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  Post 033 -  Junho de 2010  

 

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o artifício da usura

 

 

 

Giotto era um homem pequeno, e segundo cientistas e historiadores poderá ter padecido de alguma forma de nanismo. Provavelmente, foi resultado disso que o seu amigo Dante lhe perguntou, certo dia, em frente dos seus oito filhos: «Como é que é possível, mestre Giotto, que faça pinturas tão belas e crianças tão feias?».

Consta que Giotto respondeu assim: «As pinturas faço-as de dia e as crianças faço-as... de noite.»

 

«O sono da razão produz monstros.»

GOYA

 

 

 

pormenor do Juízo Final de GIOTTO na capela da Arena (capela Scrovegni), 1303-06.

 

Enrico degli Scrovegni, o corrupto de Pádua, exigiu ser pintado oferecendo a miniatura da sua obra (carregada aos ombros de um clérigo) à Virgem Santíssima.

 

 

 

 

 

Como em 'Los Caprichos' de Goya — aludindo à miséria, à maldade, à corrupção, ao comportamento pecaminoso de muitos apóstolos da Igreja, à ineficácia da justiça e da educação... —, também em alguns símbolos nos frescos de Giotto, cerca de 500 anos antes, já se percebia a mesma visão pessimista sobre a natureza humana, nos sete vícios profanos (ao lado das sete virtudes divinas): loucura, inconstância, ira, injustiça, idolatria, inveja e desespero. Cada um no seu tempo, Giotto e Goya romperam com rígidas tradições artísticas, e através de poderosas metáforas ilustraram a vida contemporânea, como a de certos cristãos, que — cansados das inúmeras proibições da religião e pouco confiantes num lugar fácil no círculo celestial — se entregavam sem escrúpulo aos prazeres terrenos. Mas, se assim foi, porque não consta a usura na famosa lista de vícios do Juízo Final na capela da Arena?

 

 

Reprimida pela Bíblia e considerada, por Sisto V, como «um pecado contra Deus e contra os homens», a usura é fortemente condenada por budistas e Maomé, por Platão, Aristóteles, Séneca, Plutarco, S. Tomás de Aquino... No tempo de Giotto, Clemente V tinha os usurários como hereges e blasfemos, e Dante Alighieri (A Divina Comédia, 1314) colocou-os no sétimo círculo do mapa do Inferno. A igreja recusava-lhes todos os sacramentos, até o último, da santa unção.

 

 

 

 

«Com usura homem algum terá casa de boa pedra (...)

Com usura homem algum terá paraíso pintado na

                                   parede de sua igreja.»

EZRA POUND, Canto XLV.

 

 

Giotto di Bondone (Colle di Vespignano, 1267-Florença, 1337) revolucionou a pintura com a introdução da perspectiva, humanizando as figuras dos santos através da ilusão da tridimensionalidade. Aceitou, em princípios do século XIV, a encomenda de um tal Enrico degli Scrovegni, um homem poderoso que herdou do seu pai um negócio lucrativo que consistia no empréstimo de dinheiro com juros exorbitantes.

 

Perseguido pela ira popular e mal visto pela hierarquia católica, Enrico procurou redimir-se mandando construir uma vistosa capela assimétrica, muito próxima do velho convento de Pádua onde os frades cultivavam a virtude mais querida da primeira geração dominicana, a pobreza.

 

A Giovanni Pisano, autor do imponente púlpito da Catedral de Pisa, encomendou a sua própria estátua, e a Giotto, considerado o melhor pintor da época (e para muitos um dos maiores de sempre, ao lado de da Vinci e Rafael), impôs que o seu retrato figurasse num dos quadros do Juízo Final. Contra as recomendações de Dante, que inspirou a obra, ficou omitido, no lugar dos vícios, o pecado do homem rico. Pouco antes de morrer, em 1304, o próprio Bento XI concedeu indulgências a quem visitasse a nova capela Scrovegni, e há quem acredite que a sua curtíssima carreira papal foi interrompida por mãos implacáveis que discordavam de tamanha bondade.

 

Servindo-se da cegueira da justiça ou do sono da razão, os poderosos de hoje usam ainda o secular artifício da usura para satisfazer caprichos pessoais ou atalhar caminho em direcção ao céu.

 

 

______

A Igreja, a usura, a lei e a burla

Durante a Idade Média era autorizada aos tribunais da Inquisição executarem os cristãos que praticassem a usura, permitindo-se-lhes ficarem com os seus bens em troca da salvação das almas. Tida como uma espécie de servidão ao dinheiro, e por isso condenável segundo os evangelhos («ninguém pode servir a dois senhores», Mateus 6:24), a Igreja tinha por usura qualquer empréstimo de dinheiro com obrigação ao pagamento de juros, mesmo baixos, pois considerava-se que o usurário ganhava sem esforço sobre um tempo que só a Deus pertence.

Porém, na parábola do mordomo infiel (Lucas 16:1-8), depreende-se que já nesse tempo as leis — mesmo divinas — existiam para ser vencidas: o velho hábito burguês levava o usurário a registar bastante mais do que o valor realmente emprestado, para poder obter lucros no momento de receber o dinheiro da dívida.

 

 

 

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que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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