som de entrada VIRA DAS PALMAS (tocador: Rafael - VIANA BOMBOS) Nossa Senhora da Agonia 2014 | slideshow GRUPO FOLCLÓRICO DE VIANA DO CASTELO

FOTOGRAFIA

NOIVAS, SENHORAS E LAVRADEIRAS DO MINHO

Noivas, senhoras e lavradeiras do Minho

Festa das Rosas de Vila Franca, Senhora do Amparo de Cardielos, Santo António em Afife, S. Pedro e S. Paulo de Serreleis, S. Tiago de Vila Nova de Anha, S. Miguel, S. José e Senhora das Dores de Perre, Santa Cristina da Meadela, Senhora das Neves em Barroselas, Santa Marta de Portuzelo, Senhora da Graça no Carreço, Senhora d'Agonia de Viana, S. Mamede da Areosa, S. João d'Arga, Senhora de Guadalupe de Castelo do Neiva, Senhora das Dores (Feiras Novas) de Ponte de Lima... De Maio a Setembro, nas grandes romarias do Minho brilham os andores e as procissões, as bandas filarmónicas e os ranchos folclóricos, os gigantones, os bombos, as concertinas e os cantadores ao desafio, mas as verdadeiras rainhas das festas são as Mordomas: noivas, senhoras e lavradeiras.

 

 

 

AS MORDOMIAS

«Ó meu amor de algum dia,

havemos de ir a Viana...»

Música: Alain Oulman

Letra: Pedro Homem de Melo

Voz: Amália Rodrigues

 

Logo pela alvorada chegam as primeiras raparigas com os seus fatos vermelhos (há ainda os lenços amarelos, verdes e azuis com flores ou cornucópias), meias brancas em croché e chinelas, socos ou tamancos pretos ou com ramalhetes em algodão de várias cores, coletes de apertar à frente com cordões e de coloridos bordados nas costas, algibeiras à cintura entre a saia e o avental florido, camisas de linho com ponto de cruz nas mangas e nos ombros, brincos à rainha, entre seis a nove fios de ouro com crucifixos e medalhões e um lenço de tranças na cabeça e outro pelos ombros: são as lavradeiras.

Sentadas nos bancos de pedra estão várias noivas vestidas de preto ou azul escuro, de véu branco de tule bordado na cabeça e com velas votivas, palmitos ou ramos de andor na mão, e mais adiante outras raparigas solteiras, de fartas peças douradas ao peito, saias pelo tornozelo e aventais escuros decorados com missangas e vidrilhos (com motivos silvestres ou coroas a ladear o escudo de Portugal ou das diferentes freguesias) e todas trazem pela mão os famosos lenços de amor...

Depois, muitas outras raparigas com os seus fatos garridos de festa e de domingar, meias senhoras com um xaile dobrado no braço, bonitas sombrinhas de seda ou de renda preta ou branca e soberbas peças de ouro velho da família, e ainda as mulheres viúvas com os seus fatos escuros de dó.

Em pouco tempo juntam-se centenas de raparigas e senhoras de vistosos trajes à Vianesa, e logo passeiam pelas ruas da cidade para se apresentarem ao povo e para os habituais cumprimentos às autoridades. Fecha a banda filarmónica da Sociedade Bingre Canelense com o hino da Amália: «Ó meu amor de algum dia...»

Os desfiles das mordomias de Viana são espectáculos generosos de se ver, só comparáveis com os melhores quadros da Criação.

 

 

«Muito bonito é o ouro no pescoço da donzela.»

Coração de Viana MUSEU DA OURIVESARIA TRADICIONAL Viana do Castelo

 

 

O OURO

«Antoninho pede à mãe

Relógio d’ouro p’ró bolso,

Qu’eu também peço à minha

Cordão d’ouro pr’ó pescoço.»

(Cancioneiro popular)

 

Arrecadas de bambolina ou de pelicano, brincos de rei ou de rainha (de chapola, "parolos" ou "de luto"), argolas carniceiras ou em regueifa, laças fidalgas em flor cravejadas de diamantes, escapulários e medalhas milagrosas de santas (Senhora da Conceição e Nossa Senhora das Graças), corações de Viana (barrocos, opados, de filigrana, flamejantes ou duplos), cordões finos e trancelins, colares de contas com cristos ou borboletas, cruzes barrocas, de Malta ou de canevão, gramalheiras e medalhões diversos, libras, estrelas de rodilhão, custódias...

