magnífica guerra!

foto
NAMIR NOOR-ELDEEN/REUTERS, Mosul, Iraque, 2004.
New
York, July 13, 2007—The
Committee to Protect Journalists is deeply saddened by the killing
today of a New York Times journalist in Baghdad. Khalid W. Hassan,
23, a reporter and interpreter, was shot and killed in the south
central Seiydia district.
New York, July 12,
2007—The Committee to Protect Journalists mourns the deaths
today of a Reuters photographer and driver, who were killed in
eastern Baghdad during what witnesses described as a U.S. helicopter
attack. Photographer Namir Noor-Eldeen, 22, and driver and camera
assistant Saeed Chmagh, 40, were killed by a U.S. strike that
claimed the lives of nine other Iraqis in the Al-Amin al-Thaniyah
neighborhood, Reuters reported, citing a preliminary Iraqi police
report.
Segundo o
Committee to Protect Journalists,
no conflito do Iraque já foram mortos pelo menos 110 jornalistas e
repórteres fotográficos desde 2003. A estes, devemos juntar 58
mortos na Algéria (1993-96), 54 na Colômbia (desde 1986), 36 nos
Balcãs (1991-95), 36 nas Filipinas (1983-87), 22 na Turquia
(1984-99), 16 no Tajiquistão (1992-96), 15 na Serra Leoa
(1997-2000), 9 no Afeganistão (2001-04), 9 na Somália (1993-95), 7
no Kosovo (1999-2001) e 4 no Golfo (1991).
Conta-se que quando as tropas
americanas entraram no «pequeno campo de Buchenwald», a 11
de Abril de 1945, o general Eisenhower lembrou-se de pedir a alguns
fotógrafos do seu exército para registarem, com as suas máquinas de
bolso, os rostos dos prisioneiros esquecidos nos corredores da
morte. A mais célebre fotografia do Yad Vashem, o memorial israelita
do Holocausto, foi tirada no dia seguinte, por um tal Henri Miller
(de que se perdeu o rasto), porque Eisenhower estava convencido que
o mundo precisava de provas visuais para acreditar no que via.
Com apenas 16 anos, o jovem Elie, que para ali tinha sido
transferido pouco antes com o pai directamente de Auschwitz, era um
dos sobreviventes, corpos esqueléticos, minados pelo tifo e roídos
pelos vermes, carecidos duma última compaixão, talvez o lugar dos
três mil cadáveres descarnados que apodreciam nas fossas do anexo
Ohrdruf.
«Eu sou este», diz Elie Wiesel, apontando para o sétimo a
contar da esquerda na segunda tarimba.

A fotografia só veio
a público nos anos (19)80, através do «New York Times»,
e lembrou ao Nobel da Paz uma tal ausência de tudo que quase se
envergonhou de ter sobrevivido. «Será que o rosto que eu
aqui vejo ainda vive em mim? Penso que o verdadeiro Elie Wiesel,
aquele que viu a verdade nua, abrasadora, é aquele. (...)Não
gostaria que ele me renegasse...»
SEGUNDO A
REPORTAGEM DE MARIE-MONIQUE ROBIN/CAPA
[
FRIENDS
OF ELIE WIESEL ]
Na verdade, o que mais
impressiona na crueza das imagens que nos chegam dos repórteres de
guerra é essa «verdade nua», essa total «ausência de
tudo» (nas palavras de Wiesel) que corresponde à humilhação
absoluta dos retratados, sonegados de qualquer possibilidade de pose
e reclamação: velhos que choram a perda dos seus bens, pais e mães
debruçados sobre os corpos dos seus filhos moribundos... Estas
'provas' da realidade extrema só são possíveis quando os fotógrafos
'participam' na própria guerra, acabando, tantas vezes, por se
transformar em vítimas.
Se um jovem entusiasta de Fotografia se deixa impressionar mais
pelo produto do que pela realidade que este transmite, não podemos
colocar nesse gesto mais brutalidade do que nos milhares de jornais,
revistas e televisões de todo o mundo que abrem os seus noticiários
com imagens não autorizadas da barbárie explícita, à espera de um
olhar comovido ou indignado.
Técnica, consumismo ou indignação, para
uns e outros a guerra transforma inadvertidamente a Fotografia numa
montra tanto mais valiosa quanto mais famosos forem os nomes dos
fotógrafos envolvidos ou tanto mais trágico for o «momento
decisivo», como dizia Cartier-Bresson.

foto
JOHANNES ABELING, Faixa de Gaza, 2002.

foto ÉRIC BOUVET,
Grozni, Tchétchénia, 2000.
James Nachtwey, Éric Bouvet e Johannes Abeling são casos
paradigmáticos deste furor fetichista dos media, com uma
particularidade: eles não consomem a guerra, simplesmente
'participam' nela, testemunham-na, expõem-se à circunstância de
poderem vir a ser vítimas.
E, de certo modo, são-no: consta que a fotografia «Os civis»,
tirada por Bouvet em Grozni, na Tchétchénia, em Fevereiro de 2000,
foi vendida por cerca de 1500 euros no leilão realizado em Paris, no
Hotel Drouot Richelieu, em Novembro de 2001! Quanto não valerá agora
a fotografia tirada por Namir Noor-Eldeen no hospital de Mosul em
2004?...
Será a guerra magnífica?

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