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os
monstros
e os vícios
Subscrevo o que diz hoje ao Jornal de Notícias
o escritor irlandês Colm Tóibín (n. 1955):
«A Europa não precisou de Bruxelas para conseguir, durante séculos, a livre circulação de ideias. Tudo mudou quando os actuais burocratas chegaram ao poder. Tentaram convencer-nos de que a cultura não é importante, mas sim a livre circulação de capitais.
(...) Cada vez mais, chego à conclusão de que estamos a ser regidos por gente com espíritos dissecados.»
COLM
TÓIBÍN,
JN, 16 de Junho de 2010.

MICHAEL HUTTER:
Die Hexenwippe oder-waage,
óleo sobre tela, série Lemuria III, 2006.
Trabalhamos outra vez mais, durante mais tempo e em condições mais humilhantes, para que os novos monstros que nos governam possam continuar impunemente a alimentar os seus vícios.
«O cidadão, hoje, não é um homem livre, é uma peça da máquina de opressão que se chama democracia. O cidadão é um homem que acredita no que o poder lhe diz. Agora, o poder diz que há uma crise terrível causada pelo facto do cidadão ter vivido acima das suas possibilidades e a única solução é o sacrifício. É falso. A crise é a fuga para a frente de um capitalismo desenfreado. (...) Viver já não é viver, é gerir a vida que temos e convertê-la num projecto rentável. Viver, em definitivo, é trabalhar. A nossa vida está precarizada e humilhada.»
S ANTIAGO
LÓPEZ-PETIT
Revista Visão, 20 de Maio de 2010.
Democracia I: o homem frágil
Oeiras, 9 de Fevereiro de 2010. L.V.C., de 51 anos, levantou-se
cedo, muito antes das sete da manhã, para preparar as suas aulas como era seu costume. Professor de
música numa escola de Sintra, apetecia-lhe tudo menos ir para o
emprego:
talvez ensaiar uma partitura, visitar os
Jerónimos ou dar um passeio a pé pelo Parque dos Poetas... A verdade é que L.V.C. tinha que cumprir o seu
horário de professor sabendo que iria encontrar um grupo de alunos
com um instinto sórdido para o desprezar, cada vez mais insolentes e indisciplinados
e sem vontade de aprender.
Diversas vezes provocado
física e verbalmente na sala de aula, desistira já de fazer mais queixas aos
seus superiores: pesava-lhe agora na consciência a possibilidade de
o considerarem profissionalmente inapto.
«A sardinha quer que a lata seja aberta em direcção ao mar.»
W ERNER
ASPENSTRÖM
Então, nessa manhã, saiu de casa disposto a seguir caminho em direcção
ao Tejo. Entrou na ponte 25 de
Abril, parou o seu pequeno Ford Fiesta a meio do tabuleiro,
saiu do carro e atirou-se...
Em Novembro,
havia deixado no seu computador a seguinte nota: «Se o meu destino é sofrer, dando aulas a alunos que não me respeitam e me põem fora de
mim, não tendo outras fontes de rendimento, a única solução apaziguadora será o suicídio.»
Psicólogos e colegas de trabalho afirmaram aos jornais que L.V.C.
era um homem frágil.
Democracia II: as metas individuais
Rhône-Alpes (sudeste de França), 28 de
Fevereiro de 2010. Monsieur C., de 51 anos, pai de duas crianças e
funcionário da France Télécom, poderia ter acordado com vontade de
dar uma volta pela bonita região do bourg d'Alby ou subir aos Alpes
para desfrutar o ar puro da magnífica paisagem da fronteira com a Suíça. Mas
não: saiu de casa de manhã cedo e pouco depois atirou-se de um viaduto. Segundo os jornais, Didier Lombard, CEO
da empresa, deslocou-se de imediato ao local para iniciar
negociações sobre o princípio da mobilidade forçada e para suspender as metas individuais
impostas ao pessoal destacado em Annecy...
