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ALENTEJO: O SOL DO MENDIGO
O sol do mendigo

«Pela manhã acorda tonto de luz.
Vai ao povoado e grita:
— Quem me roubou o sol que vai tão alto?»
MANUEL DA FONSECA
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ENSAIO SOBRE A SOLIDÃO
Jacinta Rosa Carrilho: ensaio sobre a solidão

«O meio urbano,
ao gerar diferentes dinâmicas de relacionamento
entre os indivíduos, tende a marginalizar os
mais fracos, incapazes de manter o seu ritmo e a
apagá-los, retirando-lhes qualquer visibilidade
social. Envelhecer na cidade é arriscar-se a
acabar os seus dias cada vez mais só…»
PAULA MARQUES (com
Cláudia Barbosa), A Solidão na Terceira Idade,
s/d.
No princípio, o
Capitalismo apresentava-se como um método para a
social democratização. No advento da Pop Art,
Warhol chegou mesmo a dizer:
«O que é extraordinário na América é ter sido
o primeiro país a instaurar o hábito que faz com
que os consumidores mais ricos comprem as mesmas
coisas que os mais pobres
[ou o contrário]. Observando a
publicidade na TV para a Coca-Cola, sabes que o
presidente está prestes a beber Coca-Cola, que a
Liz Taylor bebe Coca-Cola e que — inacreditável
— também tu podes beber Coca-Cola!»
A história da
evolução do fenómeno revelou-se trágica e o
Capitalismo está a condicionar duma forma
avassaladora o êxito das nossas relações.
A maneira como vestimos, os processos com que
comunicamos, os nossos laços profissionais
determinam cada vez mais o índice de
sociabilidade. Num mundo globalizado,
«ninguém, por mais rico ou mais pobre que
seja, pode fugir à moral e ao Capitalismo.
Trabalhar, poupar, consumir, é forçosamente
participar no sistema, quer se queira quer não».
ANDRÉ COMTE-SPONVILLE, O Capitalismo será moral?
Especialmente no meio urbano, onde as dinâmicas
de relacionamento entre os indivíduos tendem a
marginalizar os mais fracos, a falta e/ou
deficiência de relacionamentos significativos
(isto é: o défice da rede de relações sociais,
quer qualitativas quer quantitativas) provoca
esse sentimento de desintegração, disfunção,
insatisfação emocional a que se pode chamar
solidão. Na verdade, a competitividade
ultrapassou as barreiras do impessoal e está a
separar-nos em vez de nos unir.
PAULA MARQUES (com Cláudia Barbosa)
DANIEL PERLAM (com L. A. Peplau)
«A solidão não é apenas um desejo de relação,
mas da relação certa (…)»
ROBERT S. WEISS, 1973.
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