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  Post 139 -  Outubro de 2013  

 

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«A modernidade é o nosso destino.»

S. P. ROUANET

 

 

 

 

foto RUTH MATILDA ANDERSON Mozo galego con boina Muros, A Coruña, 1924.

 

 

 

 

1. todos somos judeus

 

A chegada de Hitler ao governo em 1933 foi absolutamente democrática. Tão democrática como a chegada de Portugal ao Euro. Nem os nazis permitiram novas eleições nem os europeístas permitem voltar atrás.

Cego está o Angelus Novus — o anjo da História —

à beira do precipício.

 

No universo da porca União Europeia, para a prepotente Alemanha todos somos judeus. Os portugueses são judeus, os gregos são judeus, os espanhóis são judeus, os italianos são judeus...

 

 

Lasciate ogni speranza voi che entrate.

Abandonai a esperança, vós que entrais. Assim dizia Dante nas portas do Inferno. O mesmo diziam os honrados "cidadãos" do Terceiro Reich aos pobres judeus de Berlim.

 

Judeus serão também os húngaros, os macedónios, os sérvios e todos os outros povos dos chamados países da Europa Central e Oriental (PECO), sobre os quais cairá também, mais cedo ou mais tarde, a pata capitalista na sua fúria pela conquista de Salammbô...

 

 

 

2. a memória dos vencidos

 

Verdi morreu. Acabou-se a folia? Não. E, no entanto, continua a haver muitas bocas para alimentar...

 

A supremacia dos mercados sobre os Estados começa com a brutal ameaça a tudo o que é público, ou seja: com o aniquilamento absoluto da concorrência reguladora, conseguido através da cumplicidade de políticos corruptos que se dispõem a lucrar com os grandes negócios privados. Walter Benjamin chamou-lhe «a empatia pelos vencedores», ou esse desejo cruel de participar no «cortejo triunfal». E, como se supõe de Reyes Mate, não há um suspiro de misericórdia, um gesto que seja de respeito pela memória dos vencidos.  

 

 

 

3. o único caminho

 

Se fosse tão fácil roubarem-nos a língua como nos roubaram o Estado, já não teríamos Camões, nem Pessoa, nem Pátria. Afinal, porquê esta total ausência de inveja em relação ao passado? (Hermann Lotze)

 

É este o único caminho — dizem-nos. E o resultado é que, ignorando séculos de história (e o que dizia Pascoaes: «Não há pior erro do que esse de cultivar num povo qualidades estranhas que lhe não pertencem por natureza», 1913), somos ainda um povo e já quase não temos Estado. E todos, de uma maneira ou de outra, estamos condenados a gemer este triste fado. O fado, por exemplo, de termos um presidente da República que obteve lucros excepcionais com a falência de bancos fraudulentos, o fado de termos um ministro dos Negócios Estrangeiros que colaborou na gestão danosa que levou esses bancos à falência, o fado de termos uma ministra das Finanças que negociou com swaps para salvar esses bancos... E em qualquer dos casos provocando-nos prejuízos extraordinários.

 

 

 

4. libertar Cartago

 

Garda a túa Ítaca, Xosé!

A Europa implora pela eutanásia.

 

Assim, levados a acreditar que, como outrora os pequenos merceeiros judeus do Terceiro Reich, somos todos feios, porcos e maus (Etore Scolla, 1976), desprezamos o que se supôs em A Condição Humana (Hannah Arendt, 1958), e já não acreditamos na política como acção e como processo com vista à conquista da nossa liberdade.

 

Como diria Flaubert, poucas pessoas saberão quanta tristeza foi necessária para ganhar coragem para libertar Cartago.

 

Agora (agora, sim, um agora num tempo saturado de "agoras"), a responsabilidade dos cidadãos é combater sozinhos esta fatalidade de modernidade.

 

 

_______

"a modernidade é o nosso destino"

SÉRGIO PAULO ROUANET em A razão nômade: Walter Benjamin e outros viajantes, Rio de Janeiro, 1994. Rouanet diz também: «O esvaziamento da tradição não é necessariamente um mal, pois enquanto arquivo da injustiça, ela contribui, de certo modo, para perpetuá-la.» (Édipo e o anjo, Rio de Janeiro, 1981). Pois, se a modernidade é o nosso destino, a que modernidade nos estaremos a referir?

 

"Lasciate ogni speranza"

Segundo o relato de Max Weber, abandonai a esperança poderá ter sido também o que o judeu Georg Simmel ouviu quando se propôs ensinar numa universidade alemã. Episódios como este terão levado Simmel e desenvolver a ideia de «tragédia da cultura», algo que Weber define como o dilema entre a ética da responsabilidade e a ética da convicção: grosso modo, a negação da cultura é o que leva o homem moderno a enclausurar-se numa espécie de "jaula de ferro", transformando-se em vítima das suas próprias decisões.

 

"Salammbô"

Princesa de Cartago. No romance homónimo de Gustave Flaubert (1862), Salammbô foi cortejada por Mâtho, um dos soldados mercenários do exército cartaginês. Em Salammbô, Flaubert descreve ainda a revolta dos mercenários, por não terem recebido as recompensas prometidas pelas suas conquistas...

 

ADRIEN-HENRI TANOUX, Salammbô (crop), 1921.

 

"ignorando séculos de história"

Como se deduz de Nietzsche, precisamos da história, mas não como dela precisam os ociosos que passeiam no jardim da Ciência ou da Economia («São esses tipos — cientistas, engenheiros, homens da prancheta — as personificações do carácter destrutivo, cujo lema é criar espaço, desobstruir caminhos. Desvinculado da tradição, entendida como experiência comunicável e coletiva, o património cultural torna-se um fardo morto, um obstáculo à construção do novo. O seu movimento não abre nenhum caminho: condenado à repetição mítica, é uma pantomima do mesmo... ou os despojos do cortejo triunfal da história», KATIA MURICY, Alegorias da Dialética — Imagem e Pensamento em Walter Benjamin, Rio de Janeiro, 1998). Porque «a teoria e, mais ainda, a prática da social-democracia foram determinadas por um conceito dogmático de progresso sem qualquer vínculo com a realidade.» (WALTER BENJAMIN, Sobre o conceito da História, 1940).

Esperam-nos, enfim, muitas tempestades. A cada tempestade que nos espera, nós chamamos progresso.

 

 

No dia [ 13 de Outubro de 2013 ] em que Mário Soares defendeu na TSF que «alguns governantes são delinquentes e deviam ser condenados.»

Ao contrário da matilha de comentadores dos jornais e das televisões e das redes sociais que se colocam ao serviço do governo (o «cortejo triunfal»), eu não posso deixar de concordar. Na verdade, quem anda para aí a dizer que o Estado tem de emagrecer, que nós andamos a viver acima das nossas possibilidades, que o Tribunal Constitucional é uma força de bloqueio, que devemos vassalagem ao FMI, que temos de pagar a nossa dívida mesmo com juros de oito e dez e vinte e quarenta por cento ou mais, que temos de trabalhar até aos 70 anos e que um emprego já não é para toda a vida... só pode ser delinquente.

É preciso que haja alguém que seja capaz de dizer em poucas palavras aquilo que é preciso fazer: meter esta gente nos tribunais para que respondam pelos crimes que andam a cometer.

 

 

 

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A alma tem muitos inquilinos

que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

GÖRAN PALM

 

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