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  Post 011 -  Dezembro de 2007  

 

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Beslan, 2005: as foto-reportagens do massacre de 200 crianças souberam afastar os homens do cenário do sofrimento, colocando-os inevitavelmente no lugar do crime.

foto SERGEI KARPUKHIN/REUTERS

 

 

Na Grécia, durante a guerra civil dos anos 40, milhares de crianças em idade escolar foram retiradas das suas famílias e enviadas para os chamados países do Leste, como a Albânia e a Checoslováquia, onde aprendiam a conviver segundo a ideologia marxista. Calcula-se que até 1949 haviam seguido para os vários países comunistas mais de 28 mil crianças gregas! A história é contada por Peter Yates, em «Eleni…» (1985), com as fabulosas interpretações de Kate Nelligan e John Malcovich.

No filme, Eleni Gatzoyiannis é uma mãe amargurada com a traição de velhos amigos e familiares, que entram em conflito em nome de estranhas ideologias e se revelam capazes de lhe causar o supremo sofrimento... e até a morte.

 

Entre 1976 e 1983, na Argentina, centenas de crianças recém-nascidas foram roubadas das suas mães pelo «Esquadrões da Morte», enquanto estas eram espancadas e atiradas nuas ao Atlântico sul por aviões ao serviço de oficiais de alta patente da Junta Militar no poder. Confirmou-se, mais tarde, que uma dessas crianças foi ‘adoptada’ por um alto oficial argentino, que em 1990 vivia perto da residência do então presidente Carlos Ménem. O seu ‘pai adoptivo’ era consultor jurídico da mulher do próprio Ménem e o juiz que consumou a ‘adopção’ trabalhava para o governo de Buenos Aires.

Ainda hoje é impossível ficar indiferente às dramáticas manifestações das Mães da Praça de Maio, que desde 1977 reclamam pelo impossível reencontro com os seus filhos desaparecidos.

 

No Afeganistão, durante a ocupação soviética que decorreu entre 1980 e 1989, muitas crianças mujahedines eram utilizadas pelo «avô» Razi Haji Abdul Latif para participarem na jhiad, a «guerra santa» contra os infiéis. Chamavam-lhes «cherokees», e na verdade eram guerrilheiros especializados em golpes de mão «ataca e foge», que atiravam granadas aos comunistas nos mercados da província de Kandahar… Desta vez o relato é de Jeff B. Harmon, de 1986, a partir de um documentário para a DUCE Films International.

 

Durante o regime dos fundamentalistas talibãs, verdadeiramente, a nenhuma das mães destas crianças seria permitido participar na educação dos seus filhos: alguém estava encarregado de pintar os vidros das janelas das suas casas para que não pudessem sequer ser vistas pelo lado de fora… [ JANELA TALIBÃ ]

 

No Brasil, a 23 de Julho de 1993, sete meninos de rua foram assassinados a sangue frio no bairro da Candelária. Sabe-se que a operação de limpeza dos pequenos delinquentes foi executada por seis 'esquadronitas', que sacaram duma bandeja uma pistola calibre 38 e dispararam sobre as crianças várias balas tipo dum-dum.

Pouco tempo depois, os jornais brasileiros suspeitavam que Rosane, a primeira-dama do governo de Collor de Melo, havia criado a Fundação de Bem-Estar do Menor para posteriormente desviar fundos desta instituição para proveito próprio. E assim sendo, compreende-se porque estes «marginais congénitos», como lhes chamaram, nunca tiveram sequer oportunidade de ser «os meninos de suas mães».

 

No dia 1 de Abril de 1995 morreu no Hospital Great Ormond, em Londres, a pequena Irma. Irma Hadzimuratovic era uma maravilhosa criança jugoslava, saudável e inteligente, vítima dos estilhaços de uma granada que lhe matara a mãe em Sarajevo em Agosto de 1993. Castigada pelas convulsões políticas e étnicas do seu país, de pouco lhe valeram a boa vontade ocidental e os sofisticados recursos médicos face a um quadro clínico de múltiplas lesões corporais, uma meningite aguda e prolongada paralisia parcial. Um caso que regressou à memória em Setembro de 2005, quando numa pequena escola de Beslan, na Ossétia do Norte, Rússia, cerca de 200 crianças foram sacrificadas num negócio sujo entre rebeldes chechenos e o exército ao serviço de Putin.

 

Os casos da Grécia, do Afeganistão, do Brasil… como na Bósnia, no Burundi, na Índia, no Sudão, no Iraque, na Rússia… não estão assim tão distantes: em Portugal, em 2002, uma rede de orfanatos do Estado foi acusada de servir pedófilos da alta sociedade de Lisboa: políticos, médicos, jornalistas… cujo julgamento parece não ter fim.

 

A pequena Irma, de 7 anos, seguiu de Sarajevo para Inglaterra com outras vinte crianças vítimas do fratricídio da ex-Jugoslávia, e não recuperou do alheamento biológico que o seu estado físico lhe impusera. O relatório clínico do hospital onde parecia convalescer dizia que a menina morreu «docemente, durante o sono.»

 

Na sua maioria esmagadora, estes crimes não chegaram a «acordar» as consciências e ainda hoje permanecem impunes. No entanto, se formos tão sensíveis como qualquer criança e se desejarmos cultivar a todo o custo essa sensibilidade, depressa compreenderemos que o sono dos homens tem muitas inconfessáveis razões para ser absolutamente vulnerável.

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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