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  Post 113 -  Junho de 2013  

 

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a filha de Galileu

[ o mensageiro das estrelas e a mensageira de Deus ]

 

 

«Deveis dirigir os vossos pensamentos e as vossas esperanças para Deus, que, tal como um pai extremoso, nunca abandona os que Nele confiam e que a Ele recorrem em tempos de necessidade. (...) San Matteo, 20 de Abril de 1633.»

 

As 124 cartas de soror Maria Celeste para o seu pai, Galileu Galilei, serviram-lhe de insubstituível consolo durante dez longos anos, entre 1623 e 1633, mas especialmente durante os cinco meses de inquirições às ordens do Tribunal do Santo Ofício, que o levaram à prisão domiciliária.

A correspondência foi estudada pela escritora norte-americana Dava Sobel, publicada em 1999 e arquivada na Biblioteca Nacional de Florença.

 

 

 

 

Virgínia, ou soror Maria Celeste.

 

A história da filha de Galileu serve para explicar que a intransigência de Deus

é um bálsamo comparada com a intolerância dos homens.

 

 

 

Se uma pedra for lançada do cimo do mastro de um navio em movimento ela cairá sempre na base do mastro, seguindo uma trajectória aparentemente vertical, e nunca, como defendiam Aristóteles e Ptolomeu, pedras ou nuvens ou pássaros ou quaisquer outros objectos que circulem pelo ar poderão ficar para trás no caso da Terra se movimentar em torno do Sol em vez do contrário...

 

 

 

A evolução do geocentrismo para o heliocentrismo teve as suas implicações, desde Nicole D’Oresme (1323-1382), o bispo de Lisieux, que tanto combateu a astrologia como propôs pela primeira vez uma teoria anti-aristotélica e anti-ptolomaica sobre a relação do Sol com a Terra, Copérnico (1473-1543), Giordano Bruno (1548-1600) e Kepler (1571-1630), até Galileu Galilei (1564-1642), passando pela Guerra dos Cem Anos e pela Peste Negra, que tanto contribuíram para a resistência às reformas na agonia da Idade Média.

 

Oresme foi aceite pela simplicidade da sua teoria, eliminando conflitos maiores com o Santo Ofício ao adoptar o famoso princípio da navalha de Ockam (a Lei da Parcimónia), que sugere que qualquer fenómeno não deve ser explicado senão com as suas premissas básicas, a meio caminho entre intuição e ciência.

 

Copérnico desenvolveu a astuciosa teoria do movimento de rotação da Terra, a origem dos equinócios e a causa das estações, e poderá ter sido poupado pela Igreja (ou — quem sabe? — severamente castigado por Deus), porque consta que morreu exactamente no mesmo dia em que se publicou De revolutionibus orbium coelestium (Da revolução das esferas celestes), a 24 de Maio de 1543.

 

Kepler foi subestimado: haveria de confirmar a existência dos satélites de Júpiter e criar as bases da teoria da gravitação universal desenvolvida por Galileu e Newton.

 

Finalmente, Bruno de Nola — o frade dominicano Giordano Bruno — foi acusado de heresia pelos católicos, excomungado pelos calvinistas, fugitivo de Roma e de Génova, exilado em França, Suíça, Inglaterra, Alemanha e ainda na antiga Boémia (Praga, na actual República Checa), até morrer na fogueira às ordens da Inquisição, em Campo de Fiori (a Praça das Flores, em Roma, com vista para o Tibre). Enfim, um mártir.

 

 

 

 

«(…) Para além dos confeitos de limão, mando-vos duas peras cozidas para estes dias festivos. Mas o meu presente mais especial é uma rosa, que, por ser tão extraordinária neste tempo tão frio, espero que seja recebida com todos os cuidados. (…) Junto com a rosa, o Senhor não poderá rejeitar os espinhos que representam o amargo sofrimento de Nosso Senhor, bem como as suas folhas verdes que simbolizam a esperança que alimentamos (em virtude desta santa paixão) na recompensa que nos aguarda, após a brevidade e a escuridão do Inverno da vida presente, quando entrarmos por fim na claridade e felicidade da Primavera eterna dos céus, que o Deus Bendito nos concede graças à sua misericórdia. (…) A vossa filha muito dedicada, soror Maria Celeste.»

San Matteo, 19 de Dezembro de 1625.

 

 

Segundo Dava Sobel, autora do livro Galileo’s Daughter, «num mundo que ainda não sabia onde se situava, Galileu iria travar um conflito cósmico com a Igreja, trilhando um perigoso caminho entre o Céu, que ele venerava como bom católico, e o céu, que revelava com o seu telescópio.»

