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  Post 125 -  Agosto de 2013  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

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1. a fotografia e a realidade

Willy Ronis, o famoso autor de Nu provençal (1936), dizia que o que faz a fotografia é o fotógrafo e não a máquina, e ficou conhecido por «le poète du quotidien». Brassaï lembrava recorrentemente que «nada é mais belo do que a realidade» (rien n’est plus beau que la réalité, ou ainda: nada é mais surreal do que a realidade...), e Pierre Verger, que viveu no Brasil, «gostava de documentar os personagens sociais» e «recusava-se a comandar as cenas» (Cláudia Pôssa, O toque Verger, 2006). De certa maneira, isto está de acordo com um determinado conceito fotográfico, que naturalmente não é consensual: nem a fotografia deve mascarar a realidade, nem a realidade deve mascarar-se para a fotografia. Ronis e Brassaï  e Verger e até Bresson defendiam que há poesia suficiente nas ruas. Ainda assim, será possível alguma interferência?

 

 

2. a realidade e o caos

Stephen Hawking, em Breve História do Tempo (1988), faz uma interessante alusão ao princípio antrópico do seguinte modo: «Vemos o Universo da maneira que ele é porque vivemos nele», o que quer dizer que «se o Universo fosse diferente não estaríamos aqui.» Esta teoria agnóstica do mundo dá-nos uma visão peculiar do espaço, sugerindo que poderíamos estar num outro lugar e eventualmente num outro tempo sem podermos interferir objectivamente com a realidade que já não seria a nossa (o Universo deve ser de tal forma que possa conter observadores em algum estado da sua evolução — princípio antrópico forte). Ou, em última análise, no caos.

 

o meu destino é o nada,

aonde nem eu mesmo estarei

para me rever.

 

 

3. o caos e a fé

As fotografias contam-nos estas duas maneiras de vermos a realidade: através dos nossos próprios olhos enquanto fotógrafos e através dos olhos dos outros enquanto observadores com essa fatal condição de não poderem interferir.

 

Tal reflexão leva-nos à pergunta que acompanha o Homem através dos tempos: perseguindo o princípio determinista de Hawking, de que modo poderemos condicionar o espaço (e o tempo) a que pertencemos? E, por consequência, a uma outra inevitável, deduzida das conhecidas preocupações de Popper: podendo interferir, como deveríamos fazê-lo sem provocar mais danos?

 

Isto pode querer dizer que ordem e caos existem simultaneamente, e aos dois poderá convir acreditarem que, a uma possível equidistância, existe alguém ou alguma coisa que sempre nos observa e de alguma maneira nos condiciona. Afinal, um homem sem fé é um homem morto, ou: não será isso que dá algum interesse às nossas vidas?

 

 

 

 

 

foto WILLY RONIS Nu provençal, Gordes 1936.

 

 

 

 

 

 

 

 

o Inverno está

na terceira prateleira

do guarda-roupa.

 

 

 

 

 

 

 

 

_______

a história de Nu provençal

«O destino dessa imagem, replicada constantemente em todo o mundo, ainda me surpreende.» (Willy Ronis)

«Era um Verão quente e eu estava a tentar reparar o sótão. Eu precisava de uma tábua e ao descer as escadas encontrei Marie-Anne nua, a lavar-se na bacia. Não te mexas, disse eu. Com as mãos ainda cheias de gesso, peguei na minha Rolleiflex e fiz quatro fotos. Escolhi a segunda. Foram dois minutos. Os milagres existem. Revelei aqueles negativos sabendo que estava ali um grande momento da minha vida, um momento vulgar mas repleto de poesia.»

Willy Ronis fotografava a sua mulher, a bela Marie-Anne Lansiaux, então com 26 anos, na sua casa na rústica vila de Gordes, perto de Avignon, no sul da França. Passados 52 anos, em 1988, voltou a fotografá-la, mas desta vez com justificado pudor: ela sofria de alzheimer e haveria de morrer três anos depois.

«Essa foto é muito querida para mim. Marie-Anne tornou-se parte da natureza, das suas folhas, como um pequeno inseto nos arbustos. Vivemos juntos 46 anos.»

 

 

o testemunho de Stephen Hawking

Em 1963, quando Stephen Hawking estava a pensar fazer a sua tese de doutoramento, o seu médico diagnosticou-lhe ALS (esclerose lateral amiotrófica), uma neuropatia motora conhecida como a doença de Lou Gehrig, dando-lhe a entender que só teria mais um ou dois anos de vida. Nestas circunstâncias, não valeria a pena começar. Entretanto, dois anos depois Hawking não tinha piorado muito. «Na realidade, as coisas até me corriam bastante bem e tinha ficado noivo de uma excelente rapariga, Jane Wilde. Mas para poder casar tinha de arranjar emprego e para arranjar emprego precisava do doutoramento.» (SH, revista EXPRESSO, 19 de Abril de 1997). Doutorou-se, casou-se com a namorada em 1965 e vinte anos depois os médicos voltaram a sugerir desligá-lo das máquinas, mas foi justamente a sua mulher Jane que não autorizou. Fez três filhos, separou-se em 1991, voltou a casar-se em 1995 com a sua enfermeira Elaine Mason, voltou a separar-se em 2006 e entretanto escreveu Breve História do Tempo, recebeu vários prémios internacionais, participou em 2012 na cerimónia de abertura dos Jogos Paraolímpicos de Londres, celebrou no passado dia 2 de Janeiro 71 anos e anunciou a sua vontade de viajar para o espaço, pelo que o extrovertido multimilionário Richard Branson já o convidou para tomar parte do primeiro voo turístico da Virgin Galactic. Contra todas as previsões, continua a testemunhar a sua maneira peculiar de ver o Universo.

 

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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