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  Post 079 -  Abril de 2012  

 

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Ainda Dejours e ainda a civilização como fonte de sofrimento.

 

[ revolução IV ]

paraíso e brutalidade

                                                           

 

Um homem de 77 anos suicidou-se ontem na Praça Syntagma, em frente ao Parlamento da Grécia. Num bilhete que trazia no bolso tinha escrito: «Recuso-me a procurar comida no lixo, por isso decidi pôr fim à vida.» No mesmo bilhete, Dimitri Christoulas acusava o governo de «aniquilar qualquer esperança de sobrevivência», e apelava às armas.

Quer dizer: Pátria ou morte! Revolução ainda?

Na verdade, este farmacêutico reformado matou-se porque já não acreditava no próprio país, quer dizer, no inferno em que transformaram o seu paraíso.

 

 

 

foto HENRI CARTIER-BRESSON La villette, Paris, 1932.

 

 

 

 

 

«Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal.»

CHRISTOPHE DEJOURS

Jornal Público, 1 de Fevereiro de 2010.

 

 

   Christophe Dejours é um psicanalista francês especialista em psicologia do trabalho. Numa passagem por Lisboa, em Janeiro de 2010, concedeu uma entrevista ao jornal PÚBLICO, onde defendeu que o fenómeno dos suicídios no local de trabalho não está só relacionado com o sofrimento causado pelas novas exigências das regras empresariais e da competitividade, mas também com a falta de solidariedade entre trabalhadores, que resulta tanto da própria competitividade («O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho») como da impotência para contrariar as ordens de quem decide até sobre as expectativas mais pessoais. O suicídio pode ser, assim, resultado de múltiplas perdas (défice democrático, falta de afecto entre os pares e sonegação do direito a um salário justo e à propriedade que advém do rendimento do trabalho), e consequente solidão, que se projectam num sentimento insuportável de insatisfação pessoal.

  

   Ainda para Dejours, a brutalidade deste fenómeno suicida reside na escolha do lugar para colocar fim à vida: morre-se num certo lugar em função das expectativas (e da quebra dos laços criados) em torno desse mesmo lugar...

  

   Compreende-se, pois: a usura exercida sobre um cidadão que exige o direito à sua cidadania é igual à que se exerce sobre um trabalhador que exige o direito ao seu emprego ou sobre um reformado que exige o direito à sua reforma. Assim, morrerão ainda desta mesma maneira brutal muitas mais pessoas às portas do Parlamento, nas fábricas e nas empresas ou à sombra de uma árvore... quer dizer: nos seus paraísos, que entretanto outras pessoas malevolamente transformaram em infernos.

 

   Na Grécia, entre 2000 e 2008 registaram-se 366 suicídios, 507 só em 2009, 622 em 2010 e 598 até ao início de Dezembro de 2011. Christoulas, o suicida desta quarta-feira, 4 de Abril de 2012, escreveu também que não queria deixar dívidas aos seus filhos...

   Em Portugal, há já notícias de jovens que se autoflagelam em consequência da crise a que assistem no seio das próprias famílias. Haverá, de facto, maior paraíso e maior brutalidade?

 

 

[ revolução III ] andar para trás...

 

_____

Em benefício da economia grega, não convém que se repitam suicídios na Praça Syntagma, dizem. Assim, os políticos tenderão a abafar o efeito Dimitri Christoulas, não vá ele transformar-se no Mohammed Bouazizi grego, cujo suicídio levou à revolta na Tunísia e à queda de Ben Ali depois de 23 anos no poder.

Em Dezembro de 2010, Bouazizi, de apenas 26 anos, imolou-se pelo fogo alegando que os seus rendimentos não chegavam para sustentar a família; acabou por morrer a 4 de Janeiro de 2011. Em Outubro deste mesmo ano o Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov a cinco personalidades ligadas à Primavera Árabe (da Tunísia, Egipto, Síria e Líbia), entre as quais Bouazizi. Alguém acredita que os paladinos da Liberdade de Pensamento (os ideólogos do Euro e da austeridade) venham a fazer o mesmo em relação a Christoulas?

 

 

 

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que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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