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  Post 133 -  Agosto de 2013  

 

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os dias todos iguais, esses assassinos...

 

 

28 de Agosto. Os EUA dizem que têm provas do uso de armas químicas na Síria e apontam o dedo a Bashar al-Assad, diz hoje o Washington Post. Os habituais aliados europeus preparam uma intervenção militar, para mostrarem ao mundo de que lado está a verdade...

Vem aí mais uma guerra. Como diria Kafka, depois do almoço, piscina.

 

Começou o triste espectáculo das "universidades de Verão" dos partidos políticos, à boa maneira da Hitlerjugend. O que é que eles têm para ensinar aos nossos jovens?

 

 

 

 

os filhos do Diabo

 

 

 

«Gritos de aflição vêm de Ramá; um choro sem fim; inconsolável, Raquel lamenta os seus filhos, porque estão mortos.» (Mateus, 2:18)

 

Segundo alguma literatura religiosa crê-se que os inocentes serão sempre submetidos às piores maldades, porque os homens tomaram a decisão de se filiarem no Diabo em vez de seguirem a palavra de Deus. Diz Clemente Romano, no capítulo 14-2 da sua Primeira Carta aos Coríntios: «estaremos expostos não a um prejuízo qualquer, mas a um grande perigo, se nos entregarmos aos caprichos dos homens, que buscam a discórdia e a revolta para nos separar da boa conduta.»

 

A demonização da humanidade tem como objectivo principal cativar o interesse das pessoas para a importância da figura do filho de Deus, mas no longo itinerário das tragédias que desde sempre perseguiram as crianças tem especial significado esse episódio do chamado massacre dos inocentes, supostamente atribuído ao rei dos Judeus: segundo algumas interpretações das escrituras do apóstolo Mateus, foram sacrificados três mil recém-nascidos, catorze mil segundo a liturgia bizantina ou sessenta e quatro mil segundo a tradição da escola teológica síria, diz Raymond Brown (Birth of the Messiah, 1977). Sem dúvida, uma contabilidade fantasiosa: para este intelectual americano que se tornou conhecido como historiador da Bíblia, não terão morrido mais do que umas vinte crianças, mas que importância têm os números perante a brutalidade dos factos?

 

 

 

[ 1. mártires na Síria ]

 

 

Porque está o regime sírio a matar bebés? (Why the Syrian regime is killing babies?) Frida Ghitis, CNN.

 

 

Vítimas do ataque com gás em Damasco, Síria, 21 de Agosto de 2013.

foto AFP

 

 

 

Nos dois últimos anos, o governo sírio do ditador Bashar al-Assad levou a cabo aquilo que a editora de política internacional Frida Ghitis classificou como «a slow-motion massacre» (um massacre em camara-lenta, CNN online, 16 de Agosto de 2012). Nos últimos 21 e 22 de Agosto, segundo os opositores ao regime e algumas organizações não-governamentais que operam no terreno, o exército de Assad lançou um ataque químico que fez cerca de 1800 mortos nos arredores de Damasco, em grande parte crianças.

 

A História escreve-se muitas vezes em círculos e pouco aprendemos com os erros do passado ou com os ensinamentos das sagradas escrituras. Mais de dois mil anos depois, estima-se que o advento da Primavera Árabe já provocou na Síria cerca de 100 mil mortos e 2 milhões de desalojados, dos quais metade são crianças que vagueiam agora pelos campos de refugiados do Iraque, do Líbano, da Jordânia e da Turquia, fazendo lembrar a matança de Herodes e a fuga de Jesus para o Egipto.

 

 

 

[ 2. demónios no Congo ]

 

 

Segundo o místico Frank E. Peretti (Este Mundo Tenebroso, 1986), na grande batalha espiritual os brancos militam no exército de Deus e os negros no exército do Diabo.

 

 

Minas de diamantes de Mbuji-Mayi, República Democrática do Congo.

 

 

 

Na República Democrática do Congo, as crianças que são rejeitadas pelas suas famílias dedicam-se a pedir, a roubar, a engraxar sapatos, a vender sacos de água e carvão ou a descer aos poços de pedras preciosas que alimentam os mercados da Bélgica, servindo os senhores do dinheiro sem nunca conseguirem escapar à miséria extrema. Só em Kinshasa são entre 30 e 50 mil. Destes, pelo menos um terço são considerados «meninos feiticeiros».

 

Há mais de trezentos anos, mas em especial desde finais do século passado, é em nome de Deus que os excêntricos exércitos de pastores evangélicos determinam se uma criança está ou não possuída pelo demónio, prestando-se ao exorcismo numa espécie de negócio que se tornou cada vez mais lucrativo. Depois de um trabalho de sensibilização realizado por diferentes organizações não governamentais, como a Amnistia Internacional, os Médicos do Mundo e em especial a Human Rights Watch (sob a orientação dessa extraordinária senhora Alison des Forges, falecida em 2009), em todo o continente africano dá-se agora um aumento significativo do número destas crianças amaldiçoadas, segundo uma reportagem de Louise Hunt publicada no jornal The Guardian em 17 de Janeiro de 2012.

