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MATANÇA DO PORCO:
VIDA E MORTE CLANDESTINAS
Matança do porco: vida e morte clandestinas

«A vaca é nobreza, a cabra é mantença, a ovelha é riqueza, mas o porco é tesouro.»
(Popular)
Como mandrágora arrancada da terra, o animal grunhe desalmadamente por entre o chinfrim dos homens.
São 7h30 da manhã. Depois de um ano inteiro a alimentar-se do supérfluo, chegou a hora de morrer.
Jejuou a noite anterior para «limpar».
Os menos temerários rezam, afastados do episódio e das desgraças, «não vá encolher o sangue» na hora da picada fatal.

Na Europa medieval a criação de porcos era um sinal de fartura e ao mesmo tempo uma oportunidade para o fortalecimento dos laços familiares, quer através da festa, quer através da partilha. Segundo Walter Burkert (A Criação do Sagrado, Edições 70, Lisboa, 1996),
«o festim constitui o paradigma da partilha de alimentos, o que, por seu turno, é uma forma de colaboração básica entre os seres humanos.» Na verdade, quanto maior era a criação, maior o poder económico e a capacidade de manter as interacções com a família e também com a vizinhança. Compreende-se, por isso, que em muitas comunidades rurais a casa do porco (a 'pocilga') ficava paredes meias com a casa dos seus donos.
Não se tratando de um sacrifício, o ritual da matança é ainda hoje um episódio carregado de simbologias e superstições: em certas aldeias, no momento da execução reza-se para o sangue não coalhar, enquanto noutros lugares as mulheres que se encontram no período menstrual excluem-se voluntariamente da vigília do corpo do porco morto para não lhe estragar a carne.
Apoio bibliográfico: SANDRA NOGUEIRA, A Criação Tradicional de Porcos em Portugal: Análise Antropológica (...), s/d.
«Comeu-se? Bebeu-se? Ate-se os panos, fuma quem tem costumes e vamos...»
Para lá do Marão, Janeiro de 2012.
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