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  Post 029 -  Maio de 2010  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

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foto JACKO VASSILEV, The Dance of Zlatyo Zlatev, 1990

 

 

 

 

 

 

«A cancela está aberta.

Não pára de bater.

Está assim há anos. Bate, bate...

Este vento inferniza até aos ossos

e não há maneira dela se calar.

Ouviste?

Dantes ela não batia.

Arranjava-se!

 

 

Tenho que ir lá acima. Buscar uns pregos...

Não há maneira de te levantares daí.

 

O vento tolhe-nos. Dia e noite, noite e dia.

Nem sei se posso. Olha que não vou lá acima

há muito tempo.

Às vezes também chegam de lá

uns barulhos estranhos,

parece que há fantasmas cá em casa...

 

A cancela está a bater.

Acho que ainda há qualquer coisa no sótão.

Vou lá ver.

Levantas-te daí?»

 

Antero de Alda

Poema do amor crepuscular (inédito).

 

 

 

 

«Eu só poderia crer num Deus que soubesse dançar.»

NIETZSCHE, fala de Zaratustra

 

 

Se para alguns a velhice representa uma aproximação com Deus, a que antecede uma quase infinita sucessão de orações (reza-se pela absolvição dos erros cometidos, os próprios e os de quem se ama), para muitos outros já não é possível — como presume Steiner — restaurar o laço quebrado entre a palavra e o mundo, ou porque se tornou inviável conjugar o amor com a invenção do tempo futuro (o que tornaria a aventura mortal um pouco mais válida), ou simplesmente porque Deus se silenciou num momento decisivo das suas vidas e assim se impôs a sua ausência até ao fim. O suicida, porém, acredita — não raramente — que para a sua precoce vontade de morrer Deus participou de modo decisivo, o que o leva ao mais paradoxal dos ateísmos: a presença divina torna-se tão inevitável (para poder ser negada) quanto profundamente reprovável.

 

Quer Deus exista ou não, depois de Zaratustra a maior ausência de fé está na inumanidade total que reside na desconfiança do homem em si mesmo. Como, às vezes, no tédio mesquinho das nossas casas. Ou como em Auschwitz: para uns uma mentira, para outros o verdadeiro Inferno onde Deus inexplicavelmente se extinguiu.

 

 

 

O homem destrói-se até onde pode e só não é capaz de destruir (porque não domina) a sua própria morte. Porque, deduzindo outra vez de Georges Steiner, abrir portas e não saber fechá-las é o seu trágico destino.

 

Enfim, o mais temível ateu é aquele que não acredita em si mesmo, que se silencia perante a aberração que representa o seu próprio silêncio, que já não suporta o seu próprio peso para uma última dança.

 

É preciso beber..., disse Celan. É preciso dançar para estar no mundo.

 

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

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