contacto

poesia

fotografia

home

 

  Post 138 -  Setembro de 2013  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

www.anterodealda.com

 

 

pesquisar neste blog

 

Recentes

 

o libertino

o editor pergunta-me...

          [ Mil vidas tem S. Gonçalo ]

 

 

Antigas

 

diário íntimo XXXV

o editor pergunta-me...

          [ Europa — fuck you! ]

diário íntimo XXXIV

diário íntimo XXXIII

diário íntimo XXXII

diário íntimo XXXI

diário íntimo XXX

diário íntimo XXIX

diário íntimo XXVIII

diário íntimo XXVII

diário íntimo XXVI

diário íntimo XXV

diário íntimo XXIV

diário íntimo XXIII

Europa, dá-me a minha estrela!

a Europa é um gulag!

os suicidas de Marpi Point

diário íntimo XXII

diário íntimo XXI

diário íntimo XX

diário íntimo XIX

diário íntimo XVIII

diário íntimo XVII

diário íntimo XVI

diário íntimo XV

diário íntimo XIV

diário íntimo XIII

diário íntimo XII

diário íntimo XI

diário íntimo X

diário íntimo IX

diário íntimo VIII

diário íntimo VII

diário íntimo VI

diário íntimo V

diário íntimo IV

diário íntimo III

diário íntimo II

diário íntimo I

já ninguém anda a pé [ IV ]

já ninguém anda a pé [ III ]

já ninguém anda a pé [ II ]

já ninguém anda a pé [ I ]

o trabalho não mata

o beijo do insecto

          [ Leopoldo María Panero ]

o estranho mundo de Edward Hopper

silêncio(s) sempre...

          [ António José Forte ]

silêncio(s) ainda... [ Sylvia Plath ]

silêncio(s)... [ José Agostinho Baptista ]

um estranho lugar de chuva

          [ homenagem a Pablo Neruda ]

não há só um Deus

o editor pergunta-me...

          [ a reserva de Mallarmé ]

o ministro foi às putas de pequim

manual de sobrevivência [ XXV ]

o comboio de... Cristina Peri Rossi

o tesoureiro de Leipzig

manual de sobrevivência [ XXIV ]

manual de sobrevivência [ XXIII ]

manual de sobrevivência [ XXII ]

e o lado oculto da Europa...

a Espanha oculta de...

          [ Cristina García Rodero ]

o cortejo dos amortalhados

EU — only for rich

a essência do Capitalismo

a essência de um Capitalista

os filhos do Diabo

manual de sobrevivência [ XXI ]

ódio à Democracia [ III ]

ódio à Democracia [ II ]

ódio à Democracia [ I ]

Warhol [ 85 anos ]

manual de sobrevivência [ XX ]

manual de sobrevivência [ XIX ]

manual de sobrevivência [ XVIII ]

taitianas de Gauguin

retratos de Van Gogh

nunca serei escravo de nenhum terror

as coisas [ Jorge Luis Borges ]

manual de sobrevivência [ XVII ]

manual de sobrevivência [ XVI ]

Portugal, noite e nevoeiro

o corno de Deus

manual de sobrevivência [ XV ]

manual de sobrevivência [ XIV ]

manual de sobrevivência [ XIII ]

a filha de Galileu

um museu para o Eduardo

manual de sobrevivência [ XII ]

manual de sobrevivência [ XI ]

Torricelli, Pascal, Hobbes, razão, utopia e claustrofobia

manual de sobrevivência [ X ]

manual de sobrevivência [ IX ]

os diabos no quintal

     [ histórias de homens divididos

       entre muitos mundos ]

o pobre capitalismo...

as Madalenas de Caravaggio

manual de sobrevivência [ VIII ]

o alegre desespero [ António Gedeão ]

manual de sobrevivência [ VII ]

manual de sobrevivência [ VI ]

manual de sobrevivência [ V ]

manual de sobrevivência [ IV ]

manual de sobrevivência [ III ]

sombras [ José Gomes Ferreira ]

Phoolan Devi [ a valquíria dos pobres ]

schadenfreude [ capitalismo e inveja ]

a vida não é para cobardes

europa

a III Grande Guerra

FUCK YOU!

