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  Post 137 -  Setembro de 2013  

 

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o cortejo dos amortalhados

 

 

Seis anos depois da adesão à Moeda Única, o sistema bancário na Eslovénia está a dar os primeiros sinais de insolvência. Retoma-se o provérbio russelliano: «O homem que alimenta a galinha durante toda a vida desta é quem finalmente lhe torce o pescoço.»

Segundo notícias dos jornais, está a aumentar em Portugal a venda de moradias e apartamentos com preços acima de 1 milhão de euros. Os principais clientes são empresários brasileiros, angolanos, russos e chineses, que procuram privacidade e «energias positivas»: vistas exclusivas para o mar, carros de topo de gama na garagem e muito provavelmente prostitutas de luxo na cama.

No Brasil, dezenas de cidades têm estado nos últimos meses a ferro e fogo, com manifestações e protestos num crescendo de violência. Chamam-lhes «o grito dos excluídos».

 

A placenta do capitalismo selvagem não serve da mesma maneira todos os seus filhos: a uns alimenta, a outros devora.

 

 

 

 

 

foto CRISTINA GARCÍA RODERO A promessa de uma mãe, La Franqueira, Espanha, 1981.

 

O ritual de Nosa Señora da Franqueira

«Los padres de Jesús se presentan en el templo con lo que han recibido de Dios: con su hijo. Ese hijo es la palabra única que su madre dice, es el don que, por ella, Dios ha hecho a los pobres. Ese hijo, esa palabra, la madre nos la dice a todos, pues para todos la ha engendrado, para todos la ha dado a luz, para todos la ha amamantado, para todos la ha querido.»

Frei SANTIAGO AGRELO, Arcebispo de Tanger.

Guia del peregrino, Ano Xubilar da Franqueira, 2012.

 

 

 

 

 

«Ir no caixão em cumprimento de promessa é porventura sórdido e tenebroso. Mas os caminhos da fé e do desespero quando se cruzam originam um palco de gigantescas façanhas humanas.»

JOSÉ CARLOS CARVALHEIRAS

 

 

Pelo seu carácter macabro, a tradição da procissão dos caixões (procissão dos mortos-vivos ou cortejo dos amortalhados) foi abandonada na conhecida romaria da Senhora da Aparecida, em Lousada, no ano de 1994. Citando E. O. James (Le culte de la Déesse-Mère dans l'histoire des religions, 1960), o antropólogo Moisés Espírito Santo refere que este culto permitia aos fiéis alcançarem a fé perdida no nascimento, pressupondo graves maleitas congénitas ou estímulos demoníacos na primeira infância, ou ainda o afastamento da figura materna, logo substituída pelas diversas figuras de Nossa Senhora, como a Nossa Senhora da Aparecida, numa época em que a medicina não respondia adequadamente às ameaças incontornáveis do parto. Assim, à volta da imagem da mãe confluem «todas as modalidades da força mágico-religiosa, fecundidade, fertilidade, crescimento, morte e renascimento» (Moisés Espírito Santo, A religião popular portuguesa, 1990). Os amortalhados eram homens e mulheres, jovens e velhos, mas sobretudo crianças, que cumpriam promessas, seguiam em desfile atrás de grupos de bombos ou guardas a cavalo, ao som de marchas fúnebres intervaladas por melodias mais alegres que simbolizavam a vitória da vida sobre a morte.

 

 

Em tempos, o ritual cumpriu-se também em muitas localidades de Espanha: Póboa do Caramiñal, Santa Marta de Ribarteme, Nosa Señora do Viso e Nosa Señora de Amil. E também em Santo Cristo de la Agonia de Xende e Nosa Señora da Franqueira, segundo os magníficos registos fotográficos de Cristina García Rodero. Para o antropólogo galego Xosé Ramón Mariño Ferro, correspondia a uma certa forma de imaginação dos fiéis para negar a realidade da morte e, «neste sentido, o hábito de realizar procissões de caixões com toda a naturalidade deve tomar-se como uma maneira de ser bem sucedido no mundo, definitivamente, um sinal de sabedoria» (Mariño Ferro, Las romerías, peregrinaciones y sus símbolos, 1987).

 

Para José Carlos Carvalheiras (A procissão dos caixões na Senhora da Aparecida, revista OPPIDUM, número 1, 2006), o dilema que determinou a extinção desta tradição, baseado numa guerra entre o profano e o sagrado (ou entre o culto popular e a religião oficial), teve também a sua batalha filosófica, opondo Émile Durkheim («o que eu peço ao livre-pensador é que se coloque face à religião no estado de espírito do crente...», em A ciência social e a acção, ed. Difel, 1975) a Georg Simmel («reagir racionalmente, aprofundando a sua consciência e adoptando uma reserva mental, uma indiferença implacável...», em A metrópole e a vida do espírito, 1903).

 

 

 

Hoje [ 12 de Setembro de 2013 ], a Euronews, citando um relatório da Oxfam Internacional, refere que «as políticas de austeridade podem conduzir mais 25 milhões de cidadãos da União Europeia para a pobreza até 2025.» O documento desta organização que luta contra a pobreza, com o título A cautionary tale: The true cost of austerity and inequality in Europe, é prefaciado por Joseph Stiglitz, Nobel da Economia em 2001 e antigo economista-chefe do Banco Mundial, que diz: «A austeridade (...) está a contribuir para a desigualdade que vai tornar as fraquezas económicas mais duradouras e contribuir, desnecessariamente, para o sofrimento dos desempregados e dos pobres por muitos anos.»

 

 

No cortejo dos amortalhados de Nossa Senhora da Aparecida seguiam também, nas décadas de 1960 e 1970, soldados que sobreviveram às guerras coloniais de Angola, Guiné e Moçambique ou as suas mães, tal como no Vietname, na Bósnia, no Iraque, nos territórios das guerras islâmicas e agora nas praças de Nova Iorque, Paris, Grécia, Portugal, Brasil (o grito dos indignados, o grito dos excluídos ou o grito das mães inúteis).

O que prevalece e confunde nesta pós-modernidade é esta ideia de que morrer ou ser morto é a mesma coisa, sugere o mesmo mecanismo formal da «hospitalização» (Frei Geraldo J. A. Coelho Dias, O sonho da escada de Jacob, 2001), e exige o mesmo processo de intermediários, que transformam a tragédia num negócio destituído de pureza e de solidariedade: «o acto de velar os mortos na urbe, nas sociedades individualistas da solidariedade orgânica, é circunscrito, escondido, oficial, orgânico, instituído» (José Carlos Carvalheiras, op. cit., p. 111).

 

Assim, não se estranha que, para alguns, sofrer é uma banalidade.

 

 

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