
De Maio a Setembro, nas grandes romarias do Minho brilham os andores e as procissões, as bandas filarmónicas e os ranchos folclóricos, os gigantones, os bombos, as concertinas e os cantadores ao desafio, mas as verdadeiras rainhas das festas são as Mordomas: noivas, senhoras e lavradeiras.

Já foi o Natal! De 27 para 28 de Dezembro correu uma noite de folia em honra de S. João Evangelista, padroeiro da freguesia. Os rapazes, ávidos de gozação, estipularam o dia em volta da gigantesca fogueira que ainda fumega no largo do lugar.

(...) em Pedrário, a bonita igreja de estilo românico mantém-se fechada. Nesta aldeia, a visita pascal já só se realiza de dois em dois anos. Albina Teixeira não vai à missa, que se realiza na aldeia vizinha de Sarraquinhos. Já perdeu a conta aos anos que viveu e está prestes a perder também a fé...

«Pela manhã acorda tonto de luz.
Vai ao povoado e grita:
— Quem me roubou o sol
que vai tão alto?»
MANUEL DA FONSECA
O sol do mendigo

Maria Gonçalves Malta (82) e Felicidade Coelho (74)
Ser mulher no Portugal interior, serrano e profundo, é quase sempre e ainda sinal de dor e de luto. Lenços negros são indícios de perda: perda da juventude que tudo ameaçou ou perda do chefe da família que foi dominante ou — ainda mais doloroso — as duas perdas ao mesmo tempo.

Já quase não há gado. Nem linho, nem lã, nem roca. Agora a gente negoceia com o vento… As eólicas estão espalhadas por toda a montanha.

ROMANCE DO HOMEM RICO
«Era um homem muito rico,/duas vezes viuvou,/arranjou a mulher pobre,/grande soberba apanhou...»
(tradicional)

(...) Todas estas romarias juntam, ano após ano, milhares de pessoas, e nelas subsistem ainda maravilhosos ritos do sagrado e do profano que se misturam e se completam num imaginário expressivo de fé e tradição.

Em Amarante as Festas do Junho são dedicadas a S. Gonçalo (1187-1259). Monge disputado entre beneditinos e dominicanos, é adorado pelo povo e conhecido como casamenteiro das velhas, milagreiro e folgazão.

Muitas famílias, especialmente do interior, mantêm ainda o hábito de rezar diariamente em frente destes ícones, acreditando nos seus benefícios: «eles têm poderes que Nosso Senhor lhes consagrou e são exemplos da fé que lhes custou muitos sofrimentos.»

«A água no S. João vira vinho, azeite
e não dá pão.»
HELENA SUBTIL, Réfega.

«A flor no baldio/Bota rosa quando quer./É como rapaz solteiro/Enquanto não tem mulher.»
MARIA TERESA, Pitões das Júnias

A serra do Marão é um território soberbo de água e de pedra. (...) A rudeza de quem aqui vive deve-se talvez às mesmas agrestes razões que sustentam opulentas vacas de um castanho muito escuro, cabras selvagens, coelhos bravos do monte, lobos, águias e grandes corvos de um negro carregado de muitas lendas de maus agouros…

MERCADOS TRADICIONAIS DO NASO E SENDIM
Para quem deixa o vale do Sabor ainda carregado de névoa e sobe até ao planalto mirandês, logo ao nascer do dia, seguindo por Carviçais, Fornos, Lagoaça, Mogadouro… há-de ver as carroças dos burros que tomam a estrada de betume com a carga das primeiras horas de um dia de trabalho, ainda na companhia dos seus velhos donos. Estes animais são a principal atracção dos Gorazes, todos os anos a 30 de Outubro.

«Tens agora/Outro rosto, outra beleza:/Um rosto que é preciso imaginar,/E uma beleza mais furtiva ainda…/Assim te modelaram caprichosas,/Mãos irreais que tornam irreal/O barro que nos foge da retina...»
MIGUEL TORGA
Transfiguração

VIAGEM NA LINHA DO DOURO
(...) A grande maioria dos utentes que circula entre as pequenas estações e apeadeiros são operários indiferenciados, pequenos comerciantes e idosos sem meios de transporte próprio, que têm de se deslocar diariamente para o seu trabalho, visitar familiares e amigos ou fazer as suas compras nos mercados locais. Fazem «vidas de comboio»

De Ervedosa a Vale da Teja
DOURO PATRIMÓNIO MUNDIAL
«O Alto Douro Vinhateiro é uma zona particularmente representativa da paisagem que caracteriza a vasta Região Demarcada do Douro, a mais antiga região vitícola regulamentada do mundo.»

MATANÇA DO PORCO
«A vaca é nobreza, a cabra é mantença, a ovelha é riqueza, mas o porco é tesouro.» (Popular)
Na Europa medieval a criação de porcos era um sinal de fartura e ao mesmo tempo uma oportunidade para o fortalecimento dos laços familiares, quer através da festa, quer através da partilha...