EU — die 27 kühe [ as 27 vacas ]

europa tu és uma puta!

bastardos!

o daguerreótipo de Deus...

o honrado cigano Melquíades...

cem anos de solidão...

manual de sobrevivência [ II ]

o salvador da América [ Allen Ginsberg ]

o salvador da América [ Walt Whitman ]

[ revolução V ] as mães do Alcorão

[ revolução IV ] paraíso e brutalidade

[ revolução III ] andar para trás...

[ revolução II ] para onde nos levam...

[ revolução I ] aonde nos prendem...

o problema da habitação

cartas de amor

a herança de Ritsos

as piores mentiras

elegia anti-capitalista

da janela de Vermeer

manual de sobrevivência [ I ]

de novo o Blitz...

antes de morrer

as valquírias

forretas e usurários

           [ lições da tragédia grega ]

Balthus, o cavaleiro polaco

abençoados os que matam...

diário kafkiano

Bertrand Russell: amor e destroços

U.E. — game over

DSK: uma pila esganiçada

coração

kadafi

o tempo e a eternidade

Bucareste, 1989: um Natal comunista

mistério

o Homem, a alma, o corpo e o alimento

          [ 1. a crise da narrativa ]

          [ 2. uma moral pós-moderna? ]

          [ 3. a hipótese Estado ]

o universo (im)perfeito

mural pós-moderno

Lisboa — saudade e claustrofobia

          [ José Rodrigues Miguéis ]

um cancro na América

Marx, (...) capital, putas e contradições

ás de espadas

pedras assassinas

Portugal — luxúria e genética

rosas vermelhas

Mozart: a morte improvável

1945: garrafas

1945: cogumelos

bombas de açúcar

pão negro

Saramago: a morte conveniente

os monstros e os vícios

porcos e cinocéfalos

o artifício da usura

a reserva de Mallarmé

o labirinto

os filhos do 'superesperma'

a vida é uma dança...

a puta que os pariu a todos...

walk, walk, walk [Walter Astrada]

Barthes, fotografia e catástrofe

Lua cheia americana [Ami Vitale]

a pomba de Cedovim

o pobre Modigliani

o voo dos pimparos

o significante mata?

a Europa no divã

a filha de Freud

as cores do mal

as feridas de Frida

perigosa convivência

—querida Marina! («I'm just a patsy!»)

a grande viagem...

histoire d'une belle humanité

o coelhinho foragido

o sono dos homens...

«propriedade do governo»

os dois meninos de O'Donnell

o barco dos sonhos

farinha da Lua

o enigma de Deus

«nong qua... nong qua...»

«vinho de arroz...»

magnífica guerra!

a lei do Oeste...

Popper (1902-1994)

 

 

SnapShots

 

 

os dias todos iguais, esses assassinos...

 

a Espanha oculta de...

[ Cristina García Rodero ]

 

 

Parece haver nas fotografias da Espanha bíblica de Cristina García Rodero uma guerra latente entre o genuíno religioso popular e o culto da Igreja oficial, entre aquilo que María del Pilar Roca define como «a fidelidade à tradição» e «as tendências filosóficas de cunho racional», ou em última análise entre o crente «livre-pensador» da interioridade espanhola (segundo Durkheim) e a «reserva mental» do indivíduo da metrópole (Georg Simmel), separados por um processo de aculturação (ou "normalização") nem sempre pacífico, aliás, muitas vezes doloroso e com a sua dose de barbaridade, como lembra Walter Benjamin.

Recentemente, Cristina Rodero fotografou os príncipes Felipe e Letizia no luxo do palácio real...

 

 

 

 

foto CRISTINA GARCÍA RODERO

La confesión, Nuestra Señora de los Milagros de Saavedra, 1980.

 

 

 

 

«Con toda esa materia derrumbada

y el repetido rumor del reloj de la muerte

he construido este extraño reino:

espejos rotos donde el sol se refleja.»

