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Beslan,
2005: as foto-reportagens do massacre de 200 crianças souberam
afastar os homens do cenário do sofrimento, colocando-os
inevitavelmente no lugar do crime.
foto
SERGEI KARPUKHIN/REUTERS
Na Grécia, durante a guerra civil dos anos 40,
milhares de crianças em idade escolar foram retiradas das suas
famílias e enviadas para os chamados países do Leste, como a Albânia
e a Checoslováquia, onde aprendiam a conviver segundo a ideologia
marxista. Calcula-se que até 1949 haviam seguido para os vários
países comunistas mais de 28 mil crianças gregas! A história é
contada por Peter Yates, em «Eleni…» (1985), com as fabulosas
interpretações de Kate Nelligan e John Malcovich.
No filme, Eleni Gatzoyiannis é uma mãe amargurada com
a traição de velhos amigos e familiares, que entram em conflito em
nome de estranhas ideologias e se revelam capazes de lhe causar o
supremo sofrimento... e até a morte.
Entre 1976 e 1983, na Argentina, centenas de crianças
recém-nascidas foram roubadas das suas mães pelo «Esquadrões da
Morte», enquanto estas eram espancadas e atiradas nuas ao Atlântico
sul por aviões ao serviço de oficiais de alta patente da Junta
Militar no poder. Confirmou-se, mais tarde, que uma dessas crianças
foi ‘adoptada’ por um alto oficial argentino, que em 1990 vivia
perto da residência do então presidente Carlos Ménem. O seu ‘pai
adoptivo’ era consultor jurídico da mulher do próprio Ménem e o juiz
que consumou a ‘adopção’ trabalhava para o governo de Buenos Aires.
Ainda hoje é impossível ficar indiferente às
dramáticas manifestações das Mães da Praça de Maio, que desde 1977
reclamam pelo impossível reencontro com os seus filhos
desaparecidos.
No Afeganistão, durante a ocupação soviética que
decorreu entre 1980 e 1989, muitas crianças mujahedines eram
utilizadas pelo «avô» Razi Haji Abdul Latif para participarem na
jhiad, a «guerra santa» contra os infiéis. Chamavam-lhes «cherokees»,
e na verdade eram guerrilheiros especializados em golpes de mão
«ataca e foge», que atiravam granadas aos comunistas nos mercados da
província de Kandahar… Desta vez o relato é de Jeff B. Harmon, de
1986, a partir de um documentário para a DUCE Films International.
Durante o regime dos fundamentalistas talibãs,
verdadeiramente, a nenhuma das mães destas crianças seria permitido
participar na educação dos seus filhos: alguém estava encarregado de
pintar os vidros das janelas das suas casas para que não pudessem
sequer ser vistas pelo lado de fora…
[
JANELA TALIBÃ ]
No Brasil, a 23 de Julho de 1993, sete meninos de rua
foram assassinados a sangue frio no bairro da Candelária. Sabe-se
que a operação de limpeza dos pequenos delinquentes foi executada
por seis 'esquadronitas', que sacaram duma bandeja uma pistola
calibre 38 e dispararam sobre as crianças várias balas tipo
dum-dum.
Pouco tempo depois, os jornais brasileiros
suspeitavam que Rosane, a primeira-dama do governo de Collor de
Melo, havia criado a Fundação de Bem-Estar do Menor para
posteriormente desviar fundos desta instituição para proveito
próprio. E assim sendo, compreende-se porque estes «marginais
congénitos», como lhes chamaram, nunca tiveram sequer oportunidade
de ser «os meninos de suas mães».
No dia 1 de Abril de 1995 morreu no Hospital Great
Ormond, em Londres, a pequena Irma. Irma Hadzimuratovic era uma
maravilhosa criança jugoslava, saudável e inteligente, vítima dos
estilhaços de uma granada que lhe matara a mãe em Sarajevo em Agosto
de 1993. Castigada pelas convulsões políticas e étnicas do seu país,
de pouco lhe valeram a boa vontade ocidental e os sofisticados
recursos médicos face a um quadro clínico de múltiplas lesões
corporais, uma meningite aguda e prolongada paralisia parcial. Um
caso que regressou à memória em Setembro de 2005, quando numa
pequena escola de Beslan, na Ossétia do Norte, Rússia, cerca de 200
crianças foram sacrificadas num negócio sujo entre rebeldes
chechenos e o exército ao serviço de Putin.
Os casos da Grécia, do Afeganistão, do Brasil… como
na Bósnia, no Burundi, na Índia, no Sudão, no Iraque, na Rússia… não
estão assim tão distantes: em Portugal, em 2002, uma rede de
orfanatos do Estado foi acusada de servir pedófilos da alta
sociedade de Lisboa: políticos, médicos, jornalistas… cujo
julgamento parece não ter fim.
A pequena Irma, de 7 anos, seguiu de Sarajevo para
Inglaterra com outras vinte crianças vítimas do fratricídio da
ex-Jugoslávia, e não recuperou do alheamento biológico que o seu
estado físico lhe impusera. O relatório clínico do hospital onde
parecia convalescer dizia que a menina morreu «docemente,
durante o sono.»
Na sua maioria esmagadora, estes crimes não chegaram
a «acordar» as consciências e ainda hoje permanecem impunes. No
entanto, se formos tão sensíveis como qualquer criança e se
desejarmos cultivar a todo o custo essa sensibilidade, depressa
compreenderemos que o sono dos homens tem muitas inconfessáveis
razões para ser absolutamente vulnerável.

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