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  Post 104 -  Abril de 2013  

 

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as Madalenas de Caravaggio

 

 

«La Maddalena lasciva e penitente.»

GIOVAN BATTISTA ANDREINI

Azzione drammatica e divota

Commedia dell’Arte, Milão, 1652.

 

 

 

CARAVAGGIO

Marta e Maria Madalena (ou A conversão de Madalena, 1597-98).

Todas as mulheres têm dentro de si uma Madalena. Em Caravaggio acontece o contrário: todas as Madalenas têm dentro de si uma mulher... Em A conversão de Madalena é a prostituta Fillide Melandroni que lhe serve de modelo.

 

 

 

Nas fogosas representações da pintura universal, todas as mulheres têm dentro de si uma Madalena: as que choram (as lacrimosas no calvário, de Giotto, Fra Angelico, Jan van Eyck, Masaccio, Rembrandt, Gauguin...), as reveladoras (no sepulcro, de Giotto, Fra Angelico, Jan van Eyck, Van der Weyden, Ticiano, Rembrandt e Luca Giordano), as que rezam (as adúlteras, desnudadas e penitentes de Ticiano, Corregio, Isenbrandt, Cigoli, Guercino e Corot), as convertidas e redentoras (que renunciam às vaidades, de Schedoni, Georges de la Tour e Giordano), as extasiadas (El Greco), as mães, as esposas e as marias (Van der Weyden, Mantegna e Lucas Cranach), as castelãs (Van der Weyden, Piero della Francesca e Cranach), as ícones (de Simone Martini e dos quadros da igreja ortodoxa russa), as iluminadas, que sobem aos céus (de Domenichino e Lanfranco), e ainda as angelicais (de Perugino e Da Vinci).

 

 

 

Nos quadros bíblicos há essa primeira Madalena, da costela, a Eva do pecado original, e uma outra, apaixonada e sensual, Sulamita (a preferida de Salomão, «porque melhor é o seu amor do que o vinho», in Cântico dos Cânticos, 1:2). Talvez a mesma que, mais tarde, já no Novo Testamento, se transfigura em Salomé (filha de Herodíade, princesa da Judeia, reclamando a cabeça de S. João Baptista), ou a que se torna amante de Jesus Cristo, ao mesmo tempo sagrada e profana e que ao mesmo tempo provoca os ciúmes dos apóstolos e orienta os discípulos mais temerários. Pelo meio, as viúvas, as virgens negras e as Madalenas octogenárias que ilustram laudes e rábulas medievais. E, por fim, aquela que se transforma em símbolo do amor (da soberba da vida, da cobiça dos olhos e da deleitação carnal, na apropriação do texto de Frei João Claro, Dos começos e raízes dos pecados, c. 1500), e avatar de Inês de Castro (na documentadíssima interpretação de Helena Barbas em Madalena - História e Mito, edição Ésquilo, 2008). 

Eis as verdadeiras Madalenas de Caravaggio: Fillide Melandroni e o rol de prostitutas recolhidas nas ruas de Milão, Roma e Nápoles para figurarem no Retrato de uma cortesã e Marta com Maria Madalena (1597-98), no Enterro de Cristo (1602-03), em A morte da Virgem (1605-06), e ainda em Maria Madalena em êxtase (1606), entre outras.

 

 

 

Michelangelo Merisi (1571-1610), de Caravaggio, foi pioneiro do Barroco e inspiração para Rubens, Velázquez, La Tour, Van Dyck, Rembrandt, Vermeer... ainda assim rejeitado durante séculos pela sua desvinculação da tradição etérea nas sagradas representações, quer dizer: uma figura barbuda e sinistra, alto, de tez sombria, de olhos negros e encovados, demasiado exuberante, enigmático e tão violento na pintura como no uso da espada.

 

Consta que, já perto do fim da vida, entrou numa igreja na Sicília e foi espargido com água-benta. «Para que me serve?», perguntou Caravaggio. «Para te salvar dos pecados venais», responderam-lhe. «Então é inútil, porque os meus pecados são todos mortais» (relatado em Caravaggio: Uma Vida Sagrada e Profana, de Andrew Graham-Dixon, 2010).

 

Na sua inexcedível aproximação à fatalidade do "filho de Deus feito homem", cometeu homicídio (dizem que com artes de espadachim fatiou os testículos de um tal Ranuccio Tomassoni, seu rival, cruel proxeneta de Roma), e por diversas vezes se redimiu em David e Golias, emprestando a sua cabeça ao decapitado.

 

Caravaggio viveu depressa e morreu exausto, na miséria, aos 38 anos. Foi ao mesmo tempo protagonista e vítima de amores e ódios, cobiça, inveja e traições. Retratos do próprio Cristo nas múltiplas visões das suas fotográficas Madalenas.

 

 

 

AS MADALENAS DE CARAVAGGIO #8 pinturas

 

 

 

_______

"rejeitado durante séculos"

Roberto Longhi, um importante historiador de arte italiano, promoveu em 1951 uma grande exposição sobre Caravaggio e os seus seguidores (Caravaggio e dei caravaggeschi, Palácio Real de Milão), que viria a revelar-se o primeiro contributo para a reabilitação do pintor depois de 300 anos de obscuridade.

 

"emprestando a sua cabeça": o Ecce Homo e A morte da Virgem

Como em David com a cabeça de Golias, era habitual Caravaggio servir-se do seu próprio corpo como modelo, recorrendo a espelhos. Em 1605, com Domenico Passignano e Cigoli, recebeu uma encomenda para pintar um Ecce Homo, mas o seu Cristo era um auto-retrato tão carregado de mau humor, que foi preterido a favor de Cigoli.

Em A morte da Virgem, concluído em 1606, Caravaggio usou como modelo uma plebeia, que alguns comentadores especulam ser o cadáver de uma meretriz, sua amante, que fora resgatada do rio Tibre, resultando inchada (uma virgem grávida) e desprovida de santidade. A pintura foi encomendada por Laerzio Cherubini, consultor jurídico do Pontifex Maximus Clemente VIII para a igreja das Carmelitas de Santa Maria della Scala, de Trastevere, nos arredores de Roma, mas suscitou a reprovação das autoridades eclesiásticas. O quadro mereceu primeiro o interesse de Rubens, passou depois pelas mãos de Carlos I da Inglaterra, o rei mártir da Igreja Anglicana, e Luís XIV de França, até chegar ao Museu de Louvre. É a maior tela de Caravaggio, onde Maria Madalena chora diante dos apóstolos. 

 

 

 

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