bombas de açúcar

foto SUSAN
MEISELES/Magnum,
Nicarágua, 1978.
Durante o século XX a América Latina foi palco das
mais repressivas ditaduras: Fulgencio Batista em Cuba, Stroessner no Paraguai, Pinochet no Chile, Videla
na Argentina...
No
Brasil, um jornalista do Pátria Latina — uma publicação conhecida pelas
suas simpatias com Fidel Castro — recorda como todos estes regimes militares eram
pautados pela «intolerância, contrária à energia vital humana que tem sede de ser livre, criativa e bela»
(Beto Pinheiro, PL, 16 de Maio de 2010). A verdade é que,
após 50 anos
de convivência com o governo saído da Sierra Maestra, liberdade,
criatividade e beleza não são mais do que meras peças decorativas da semântica
revolucionária cubana.
Na Nicarágua, os camponeses rebeldes que lutavam
contra a feroz ditadura da família Somoza (a fotógrafa Susan
Meiseles, da Magnum, recorda os «cadáveres mutilados dos
opositores, torturados até à morte...»)escondiam-se na floresta, usavam máscaras inspiradas no folclore tradicional para não serem reconhecidos e faziam bombas
de contacto (minas) artesanais com pregos, pedras, pedaços de vidro e... açúcar.
Trinta anos
depois, para quem conhece as gigantescas plantações da
matéria-prima com que se fabrica o etanol e o espirituoso 'Flor
de Caña', é criminosa a indiferença do Estado e dos
patrões em relação aos milhares de trabalhadores que se tornaram portadores
da mortal insuficiência renal crónica (IRC). Não é
doce o trabalho que alimenta o lucrativo negócio da Nicaragua Sugar Estates Limited
nos grandes mercados internacionais...
«Democracia?... É
sempre preciso explicá-la.»
JORGE VIDELA
«A liberdade é pouco. O que eu desejo
ainda não tem nome.»
CLARICE
LISPECTOR
O tempo tanto serve para 'explicar' a democracia
(como o fez Jorge Videla, na Argentina, a cerca de 30 mil mortos e
desaparecidos em apenas 5 anos) como para exigir mais — muito mais,
como queria Clarice Lispector — daquilo a que
hoje chamamos liberdade.
______
Cuba começou a libertar os presos da Primavera Negra de 2003.
«Serão os primeiros passos para a verdadeira liberdade e democracia»,
disse Laura Pollán, líder do grupo de dissidentes 'Damas de Branco'.
Pouco antes, o presidente brasileiro Lula da Silva havia comparado os presos
políticos cubanos aos criminosos de S. Paulo...
Entretanto, Guillermos Fariñas pôs termo à greve de fome que mantinha há 135 dias:
iniciou agora uma dieta à base de gelatina, sopa, sumos e chá
com... açúcar.

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