JUAN LUIS PANERO

 

 

Cristina García Rodero (Puertollano, 1949) fez em Agosto de 2012 uma série de fotografias com a família de Felipe de Bourbon, Senhor de Balaguer, Conde de Cervera e Duque de Montblanc, no palácio de La Zarzuela, a residência oficial dos reis de Espanha, nos arredores de Madrid. É mais reconfortante supor que a fotógrafa procurou conciliar «as práticas exegéticas rabínicas do medievo» espanhol (nas palavras da antropóloga María del Pilar Roca) com a modernidade, do que deixar-se vencer pela voracidade desta mesma modernidade ou simplesmente satisfazer a vaidade burguesa dos príncipes das Astúrias, por terem sido fotografados pela única espanhola que até hoje conseguiu chegar aos quadros da mítica agência fotográfica Magnum. Seja como for, e como se deduz das entranhas dos versos de Juan Luis Panero (falecido neste 16 de Setembro de 2013), não é possível sarar todas as feridas...

De resto, em Espanha como em Portugal, há ainda uma dura guerra por travar, entre «pensadores judíos de la Modernidad» (como o filósofo Reyes Mate) e cristãos bárbaros germanos (segundo o historiador John Hirst) que parecem sustentar hoje a supremacia da Europa no mundo.

 

El Santo Entierro de Bercianos de Aliste, el auto de fe de Camuñas de Toledo, la rapa das bestas de Sabucedo, la caballada de Atienza, los empalaos de Valverde de la Vera, la procesión de "La Carrera" de Villarrín de Campos, los penitentes de Cuenca, los colinegros de Baena e los coloraos de Murcia, la pasión de Riogordo, los angelitos de Morella, los danzantes de Belinchón, el peliqueiro de Laza, las promesas de La Franqueira, los peregrinos de Usera, las mayordomas de El Cerro de Andévalo, los toros de San Juan de Cória, los robaculeros de Estella, las virgenes ofrecidas de San Martín del Pedroso, los diablos de San Blas de Almonacid del Marquesado, los amortajados galegos de Amil, etc. etc. etc. «A importância dos rituais festivos é um aspecto notável da vida espanhola, com uma força maior, em número e vitalidade, do que em qualquer outro país mediterrânico. Este fenómeno envolve manifestações (...) de antigas origens pré-cristãs», diz Marie-Loup Sougez em O pulso da história e a reflexão do quotidiano (v. Fotografia Documental Contemporânea em Espanha, Barcelona, 1991).

 

Cristina García Rodero percorreu o mundo e andou depressa no registo fotográfico desse «extraño reino» de Panero («la mirada profunda» segundo Rafael Sanz Lobato), a magnífica España Oculta, que serviu de título ao seu livro de 1989 e que venceu os prémios W. Eugene Smith FoundationBook of the Year de Arles. Esta, sim, é uma guerra que já quase se extinguiu.  

 

 

 

A ESPANHA OCULTA DE CRISTINA GARCÍA RODERO #29 fotografias

 

 

_______

"a fidelidade à tradição"

María del Pilar Roca é doutorada pela Universidade Autónoma de Madrid e professora de Literatura Espanhola na Universidade Federal de Paraíba, Brasil. Tem publicado diversos textos de investigação sobre cultura e filologia hispânicas, como A função das línguas vernáculas na construção do ocidente cristão (2006), O judaico na formação do estado de direito (2008) e Língua e tradição: judeus-conversos espanhóis leitores de São Paulo (2011). Em Uso e comunidade: a continuidade da tradição em Juan de Valdés e Martin Buber, estuda a tradição oculta do Ocidente através do vínculo entre língua e comunidade, referindo: «A Espanha do período medieval e renascentista manteve uma tendência próxima à compreensão comunitária das tradições graças à preservação das práticas exegéticas rabínicas do medievo que influenciaram no conceito de língua em uso. De igual maneira, na Europa central de inícios do século 20 se observa uma volta à exegese bíblica como necessário resgate da chamada tradição oculta do Ocidente. O estudo comparado de duas figuras, uma hispânica e outra austríaca, Juan de Valdés (1504-1541) e Martin Buber (1878-1965), ilustra o vínculo entre língua e comunidade. Assim como Valdés considera língua como uma experiência de uso responsável pela elaboração dos sentidos, Buber afirma que o referencial do significado não é a palavra, porém a comunidade.» (Revista Digital de Estudos Judaicos, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011).

