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  Post 015 -  Novembro de 2008  

 

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os dias todos iguais, esses assassinos...

 

— querida Marina!

(«I'm just a patsy!»)

 

 

«Hoje penso que Lee foi morto para o impedirem de falar.»

MARINA OSWALD, viúva de Lee Harvey Oswald.

 

 

 

Marina com a mãe de Lee Oswald, em casa desta, na noite do assassinato.

foto ALLEN GRANT/LIFE

 

 

Quando o presidente Kennedy foi assassinado no seu carro presidencial numa praça de Dallas, às 12h30 do dia 22 de Novembro de 1963, a América estava dividida. De um lado, aqueles que acreditavam que o trágico episódio da Baía dos Porcos não tinha sido um mero acidente militar: o jovem presidente parecia-lhes pronto a condescender com Fidel (o ataque fora planeado em 1959, sob as ordens de Eisenhauer) e, a nível interno, preparava-se finalmente para enfrentar os interesses instituídos e a máfia ao mesmo tempo que defendia o movimento pelos direitos civis liderado por Martin Luther King. Do outro lado, aqueles que acreditavam na omnipresença do país, na ofensiva de McCarthy contra os comunistas, no poder do FBI às mãos de J. Edgar Hoover, nos velhos princípios das diferenças raciais e nas oportunidades dos negócios paralelos... incluindo o negócio das armas e a guerra no Vietname.

 

Na hora em que John Kennedy era baleado, Marina Prusakova, a esposa do presumível assassino, estaria provavelmente a preparar-se para almoçar, em frente da televisão, na casa de Ruth Paine, nos subúrbios de Dallas. Ruth, de 30 anos, falava russo; arranjou emprego a Lee Oswald, que vivia num quarto alugado no centro da cidade com um nome falso, e recolheu em sua casa a jovem Marina. Apesar de estranhar alguns comportamentos do marido (como o seu estilo reservado, a identidade falsa e uma tentativa de homicídio de um conhecido militar de extrema-direita, Edwin Walker, a 10 de Abril de 63), Marina, com apenas 22 anos de idade e dois filhos pequenos para criar, jamais pensaria que Lee Harvey Oswald poderia estar envolvido no assassinato do presidente dos EUA.

 

É certo que o FBI nunca conseguiu desvendar o mistério da morte de Kennedy. Esse foi, aliás, o maior fracasso da história da polícia de Edgar Hoover. Mas não é menos certo que, mesmo que o fizesse, dificilmente conseguiria apagar a tese da conspiração.

 

Duma maneira ou de outra, havia incontáveis indícios para envolver Oswald no crime do século: ele apresentava sinais de esquizofrenia desde a sua infância e chegou a ter acompanhamento psiquiátrico; tinha um historial militar com episódios pouco abonatórios e simpatizava com o Partido Comunista; foi desacreditado dos Marines por se ter apresentado em Moscovo para solicitar a cidadania russa; casou-se com a sobrinha de um alto funcionário comunista de Minsk e, já depois do seu regresso ao Texas, relacionava-se com um aristocrata russo que viria a ser assassinado em circunstâncias estranhas; estava empregado no School Book Depository do Texas, de onde supostamente partiram os tiros certeiros de 22 de Novembro; adoptou o nome de Alek Hiddell para alugar o seu quarto na cidade e comprar uma Mannlicher-Carcano, a mesma arma que foi encontrada no Book Depository... Por outro lado, há provas irrefutáveis de que ele também se relacionara com Jack Ruby (Jacob Rubenstein), o dono de clubes nocturnos que era conhecido pelas suas ligações à máfia de Chicago!

 

Assim, não ignorando o insólito do encontro entre Lee Oswald e Jack Ruby (metaforicamente ou não, de quem seria a arma que Ruby empunhava quando atirou mortalmente contra Lee na cave da sede da polícia de Dallas? E como justificar as mortes de Luther King, 5 anos depois, e Robert Kennedy logo a seguir?), a inconsolável Marina terá muitas razões para acreditar que mataram o marido para o impedirem de falar.

 

Exaustivamente pressionada pelo FBI nos dias, semanas, meses e anos a seguir ao assassínio de Kennedy («Eles sabiam quando eu ia ter o meu próximo período e quando deviam enviar-me o meu próximo namorado...», disse Marina, em 1988, aos jornalistas Myrna Blyth e Jane Farrel, do Ladies' Home Journal), a mulher do presumível assassino acabou por ser 'instruída' a corroborar a tese do atirador solitário, oficialmente imposta pela Comissão Warren que investigou o crime.

