a
lei do Oeste...
«América dei-te tudo e agora não sou nada.
...
Não me sinto nada satisfeito não me chateies.
Não vou escrever o meu poema enquanto não estiver
Perfeitamente equilibrado.
América quando serás tu angélica?
Quando é que te despes?
Quando é que olharás para ti através do sepulcro?
...
América porque estão as tuas bibliotecas cheias de
lágrimas?
...
América não empurres eu sei o que faço!»
ALLEN
GINSBERG
A máquina da guerra é, para a
maioria dos governantes, como um amor platónico: gostam de a
provocar, mas preferem fruir dela a uma distância geográfica que
lhes permita preservar o verniz dos sapatos e a sua integridade
física... Entretanto, os generais fazem o trabalho de doutrinação.
O capítulo da preparação para a
guerra parece ser endógeno da mentalidade americana: durante muitos
anos pensou-se que o equilíbrio da 'coexistência pacífica' pendia
para o lado ocidental, e os EUA publicitaram sem fim a sua política
altruísta de defesa da moral universal. Com o fim da Guerra Fria, a
manutenção da apetência dos Estados Unidos pelos conflitos parece
justificar-se para alimentar o
[
MADE IN U.S.A. ] — ou seja: a guerra sustenta a economia, pois é
óbvio que a economia, no passado, foi a grande sustentação da
guerra. Melhor: talvez nunca tenha sido possível entender a guerra
sem economia... e vice-versa.
Mas, em que consiste afinal esta 'doutrinação' para a barbárie?
«Os soldados da Força Aérea britânica entrevistados durante a
Segunda Guerra Mundial manifestaram reacções de ansiedade antes de
partirem para a sua missão. Estavam tão ansiosos, que alguns homens
impedidos à última hora de embarcar tiveram ataques de choro...»
JOANNA
BOURKE, The Guardian.
São múltiplos os relatos de
soldados, e até generais, que descrevem com entusiasmo as suas
conquistas em teatro de guerra. No Golfo, o efeito dos media
levava-os a imaginarem-se 'actores' dos filmes de cowboys ou
personagens dos jogos de computador. John Wayne, o «Duke», fora já
célebre entre a infantaria inglesa nos anos 19(40); no Iraque,
tornaram-se célebres os helicópteros 'Apache' e os mísseis
'Tomahawk' — tudo retirado da mitologia do velho Oeste.

foto JOE
ROSENTHAL (Iwo Jima, 19 Fev 1945).

John Wayne foi
protagonista de um dos filmes da polémica.
O caso Iwo Jima leva-nos a suspeitar da relação de fruição da guerra
com os media e os ídolos do cinema, que a prolongam.
Mas há um exemplo contraditório: Paul Tibbets, o famoso piloto que
conduziu “the gimmick” sobre Hiroshima, não gravou o seu nome no
casco da bomba com um lápis de cera como Thomas Ferrel, o general da
força aérea norte-americana, «para Hirohito com amor e beijos»...
porque não era do seu estilo fazer isso.
Contraditório? Talvez nem
tanto: Tibbets adormeceu no regresso de Hiroshima depois de vinte
horas e meia sem descansar...
[
MEMÓRIA DE HIBAKUSHA ]

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