Na tradição minhota o ouro é sinal de beleza, reconhecimento e protecção. Nas senhoras casadas o ouro representa a boa governança da casa, nas raparigas solteiras é revelador dos dotes da família, e nas noivas garante a pureza da carne, não havendo como duvidar ou ameaçar do seu bom nome. Em todo o caso, e ao contrário de outros tempos, qualquer ouro colocado abaixo do umbigo é de gosto duvidoso.

Era costume dos antigos embeberem o ouro na água do primeiro banho dos recém-nascidos, augurando-lhes assim longa vida e prosperidade.

 

 

AS VELAS VOTIVAS, O LENÇO DE TULE E OS TRÊS VINTÉNS...

«Raparigas de Viana

são duras como o arame,

não há machado que as corte

nem rapaz que as engane...»

(Vira das Palmas)

 

As noivas são raparigas «sem fama», que transportam as suas velas votivas acesas desde a alvorada e assim devem manter-se até ao altar, na missa solene da Igreja da Senhora d'Agonia. Diz o juízo do povo que se alguma vela se apagar é porque a rapariga não é casta, e por isso não merece as honras da festa. Com o mesmo esmero hão-de guardar o marido e o traje de casamento, que segundo a tradição deverá servir-lhes de mortalha.

 

Sendo numerosos e severos os códigos do antigo trajar das mulheres minhotas, nenhuma rapariga pode sair de casa sem o seu lenço na cabeça, cruzado no pescoço e preso por um alfinete com três vinténs (ou três libras com a efígie da rainha Vitória de Inglaterra, nos lenços de tule branco das noivas de Santa Marta de Portuzelo) que só é retirado pela mãe no dia do casamento.

«Em várias zonas do distrito de Viana do Castelo, faz parte da tradição a crença na ideia de que, de todos os amuletos usados, só um se deveria ocultar dos olhares de estranhos: aquele colocado pela mãe no pescoço da filha, no dia de S. João a seguir ao aparecimento da primeira menstruação. Consistia este amuleto numa moeda de três vinténs (...) Pelo seu secretismo e pela associação ao casamento, o amuleto minhoto ficou conotado com a virgindade de uma rapariga, e a expressão "tirar os três", sinónimo do desfloramento de uma jovem, é ainda usada, vulgarmente, nos nossos dias.» (Rosa Maria dos Santos Mota, O USO DO OURO POPULAR NO NORTE DE PORTUGAL NO SÉCULO XX, tese de doutoramento, Universidade Católica, Setembro de 2014).

 

 

OS CORAÇÕES

«Aqui tens o meu coração

e a chabe pró abrir,

não tenho mais que te dar

nem tu mais que me pedir.»

(Lenço de namorados)

 

Noivas, senhoras e lavradeiras hão-de ostentar corações de ouro. Símbolos da cidade de Viana, os corações fazem parte da iconografia dos seus bordados tradicionais, e até as algibeiras escondidas entre o saiote e o avental (do lado direito nas lavradeiras e à esquerda nas noivas) são em forma de borboleta (corações invertidos), onde muitas vezes são bordadas as palavras "Viana" e "Amor" («Tão raro é não ver nelas figurar as palavras Viana e Amor», como registou o célebre etnógrafo Amadeu Costa).

 

 

 

S. JOÃO D'ARGA

Procissão solene de S. João D'Arga, Caminha.

5'23'' Agosto 2015

 

Vira geral | GRUPO ETNOGRÁFICO DA AREOSA S. Mamede, Areosa | 30 AGO 2015 1'01''

 

Havemos de ir a Viana | BANDA DE MÚSICA DA CASA DO POVO DE MOREIRA DO LIMA S. João d'Arga, Caminha | 29 AGO 2015 1'31''

 

Procissão | BANDA FILARMÓNICA DE VILA NOVA DE ANHA Senhora de Guadalupe, Castelo do Neiva | 31 AGO 2014 0'55''

 

Vira das palmas | RAFAEL (Viana Bombos), Nossa Senhora da Agonia, Viana do Castelo | 20 AGO 2014 0'48''

 

 

OUTRAS HISTÓRIAS

RETRATOS & TRANSFIGURAÇÕES

AMARANTE: MIL VIDAS TEM S. GONÇALO

VIDAS DE COMBOIO

MATANÇA DO PORCO: VIDA E MORTE CLANDESTINAS

RETRATOS DA PENEDA-GERÊS

FEIRAS DA RAIA TRANSMONTANA

 

TODAS AS FOTOGRAFIAS