 

"pensadores judíos de la Modernidad"

O filósofo espanhol Reyes Mate (Manuel Reyes-mate Rupérez, Valladolid, 1942) desenvolveu uma investigação abrangente sobre história e religião, baseada na exaltação da memória dos vencidos a partir do exemplo da perseguição aos judeus na Alemanha nazi e do testemunho de Walter Benjamin sobre civilização e barbárie: «nunca houve um monumento da cultura [ ou de civilização ] que não fosse também um monumento da barbárie.»

 

"a supremacia da Europa"

John Hirst, australiano, professor da Universidade La Trobe de Melbourne, publicou em 2009 The Shortest History of Europe (Breve História da Europa, na edição portuguesa da editora D. Quixote, 2013), onde defende uma polémica teoria eurocêntrica fundada na herança da Grécia Antiga, na religião cristã e sua ascendência sobre o judaísmo, e ainda na barbárie germânica, que predominou depois da conquista do Império Romano e que parece ressurgir nos nossos dias. 

 

"o pulso da história"

Marie-Loup Sougez, filha do fotógrafo Emmannuel Sougez, é uma investigadora francesa radicada em Espanha. Com Bernardo Riego, Lee Fontanella e Publio López Mondéjar, entre outros, contribuiu decisivamente para o estudo da fotografia espanhola na sua vertente sociológica, principalmente a partir da publicação do livro Historia de la fotografía (Madrid, 1981).

 

"la mirada profunda"

O fotógrafo Rafael Sanz Lobato (Sevilha, 1932) é considerado o mestre de Cristina García Rodero. Ignorado durante vários anos pelo regime de Franco e seus sucedâneos, foi galardoado em 2011 com o Prémio Nacional de Fotografia, «por su pericia para mostrar la transformación del mundo rural» (acta do júri, Ministério da Cultura de Espanha), apresentando-se hoje, ao lado de Cristina Rodero, como um pioneiro do realismo fotográfico de cariz antropológico capaz de interpretar o conflito entre tradição e modernidade.

 

"uma guerra que já quase se extinguiu"

É certo que muitas fotografias de Cristina García Rodero não seriam possíveis nos dias de hoje, mas releva-se aqui o seu estilo pessoal sem esquecer o que diz a antiga directora do Museu de Fotografia Contemporânea de Chicago, Denise Miller-Clark: «o estilo documental de hoje dá-nos a oportunidade de captar as contradições que ocorrem num país que está num momento de transição» (Fotografia Documental Contemporânea em Espanha, Barcelona, 1991). Da geração de Cristina Rodero, o fotógrafo Cristóbal Hara (Madrid, 1946) é um exemplo paradigmático da introdução da cor, a partir de 1985, no ritual espanhol que ainda persiste.

 

foto CRISTÓBAL HARA Arcos de La Frontera, 1997.

 

 

"extraño reino"

«Un sueño desolado y exacto

real e irreal como la vida

y una misteriosa escenografía,

inquietantes ilustraciones de novela gótica

o borrosas prisiones de Piranesi,

y entre ruinosos arcos, derrotados muros,

los rostros de algunos desaparecidos,

palabras imprecisas — sueño dentro del sueño —

y la mirada intensa de una mujer

salvada del tenaz estrago de los años.

La sensación de estar en un infierno helado

y, de pronto, al despertar la luz del sol,

inesperada y brillante luz de enero.

Con toda esa materia derrumbada

y el repetido rumor del reloj de la muerte

he construido este extraño reino:

espejos rotos donde el sol se refleja.»

JUAN LUIS PANERO, Extraño reino, 2002.

 

 

Post relacionado

[ O CORTEJO DOS AMORTALHADOS ]

 

 

 

 

anterior  |  início  |  seguinte

 

 

A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

webdesign antero de alda, desde 2007