 

Giordano Bruno foi executado no dia 17 de Fevereiro de 1600. Nesse mesmo ano nasceu a filha mais velha de Galileu, Virgínia, que venerava a controversa figura do «mui ilustre senhor seu pai» e decerto acreditava piamente – como Giordano – que o mundo não pode ser finito se o próprio Deus seu criador é por natureza infinito. Em homenagem ao fascínio do pai pelas estrelas, adoptou o nome de Maria Celeste, aos 13 anos, enquanto noviça mendicante do convento das franciscanas de San Matteo, em Arcetri, Florença.

 

Perderam-se as cartas que Galileu escreveu à filha, provavelmente queimadas pela abadessa secular de San Matteo no mesmo lume da intolerância (e do medo) que incendiou Giordano. Pelo contrário, as cartas de soror Celeste para Galileu foram preservadas e provam quanto extremosa era a clarissa boticária: chegou a inventar pomadas, pílulas papais, incensos de açafrão e aloé, doces de cidra e de limão e outros elixires caseiros, que — com bafos de laranja e peras cozidas e rosas e espinhos e folhas verdes — serviam para fortalecer o pai nos seus estudos e protegê-lo das doenças epidémicas.

 

Galileu, que descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Vénus, quatro satélites de Júpiter, os anéis de Saturno e a Via Láctea e por isso foi considerado o mensageiro das estrelas, sobreviveu à filha, a penitente mensageira de Deus.

Os seus últimos anos, de 1634 a 1642, foram de grande sofrimento, tanto pela abjuração como pela solidão familiar como ainda pela cegueira, que lhe proporcionaram ao mesmo tempo inspiração e angústia. Numa carta dirigida à Grã-Duquesa Cristina de Lorena confessara, em 1615, mais ou menos isto: «Descobri nos céus várias coisas que não haviam sido vistas antes do nosso tempo. A novidade desses achados, assim como as consequências que deles decorriam em contradição com as noções físicas comumente defendidas pelos filósofos académicos, acirrou contra mim um número não insignificante de pessoas — como se eu tivesse colocado essas coisas no céu com as minhas próprias mãos com a finalidade de contrariar a Natureza e subverter a Ciência.»

 

_______

"a filha mais velha"

Galileu nunca casou, mas sabe-se que tomou como governanta uma jovem plebeia veneziana de nome Marina di Andrea Gamba, com quem teve três filhos. Virgínia — «a filha por prostituição de Marina de Veneza»nasceu em 1600, Lívia em 1601 e Vincenzo em 1606. Virgínia foi soror Maria Celeste e Lívia foi soror Arcângela no mesmo convento de pobres damas de Arcetri, e Vincenzo acolheu o nome e a profissão do avô e tornou-se tocador de alaúde em Pisa.

 

"Abjuração"

Em 1633, Galileu não resistiu, como Giordano Bruno, e retratou-se perante Urbano VIII e o Tribunal do Santo Ofício, talvez consciente da grandeza da obra que tinha ainda para realizar em silêncio durante os últimos nove anos. Morreu em Janeiro de 1642, e só duzentos anos depois é que o seu polémico Diálogo (de 1632) foi excluído do Index, a lista dos livros proibidos pela Igreja.

Consta que o seu corpo foi sepultado na mesma campa da sua filha Maria Celeste, em lugar habitualmente reservado às noviças, sob a torre sineira da Igreja de Santa Cruz de Florença. Foi transladado para junto do túmulo do seu pai, numa das várias capelas particulares das melhores famílias florentinas daquela basílica franciscana, mesmo em frente do túmulo de Michelangelo, em 1737. Por esta ocasião foram preservados alguns restos mortais: apontando em direcção aos céus, vestígios do seu dedo indicador estão em exposição no antigo Palazzo Castellani, o Museu de História da Ciência de Florença, mais conhecido por Museo Galileo.

 

"carta dirigida à Grã-Duquesa Cristina de Lorena"

Na carta dirigida à "Sereníssima Senhora, a Grã-Duquesa Mãe" da Toscana, Cristina de Lorena, em meados de 1615, Galileu pretendia demonstrar que o conflito com a teoria de Copérnico era irrelevante, já que a Natureza e a Bíblia (a Natura e a Scrittura) são ambas obras de Deus. E, entre outras coisas, apoiou-se em Josué 10: 12-13: «Josué falou ao Senhor e disse, na presença dos israelitas: "(...) Detém-te, ó Sol, sobre Guibeon; e tu, ó Lua, sobre o vale de Aialon." O Sol parou no meio do céu e não se apressou a pôr-se durante quase um dia inteiro.»

 

 

 

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