Hoje fui tratado com imperdoável desumanidade.
Poesia! Onde se esconde a poesia? Eis-me, assim, uma espécie de castor macho,
castrado, existencialista e estrábico, de grandes incisivos afiados: «Detesto as vítimas
quando elas respeitam os seus carrascos.» Em suma: alguém
disparou um tiro, alguém tem de morrer.
ASSUNÇÃO ESTEVES
Assembleia da República, Lisboa, 11 de Julho de 2013
1. os carrascos num mundo ao
contrário
O governo deixou os portugueses a
pão e água, mas quando o povo clamava por "demissão!" na Assembleia
da República, a presidente do Parlamento citou a mulher de Sartre num
grito contra a opressão nazi: «Não podemos deixar, como dizia a
Simone de Beauvoir, que os nossos carrascos nos criem maus costumes.»
Agora, quer limitar o acesso do povo às galerias da Assembleia.
Sartre tem razão: quando os ricos
fazem a guerra são sempre os pobres que sofrem (ou, por outras
palavras: se nos roubam a liberdade, o que será de nós?)
2.
a tragédia, as vítimas e os cúmplices
Esta mulher, Assunção Esteves, que
sempre viveu à custa do partido, está reformada desde os seus 42
anos e recebe uma pensão de mais de sete mil euros mensais. Se temos
culpa? Claro que temos. Como
disse ainda Jean-Paul Sartre (Les mains sales, 1948), «metade vítima, metade cúmplice, como toda a gente.»
3.
Aqui vivem os mortos
Olhando
a esta distância, Auschwitz parece-nos um adorável cárcere.
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"Assunção Esteves"
Por si só, não valia a pena a preocupação.
É a terceira vez que esta mulher horrorosa cita indiscriminadamente
a mesma frase de Beauvoir (e esta, coitada!, é a mais ofendida). Tiros para o ar...
"aqui vivem os mortos"
Em latim: Hic mortui vivunt.
Inscrição numa ala de Auschwitz.
"um adorável cárcere"
Foi mais ou menos isto que pensou a
pequena Eva Schloss quando chegou a Auschwitz depois de ter vivido
escondida durante dois anos num sótão de uma casa na Holanda. Só
depois conheceu Josef Mengele. Também não perdoa os nazis.