 

Para alimentar a fé n'O POLVO AMERICANO, não deixa de se poder acrescentar a este caso como a tantos outros infindáveis teorias e refutações: se lhe ensinaram russo enquanto era militar, não poderia Lee Oswald ter seguido para a Rússia como agente ao serviço dos americanos? Se tinha por hábito ler Marx, não poderia ter desejado tornar-se cidadão russo apenas por simpatia pelas ideias marxistas? Se obteve alguns favores de altos dirigentes na ex-URSS, não poderia ter-se transformado em agente-duplo? Se não teve dificuldades em regressar à América, não obteve para isso iguais favores de outros altos dirigentes americanos? Se mostrava simpatia pelo povo cubano (foi membro do Fair Play for Cuba Committee), não poderia condenar os planos do ataque americano a Cuba e aceitar de bom grado a aparente condescendência de Kennedy em relação a Fidel? Terá mentido à sua jovem esposa quando lhe disse que admirava Kennedy? E a sua velha arma da segunda guerra mundial poderia, realmente, produzir uma sequência de três tiros em somente 10 segundos?

 

Quando um homem se revolta nunca se revolta sozinho, é certo, mas esta é uma verdade figurada como tudo parece ser na América. De resto, o episódio de um insidioso americano que, solitariamente, acaba com a vida dum presidente e acaba por morrer às mãos de outro insidioso americano dificilmente encaixará numa história repleta de contradições. E a tese da conspiração (aliás, facilmente arquitectável à volta duma personalidade tão ambígua como a de Oswald), pode ganhar mais sentido quando se sabe que os irmãos John e Robert Kennedy se preparavam para atacar a máfia, a mesma que, através do patriarca Joseph, terá contribuído decisivamente para a ascensão do clã ao mais alto cargo da administração americana...

 

Seja como for, que papel atribuir à desgovernada Marina, a quem o próprio Oswald escondera a sua dupla personalidade de Dallas e já sugerira o regresso solitário a Minsk?

 

 Em todas as vezes que a viúva de Oswald era chamada pela Comissão Warren ou pelos intocáveis agentes do FBI, ela sentia-se angustiada com as ameaças de deportação e pelo medo de a tornarem cúmplice e de ser presa. Nem mesmo o seu segundo casamento (com Kenneth Porter, um modesto carpinteiro com quem viria a viver em Richardson, no Texas) lhe viria conceder algum sossego. Só a passagem dos anos permitiu a Marina Oswald Porter liberdade para poder reflectir sobre o único papel que lhe atribuíram na história e de que ela se mostra profundamente arrependida: o de contribuir para levar os americanos a acreditarem que Lee era um louco e que havia agido sozinho.

 

Mas, afinal, quem será a verdadeira Marina Nikolayevna Prusakova, esta estranha mulher russa que foi utilizada pelos americanos para encerrar o processo Kennedy?

 

Sobrinha de um alto funcionário do Ministério dos Assuntos Internos russo, casada à pressa com o confesso dissidente americano e colocada com este, dois anos depois e sem grandes dificuldades, no Texas, Marina confunde-se ainda hoje, para alguns, com uma espiã ao serviço da União Soviética para concorrer com as teorias do atentado fortuito e da conspiração mafiosa. Mas, mesmo que assim fosse, não estaria por detrás desta jovem de 19 anos (à data do seu casamento com Oswald) a mão impiedosa de um qualquer oficial varão ao serviço de uma super potência?

 

Como a teoria da conspiração assenta bem a russos e americanos em tempo de Guerra Fria, muito melhor a teoria da conspiração feminina assenta a todos aqueles que pensam que as mulheres, mesmo inocentes e atormentadas, possuem estranhos, perversos e diabólicos poderes, como o de serem as únicas a saber quem são os legítimos pais dos seus filhos...

 

Na conferência de imprensa promovida pela polícia de Dallas na noite em que foi preso, Lee Oswald gritou: «I'm just a patsy!», um termo utilizado pela máfia que quer dizer «bode expiatório».

Ninguém como Marina tinha tantas ou mais razões para dizer o mesmo!

 

 

 

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