 

Os «meninos feiticeiros» (kindoki) são maioritariamente crianças órfãs: os pais morreram, as mães não os podem criar ou os padrastos não os aceitam, roubam e prostituem-se e — como em Angola, no Benim, no Ruanda, no Sudão, na Somália e em tantos outros países pobres — acabam por ser vítimas de trabalho escravo, tráfico e violência sexual.

Acusados de serem responsáveis por todos os males da família (morte, desemprego, doença e pobreza), estas crianças são instigadas a acreditar que provocam a ira do Diabo e que as suas almas pairam à noite pelos campos de diamantes de Mbuji-Mayi entoando melodias satânicas, mas a verdade é que as principais causas da sua situação são a indiferença dos pais, a cumplicidade dos falsos profetas e o negócio sujo que leva à pobreza extrema, que afecta cerca de 95% da população. Indiferença, cumplicidade e negócio sujo: transpondo para a escala global, afinal, quem provoca tanta boca por alimentar?

 

 

 

[ 3. soldados no Uganda ]

 

 

«Sem crianças não se fazem guerras», diz Pedro Dória, um conhecido jornalista brasileiro jubilado pela Universidade de Stanford, na Califórnia.

 

Durante a II Grande Guerra, cerca de 25 mil adolescentes de ambos os sexos foram recrutados para lutarem nas tropas da Hitlerjugend, a conhecida Juventude Hitleriana. Em 1949, nas Convenções de Genebra sobre Direito Internacional Humanitário, foi criminalizada a utilização de crianças com menos de 15 anos em palco de guerra, mas a verdade é que, durante muitos anos depois, centenas de milhares de crianças-soldados foram ainda utilizadas para engrossar os exércitos governamentais ou de guerrilha na Colômbia, no Peru, Serra Leoa, Argélia, Sudão, Congo, República Democrática do Congo, Angola, Burundi, Uganda, Ruanda, Somália, Israel, Líbano, Turquia, Iraque, Irão, Afeganistão, Sri Lanka, Mianmar, Camboja, Filipinas... Segundo dados da ONU, estima-se que existam actualmente entre 200 e 300 mil pequenos soldados espalhados por dezenas de países, especialmente em África.

 

Na República Democrática do Congo foram utilizadas crianças-soldados (kadogos) na ajuda ao exército que derrubou o ditador Mobutu Sese Seko, em 1997.

No Uganda, só para servir o exército da chamada Resistência do Senhor (LRA-Lord’s Resistance Army), comandada pelo líder espiritual Joseph Kony, estima-se que foram raptadas e treinadas entre 60 a 80 mil pessoas, na sua maioria rapazes entre os 13 e os 14 anos de idade, segundo informações da especialista brasileira Gabriela Saab Riva (Criança ou Soldado: O Direito Internacional e o Recrutamento de Crianças por Grupos Armados, 2012).

 

Resumindo, é também em nome de um Deus desconhecido que as crianças são enviadas para as frentes de batalha, servindo nos trabalhos domésticos, para carregar mantimentos e armas, para transportar informações ou para bater o terreno sob fogo cruzado, especializando-se na utilização de pistolas e metralhadoras, instigadas muitas vezes a matar membros da própria família e, no caso das raparigas, obrigadas a satisfazer os desejos sexuais dos soldados nos acampamentos.

 

 

 

 

[ 4. escravos no Bangladesh ]

 

 

«Ontem fui espancada. O trabalho que eu fiz não estava bem. (...) O supervisor deu-me uma bofetada e disse-me para fazer melhor da próxima vez. Sinto-me ofendida.»

Halima, Global Labour online, Setembro de 2006.

 

 

foto INSTITUTE FOR GLOBAL LABOUR AND HUMAN RIGHTS 2006.

Bangladesh: Halima, de 11 anos, mostra como lava os dentes com cinza.

«The salary I get is not fair» (o salário que eu recebo não é justo).

 

 

Hoje [ 28 de Agosto de 2013 ] Alfonso Navarrete Prida, Secretário do Trabalho e Previdência Social do México, informou que cerca de 10% dos 30 milhões de jovens mexicanos com menos de 14 anos já estão inseridos no mercado de trabalho, concluindo: «o trabalho das crianças não resolve os problemas de pobreza nem as carências das famílias» (agência LUSA).

 

Principalmente depois do desabamento do Rana Plaza em Dacca (24 de Abril de 2013), onde funcionavam diversas fábricas de têxteis clandestinas e que provocou pelo menos 1034 mortos, o mundo ficou a conhecer a realidade de milhões de trabalhadores, muitos deles crianças, que vivem no Bangladesh em condições desumanas.

 

A história das crianças do Bangladesh que só têm tempo para trabalhar e dormir conta-se facilmente através do testemunho da pequena Halima, recolhido por Charles Kernaghan, director do Institute for Global Labour and Human Rights, de Pittsburgh, EUA, em Setembro de 2006.

