o barco
dos sonhos





Imagens do
filme Titanic (1997), de James Cameron.
Direcção
de fotografia de RUSSEL CARPENTER
Duas
grandes improbabilidades — o naufrágio do Titanic e a história
de amor entre um jovem plebeu e uma rapariga da alta sociedade
britânica — transformam o filme de Cameron numa poderosa
metáfora do género humano...
Quando em Março de 1909, nos estaleiros da
Harland & Wolff, em Belfast, começa a ser construído o maior
navio do mundo, no extremo longínquo do mar polar as enormes
calotes ensaiam estranhos movimentos (nem os velhos marinheiros
se lembravam de ter visto tanto gelo assim, há mais de 50 anos),
e um gigantesco glaciar desprende-se do Árctico e inicia uma
lenta viagem, irrompendo pelos fiordes para estacionar no meio
do Atlântico Norte. Em Inglaterra, os jornais da época anunciam
a construção de um navio «inafundável»: 46.328 toneladas de
peso, 270 metros de comprimento e 28 de largura, mais de 11.300
operários envolvidos na sua construção seis dias por semana
durante 26 meses…
O majestoso titã britânico de dez andares,
inspirado na mitologia grega, iniciou a sua viagem inaugural a
10 de Abril de 1912, desde Southampton até Nova Iorque,
prevendo-se que alcançasse aquela cidade americana em apenas uma
semana; transportava 2.227 passageiros e podia movimentar-se a
cerca de 40km por hora! «Nem Deus afunda o Titanic!»,
afirmavam os seus construtores, da White Star Line.
O «barco dos sonhos» transportava sobretudo gente
rica, milionários que regressavam à elite da sociedade de
Filadélfia, mas também pequenos comerciantes e outros
passageiros que circulavam em terceira classe e apostavam na
viagem para encontrar melhores oportunidades de vida…
No momento da colisão, às 23h40 do dia 14 de
Abril de 1912, um nevoeiro intenso cobria as águas do oceano, só
iluminado pelas estrelas e pelas luzes do gigantesco navio.
Na sala de jantar do Titanic, o casal
Widner honrara o comandante Eduard Smith, que fazia a sua viagem
de despedida depois duma carreira repleta de glórias. Este,
recolhera-se no seu camarote poucos minutos antes.
Se o vigia do mastro, Frederick Fleet, tivesse
avistado o iceberg 30 segundos mais cedo, talvez o navio não se
tivesse afundado...
«O
modo como a banda continuava a tocar é algo nobre... A última
vez que os ouvi, já estava a flutuar no mar com o meu colete
salva-vidas; eles tocavam 'Autumn'. Como conseguiam fazê-lo não
posso imaginar!»
Relato de Harold Bride,
um operador da Marconi, que sobreviveu.
A tragédia fez cerca de 1500 vítimas, entre as
quais o comandante Smith e o engenheiro-chefe Thomas Andrews.
Bruce Ismay, o megalómano presidente da White Star Line,
embarcou num dos últimos botes de salvação… O mesmo destino não
teve a transportadora, que não sobreviveu e acabou por ser
vendida à sua principal rival, a Cunard Line, em 1940.
Curiosamente, foi um navio desta companhia, o Carpathia,
que socorreu as primeiras vítimas do Titanic...
A 1 de Setembro de 1985 uma expedição
franco-americana liderada por Robert Ballard encontrou os
destroços do Titanic, 150km a sul de Newfoundland, na
costa do Canadá, a 3.800 metros de profundidade. O barco
partira-se em dois.
Em 1898 um autor de ficção científica americano
relatara a tragédia de um navio imaginário que deslocava 70 mil
toneladas, media 800 pés, transportava 3.000 passageiros e
possuía um motor com 3 hélices; eram estes os números do
Titanic!
O ‘aviso’ havia sido feito.
De nada valem os sonhos dos homens sem o
consentimento dos deuses.

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