ANTERO DE ALDA Photography Recent Works

 

Time and eternity

 

 

The "crazy" Louis Althusser in the concentration camp of Schleswig-Holstein, the "drunk" Fernando Pessoa caught «in flagrante delicto» and the "legendary" Ernest Hemingway who chose a tragic end.

Hemingway photo by ALFRED EISENSTAEDT/LIFE Magazine, Cuba 1952 (crop).

 

 

Althusser — the Algerian pied noir — committed himself to a foreboding silence, ten years before he actually died and immediately after strangling his wife, Hélène, being absolved by dementia. His ordeal began in the concentration camp of Schleswig (1940-45) and it was characterized by successive manic-depressive crisis, until October 22nd, 1990. He died at age of 72, of a somewhat predictable heart attack for a man who initiated five years before the drafting of an autobiographical essay entitled «L'avenir dure Longtemps» (The future is everlasting).

 

Pessoa (Fernando), whose friends have ensured never having seen him drunk, was once caught in «flagrante delicto», but the famous photography that documents it was preserved as a trophy to cheat destiny: he knew that Jupiter and Bacchus were instructed by Semele to abuse of wine in order to fend off disease, although it was certain that he not quite believed it. He died in 1935, with 47 years of age and a liver in ashes (some experts questioned later the official diagnosis: cirrhosis).

 

By the damage caused by alcohol, Hemingway must have made roughly the same calculations, aggravated by a dissolute life (there are those who accuse him of being more fanciful than genuine in his war chronicles, and there are inclusively those who argue that his works are a kind of «sub-fiction where he was the main character»). But the heavy drinker swordfish fisherman, who became a touristic attraction in Key West Beach and that, according to Scott Fitzgerald, needed a new woman for every book he wrote, did not die from addiction. His father, pursued by health problems, debts and a marriage plagued by female superiority, committed suicide when the writer was 40 years old, and shortly after, his mother (with whom he had a serious conflict since childhood) mailed him the murder weapon...

 

On the morning of June the 2nd 1961, in Ketchum, Idaho, Hemingway took his hunting shotgun and killed himself. He was hitting 62 and it is certain that — like all geniuses — that he spent his entire life trying to reconcile time with eternity.

 

____

It is predictable that Hemingway, like Deleuze, Celan, Virginia Woolf ... knew the Nietzschean maxim: «The notion of suicide is a great comfort — it to bear many bad nights» (Beyond Good and Evil, 1886).

 

"reconcile time with eternity"

It is the recurring theme in Green Hills of Africa, by Ernest Hemingway, 1935.

 

 


English version 

 

Antero de Alda: Câmara Antiga (o tempo e a eternidade)

 

 

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  Post 056 -  Agosto de 2011  

 

foto: Carlos Vilela 2010

 

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O "louco" Louis Althusser no campo de concentração de Schleswig-Holstein, o "bêbado" Fernando Pessoa apanhado «em flagrante delitro» e o "lendário" Ernest Hemingway que escolheu um fim trágico.

foto de Hemingway por ALFRED EISENSTAEDT/LIFE Magazine, Cuba 1952 (crop).

 

 

 

 

 

Althusser — o pied-noir argelino — remeteu-se a um premonitório silêncio, dez anos antes de morrer de facto e imediatamente depois de estrangular a mulher, Hélène, e ser absolvido por demência. O seu calvário começou no campo de concentração de Schleswig (1940-45) e foi caracterizado por sucessivas crises maníaco-depressivas, até 22 de Outubro de 1990. Faleceu aos 72 anos, com um ataque cardíaco um tanto previsível mesmo para quem cinco anos antes iniciara a redacção de um ensaio autobiográfico com o título «L'avenir dure longtemps» (O Futuro dura muito tempo).

 

Pessoa (o Fernando), que os amigos garantiam nunca terem visto bêbado, foi certa vez apanhado «em flagrante delitro», mas a famosa fotografia que o documenta foi preservada como um troféu para enganar o destino: ele saberia que Júpiter e Baco foram instruídos por Sémele a abusarem do vinho para afastar as doenças, embora não seja certo que acreditasse muito nisso.

Morreu em 1935, com 47 anos e o fígado em cinzas (alguns especialistas contestaram mais tarde o diagnóstico oficial: cirrose hepática).

 

Pelos estragos causados pelo álcool Hemingway terá feito mais ou menos as mesmas contas, agravadas por uma vida supostamente desregrada (há quem o acuse de ser mais fantasioso do que genuíno nas suas crónicas de guerra, e há mesmo quem diga que as suas obras são uma espécie de «sub-ficção onde ele era a personagem principal»). Mas o bebedor e pescador de espadartes, que se tornou atracção turística em Key West Beach e que, segundo Scott Fitzgerald, precisava de uma nova mulher para cada livro que escrevia, não morreu do vício. O pai, perseguido por problemas de saúde, pelas dívidas e por um casamento atormentado pela superioridade feminina, suicidou-se quando o escritor tinha 40 anos, e pouco depois a mãe (com quem mantinha um grave conflito desde a infância) enviou-lhe pelo correio a arma do crime...

Na manhã do dia 2 de Junho de 1961, em Ketchum, Idaho, Hemingway pegou na sua espingarda de caça e matou-se. Estava quase a fazer 62 anos e é certo que — como todos os génios — passara a vida a tentar reconciliar o tempo com a eternidade.

 

____

É previsível que Hemingway, como Deleuze, Celan, Virginia Woolf... sabiam da máxima nietzschiana: «A ideia do suicídio é uma grande consolação — ajuda a suportar muitas noites más» (Além do Bem e do Mal, 1886).

 

"reconciliar o tempo com a eternidade"

É o tema recorrente em As Verdes Colinas de África, Ernest Hemingway, 1935. 

 

 

 

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