Halima tinha então 11 anos, trabalhava sete dias por semana e ganhava cerca de 9 euros por mês (930 taka, na taxa de conversão actual). Levantava-se às 6h30 da manhã e começava o seu dia de trabalho às 8, depois de andar a pé durante quase uma hora. Às 12h30 fazia um pequeno intervalo para almoçar e continuava depois até às cinco da tarde, mas tinha que ficar quase sempre até às oito ou dez horas da noite. Foi várias vezes agredida fisicamente no seu local de trabalho, onde era obrigada a permanecer mesmo com problemas de saúde originados principalmente pelas altas temperaturas no Verão, pela salubridade no Inverno e pela falta de água potável.

 

Sete anos depois, e na sequência das diversas denúncias internacionais, a remuneração mensal das crianças que trabalham no Bangladesh subiu consideravelmente, segundo os padrões da economia local, e pode atingir hoje os 40 euros por mês. O dinheiro para pagar estes salários, aqui como no Vietname, na Indonésia, no Camboja e na China, vem dos negócios lucrativos das grandes empresas e marcas de artigos desportivos e fashion da América e da Europa, como a H&M da Suécia, a Armani, a Benetton, a Dolce & Gabbana, a FILA e a Gucci de Itália, o El Corte Inglés, a Bershka e a Zara de Espanha, o Bonmarché de Inglaterra e a Primark-Denim da Irlanda, a Adidas e a PUMA da Alemanha, a Lacoste da França, a Loblaw do Canadá, a Calvin Klein, a Nike, a NY Clothes, a Ralph Lauren e a Walmart dos Estados Unidos da América...

 

Halima é uma rapariga igual a milhares de outras que trabalham actualmente em países do chamado Terceiro Mundo: não tem televisão em casa, não sabe o que é a economia global e nunca ouviu falar na Organização Mundial do Comércio, bebe um sumo de garrafa ou come uma maçã de dois em dois meses e lava os dentes com cinza.

 

 

 

 

[ 5. inocentes, seja onde for ]

 

 

Martin Luther King dizia: «An injustice anywhere is a threat to justice everywhere». Na política como na economia, na Wall Street de Nova Iorque ou num bairro pobre de Goutha, em Damasco, os homens têm que perceber que só pode ser bom para alguns aquilo que for bom para todos.

 

Não há nenhuma crise financeira situada no nosso tempo. A ameaça que paira hoje sobre as economias ocidentais começou há milhares de anos e resulta da incapacidade dos homens para partilharem o dinheiro e o poder, e esta é também uma forma de fundamentalismo.

O que se está a passar em certos países da América do Sul, África, Ásia e Médio Oriente é uma espécie de efeito boomerang de políticas egoístas que têm a sua origem nos países mais desenvolvidos, fazem as suas maiores vítimas no outro lado do mundo e hão-de regressar para nos lembrar que é aqui que tudo começa.

 

Nos últimos 50 anos, só os territórios da América do norte e da Europa ocidental conseguiram viver num clima de relativa segurança. Mas, porque é que os poderosos americanos se envolveram no inferno do Vietname e nas batalhas pelo petróleo no Iraque e no Koweit, senão para alimentar o seu negócio sustentado por esta espécie de paz podre? E, enfim, o que são 50 anos, comparados com o último século dos gulags na Sibéria, dos crimes de Mao, dos campos de concentração nazis, das bombas de Hiroshima e Nagazaki e das lutas fratricidas nos Balcãs?

 

Ninguém está livre da guerra. Somos todos feitos da mesma massa do Diabo.

 

______

"porque está o regime sírio a matar bebés?"

A pergunta da jornalista colombiana ao serviço da CNN é de Agosto de 2012 e já vinha ilustrada por uma fotografia de crianças mortas, em tudo parecida com os registos dos ataques dos últimos dias em Damasco. Aliás, alguns especialistas dizem que há provas do recurso a armas químicas em Dezembro do ano passado.

fonte: CNN online, Síria, 16 de Agosto de 2012.

 

Alguns dos actuais paladinos da liberdade, como o jornal francês Libération («SYRIE, L'IMPUNITÉ», 23 de Agosto de 2013) acham que a comunidade internacional demora uma eternidade a actuar. O que eles querem dizer é que só há uma resposta possível à pergunta de Frida Ghitis: mais guerra e mais mortes de crianças inocentes.

Os EUA e a Europa actuarão na Síria para garantirem a estabilidade do fornecimento de petróleo e dos seus negócios lucrativos, incluindo a possibilidade de escoarem o armamento que produzem desde que seja utilizado a uma distância considerável. Foi assim durante milhares de anos e assim continuará a ser nos próximos séculos. Infelizmente, estas conclusões parecem enquadrar-se na habitual teoria da conspiração de que são acusados os chamados párias de esquerda, mas a verdade é que nenhuma intervenção armada substitui um relacionamento entre os povos baseado na confiança mútua, no desenvolvimento da Educação e do comércio justo, na dignificação do trabalho e na tolerância política e religiosa.

Estas crianças são mártires. Por quantos mais anos iremos combater a guerra com mais guerra? Deve ser possível, algum dia, agir de outra maneira.

 

 

 

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