guerra é a mãe, rainha e
princípio de todas as coisas.» Recorde-se o que os oficiais nazis
ensinavam aos adolescentes da 12ª Divisão Panzer
SS Hitlerjügend, chamados a defender a
pátria quando o próprio Führer já se preparava
para o suicídio no seu bunker de Berlim: «Genießt den Krieg, denn der Friede wird schrecklich». Quer dizer: aproveitem a guerra,
porque a paz será terrível...

anterior
|
início
| seguinte
|