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  Post 095 -  Outubro de 2012  

 

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os dias todos iguais, esses assassinos...

 

Phoolan Devi

[ a valquíria dos pobres ]

 

 

 

No dia [ 5 de Outubro ] em que duas corajosas mulheres do povo interromperam a cerimónia oficial das comemorações da Implantação da República, em Lisboa, para protestar contra as medidas de austeridade. No mesmo dia em que um antigo dirigente do principal partido da maioria, depois de mais um brutal aumento dos impostos, acusou o governo de «assalto à mão armada aos contribuintes.» (...)

 

 

«Na Índia, se és pobre e te violam, vais à polícia e na esquadra violam-te outra vez.» PHOOLAN DEVI

Numa entrevista a Luis Mazarrasa

El Mundo, 2001.

 

«Na Índia, supõe-se que as filhas dos pobres

são propriedade dos ricos.»

PHOOLAN DEVI

Numa entrevista a Mary Anne Weaver

The Atlantic Monthly, 1996.

 

 

 

 

Há no universo da mitologia diversas deusas castas e justiceiras (Artemis do panteão grego, Diana para os romanos), mas nenhumas são tão vingativas como as valquírias, que cruzam os céus com as suas espadas brilhantes não para suster o ódio, mas para multiplicá-lo. E, se na antiga tradição nórdica as valquírias escolhiam as suas vítimas entre os mais fracos, há no coração da Índia moderna uma mulher lendária — a "rainha dos bandidos" — que ficou conhecida por ter sido humilhada, usar de bárbara vingança sobre os seus inimigos e roubar aos mais ricos para dar aos pobres. Assim, diz Phoolan Devi: «aquilo a que alguns chamam crime eu chamo justiça!»

 

 

 

 

Phoolan Devi, em 2001, no Parlamento Indiano, onde se destacou como

defensora das causas das mulheres, das castas baixas e dos sem-casta.

foto GETTY IMAGES/staff

 

 

 

 

Por alguma razão Phoolan Devi haveria de ser (como diz o seu nome) a "deusa das flores".

 

Nasceu em Gorha ka Purwa, uma pequena aldeia do estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia, a 10 de Agosto de 1963, no seio de uma família da shudra (a casta mais baixa, condenada à condição servil) — amaldiçoada ainda por dar à luz cinco crianças e apenas um filho varão. Cumprindo uma tradição secular, foi obrigada a casar-se aos 11 anos de idade com um homem muito mais velho, mas recusou as obrigações do matrimónio. Regressou a casa e foi humilhada pela própria família, que lhe propôs o suicídio para se expurgar da desonra.

 

Ora acusada de promiscuidade, ora vítima de inúmeras atrocidades sexuais, Phoolan Devi refugiou-se nas densas florestas do norte e centro da Índia, principalmente entre Dholpur e as margens do Chambal (o rio conhecido por arrastar o sangue das vacas sacrificadas pelo rei ariano Ranti Deva), perpetrando uma série de ataques violentos às castas superiores.

 

Em Agosto de 1980, na pequena aldeia de Behmai (então distrito de Kanpur Dehat, agora Ramabai Nagar), foi capturada, violada inúmeras vezes durante três semanas consecutivas e por fim abandonada. Ao repórter do jornal El Mundo que a entrevistou em 1994, admitiu ter sido protegida por Maa Durga, a deusa-mãe, «uma das personalidades mais terríveis de Parvati, a consorte de Shiva, o deus da trimurti ou Santíssima Trindade da cosmologia hindu, que destrói o Universo e volta a criá-lo a partir da energia que se desprende da sua dança. Durga é representada a cavalgar um tigre e com uma arma em cada um dos seus dez braços; é com elas que abate os demónios» (do texto de Luis Mazarrasa, El Mundo, publicado a 29 de Julho de 2001).

Regressou menos de um ano depois, a 14 de Fevereiro (dia de S. Valentim) de 1981, para vingar o amante que fora assassinado: com o seu novo grupo de rebeldes, executou vinte e dois aldeãos thakur, conhecidos pela sua ascendência feudal e por exercerem constante brutalidade sobre as castas inferiores. O crime abalou toda a Índia e durante os dois anos seguintes Phoolan desafiou as autoridades do país, tomando de assalto dezenas de aldeias com o megafone em punho para ordenar aos ricos que entregassem os seus bens.

 

No princípio de Fevereiro de 1983, quase dois anos depois do massacre de Behmai e após longos meses de negociações, Phoolan Devi entregou-se às autoridades do estado de Madhya Pradesh, na presença de 300 militares e mais de uma centena de repórteres de todo o mundo. O cenário foi meticulosamente montado, e segundo o relato da conhecida jornalista Mary Anne Weaver (India's Bandit Queen, The Atlantic Monthly, Novembro de 1996), Phoolan trazia vestido um uniforme caqui com um cinto de munições ao peito, uma espingarda Mauser pelos ombros, um xaile e ainda um lenço vermelho na cabeça. Curvou-se sob os retratos de Durga e Gandhi e foi aclamada por mais de oito mil populares que se juntaram e que a consideravam já uma espécie de "borboleta da floresta" — deusa das flores e dos pobres.

 

Esteve presa sem julgamento durante 11 anos. Aprendeu a ler e a escrever e casou-se com um negociante de sucesso. Em Junho de 1996 foi eleita para a câmara baixa (a Lok Sabha, que representa o povo) do Parlamento da Índia, onde se destacou como defensora das causas das mulheres, das castas baixas e dos sem-casta.

 

Consta que nos últimos anos Phoolan Devi ameaçou separar-se do seu último marido, Ummed Singh, e há quem acredite que foi este o mandante de três encapuzados que a mataram a tiro à porta de casa, em Nova Deli, no dia 25 de Julho de 2001. A versão oficial atribui o atentando aos sobreviventes de Behmai.

 

Aos jornalistas confessou certa vez que fazia listas exaustivas daqueles que não lhe permitiram viver com dignidade... Só não conseguiu vingar-se dos seus próprios assassinos.

 

 

 

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