Estes casos não são únicos. Em Setembro de 2009, um professor
de uma escola de Vouzela pôs termo à vida depois de deixar a
seguinte mensagem no seu portátil: «Não consigo mais continuar a ser um bom professor. Esta ministra conseguiu secar tudo o que havia de bom na profissão docente.»
Nos blogues e nas redes sociais de maior impacto (Facebook, Twitter,
Orkut, Hi5...) há cada vez mais relatos de «pressões no trabalho», as mesmíssimas razões que levaram nos dois últimos anos 34
trabalhadores da France Télécom ao suicídio. O mesmo que aconteceu,
aliás, a 12 funcionários do sector bancário francês em 2008.
No
seu livro 'Orange Stressé', 2009 («a laranja estressante», numa
tradução directa que faz referência à empresa de telemóveis da
operadora francesa — a Orange), o jornalista Ivan du Roy fez o
diagnóstico da situação: a França, como a maior parte dos países da
UE, está envolvida num processo de privatização das suas maiores
empresas, obrigando-as a funcionar segundo estratégias do lucro e
rentabilidade económica que pesam sobre a vida profissional, a vida
pessoal e até a intimidade dos seus
funcionários, gerando «fragilização da saúde psicológica e mental de alguns empregados e um grande sentimento de insatisfação»
inerentes a situações de impossibilidade de cumprimento das metas
estabelecidas pelas
chefias.
Democracia III: a coragem, o trabalho e a sobrevivência
«que
poderiam
os poderosos
se não pudessem contar
com aqueles
que não têm poder
que poderiam
os poderosos?
mais poderosos
que os poderosos
seriam
seriam então
os sem poder.»
K URT
MARTI
Lisboa, 12 de Junho de 2010. Nas comemorações dos 25 anos da adesão
de Portugal à União Europeia,
e na sequência da crise financeira que atravessa os países
signatários, Durão Barroso, o infeliz presidente da Comissão, pede liderança e
coragem política aos chefes de Estado.
Liderança e coragem, pois...
Antecipando-se, Angela Merkel, a virtuosa chanceler alemã que há
poucos dias atrás acusava os países mais pobres (Grécia, Portugal,
Espanha...) de não saberem gerir as suas economias internas, decidiu
cortar o 13º mês aos funcionários públicos.
Ao mesmo tempo, nas comemorações do Dia Mundial Contra o Trabalho
Infantil, a Organização Internacional do Trabalho lembrava
que há em todo o mundo cerca de 215 milhões de crianças que têm de
trabalhar para sobreviver.
Em resumo, quando se pensava que o trabalho [uma certa concepção de
trabalho] era um dos milhões de
defuntos de Auschwitz e não voltaríamos a ouvir a máxima «Arbeit macht frei»,
o que nos querem impor agora é infinitamente pior: quem não trabalha
não sobrevive!
D emocracia — epílogo: a necrose
A nosso destino parece ser este: regressados à Idade Média, temos de aprender a lidar
agora com outros deuses, alimentar a sua opulência aniquiladora e viver confinados à
humilhação que é servi-los com a nossa sombra para que resplandeçam de luz.
Carregando o medo de não conseguirmos realizar as tarefas que nos são impostas e sermos despedidos
dos nossos empregos, trabalhamos outra vez mais, durante mais tempo e em condições mais humilhantes, para
que os novos monstros que nos governam possam continuar
impunemente a alimentar os seus vícios.
Até que a inevitável necrose infecte esta democracia fossilizada de
séculos, com a solidão da nossa ausência ou o barulho da nossa
revolta.
______
Educação e economia global não foram escolhidas ao acaso para esta
reflexão. Edgar Morin, o sociólogo francês que publicou 'Cultura de Massas no Século XX — Necrose'
(L’Esprit du Temps: Nécrose, 1975) lançou em 2009 o manifesto
«pour la métamorphose du monde» e elegeu estes dois temas como
prioritários para as mudanças necessárias ao modo de pensar da
sociedade pós-moderna.
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