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  Post 020 -  Junho de 2009  

 

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a Europa no divã

 

 

«Desde há anos que a coisa Berlusconi tem vindo a cometer delitos de variável mas sempre demonstrada gravidade. Além disso, não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e particulares, de político, empresário e acompanhante de menores (...)

 «Este é o caminho da ruína para onde estão a ser levados por arrastamento os valores que liberdade e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi, esses que fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia espiritual da Europa e dos europeus...»

JOSÉ SARAMAGO, Nobel da Literatura 1998.

 

 

 

 

Berlusconi com a mulher, Veronica Lario.

foto SUSAN WALSH/AP, 2004.

 

 

 

Sílvio Berlusconi (72), o controverso primeiro-ministro italiano, está em processo de divórcio, porque a «sua» mulher não terá suportado as sucessivas infidelidades. O escândalo (se é de escândalo que se fala...) envolve jovens desfloráveis e outras acompanhantes menos castas, que se fizeram pagar para satisfazer as catarses do novo Calígula de Roma. A notícia daria um medíocre folhetim passional (duvida-se que os círculos do poder admitam que algumas das raparigas eram menores de idade), não fosse a velha comunidade continental ser ameaçada pela invasão de 22 jovens actrizes, bailarinas e modelos nas listas do partido do Povo pela Liberdade ao Parlamento Europeu. Pasquale Della Torca, um jornalista italiano conhecido por denunciar a preferência de Berlusconi por 'meninas de calendário', naturalmente preocupado com «o nosso país, os nossos jovens e os nossos ideais», admite: «Siamo al caso psichiatrico» (somos um caso psiquiátrico).

 

 

 

A Europa é, ainda, falocêntrica. Contrariamente às expectativas de décadas sucessivas de convívio com a simbologia psicanalítica, certas personagens desta geografia política parecem não saber ainda esconder os seus interesses em 'máscaras', tratar as pulsões libidinais como 'metáforas',  libertar-se do desejo reprimido pelo controlo dos 'prazeres'. O que sucede a este desprezo pela linguagem é um retorno ao primitivo freudiano. E também a Lacan — «La femme n'existe pas» —, talvez porque, em Itália como na França (Sarkozy, também ele, separado da «sua» mulher, trocada por uma modelo de segunda geração) o corpo funcional não é sexuado e, como diria Baudelaire (Mon Coeur Mis à Nu, 1897), «A mulher tem fome e quer comer, tem sede e quer beber, está com cio e quer ser fodida.»

 

Mas o nome de Veronica Lario tem lugar de destaque nesta história. Porque se, para os líderes da União, o corpo funcional (feminino) não é sexuado, para a mulher de Berlusconi o corpo sexuado nem sempre é funcional. Assim, quando o edifício do Parlamento Europeu se preparava para se transformar numa gigantesca sala de espelhos e as libidinosas deputadas petrificadas em pedestais como inúteis deusas da mitologia grega, a acção de Veronica foi decisiva.

 

Mas a Europa — falocêntrica — ainda não está curada. Retomando o anátema psicanalítico (não foi o despotismo dos líderes do Leste, onde a psicanálise esteve proibida, atribuído à falta do «talking cure»?), os grandes líderes da UE preocupam-se cada vez mais com os seus próprios umbigos e encomendam o elixir da eterna juventude. Porque, como diria Freud na sua famosa teoria das pulsões, o estado amoroso está irreversivelmente ligado ao narcisismo.

 

Como se sabe, n'As Metamorfoses de Ovídeo, Narciso, o auto-admirador, morre afogado na lagoa de Eco, apaixonado pelo seu próprio reflexo. Lançar-se-á também Berlusconi, por fim, às águas?

 

A Europa precisa de um divã. 

 

_____

Eduardo Prado Coelho («Freud ainda mora aqui?», EXPRESSO/Revista, 23 de Setembro de 1989) refere que uma refracção da psicanálise nos nossos dias deve incluir a «valorização do explícito em relação ao oculto, ou do pensável em relação ao impensado.» Segundo uma lógica determinista, não será por acaso que... Berlusconi simulou o seu casamento na Sardenha com uma jovem que contratou para o efeito, em 2008, a confiar no fotógrafo mexicano Antonello Zappadu, que garante ter imagens do acontecimento. Trata-se, naturalmente, de um exemplo de reescrita de Freud a partir da actual linguagem da acção (ainda nos termos de EPC). Uma acção, ainda assim, que pode ser interpretada como 'substitutiva': o sujeito transfere-se para outro lugar onde pode satisfazer, no imaginário, um desejo reprimido.

As fotografias de Zappadu foram confiscadas pelos tribunais italianos, o que tanto compromete politicamente a justiça na União Europeia como dá razão a Saramago: a 'coisa', como o Nobel da Literatura chama a Berlusconi, «não só tem desobedecido a leis como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses públicos e particulares, de político, empresário e acompanhante de menores...»

 

O próximo sonho

O próximo sonho de Berlusconi é ser Nobel da Paz, para o que alguns dos seus caciques já estão a trabalhar. Veremos se haverá, então, alguma lógica determinista baseada na acção que comprometa o Parlamento norueguês (que nomeia os membros do Comité do Nobel) com tamanha pulsão, tão execrável neurose.

 

 

 

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