FOTOGRAFIA
A FESTA DOS RAPAZES
A Festa dos Rapazes

«Os rapazes assim metamorfoseados são os verdadeiros animadores da festa. Tornam-se figuras diabólicas e mágicas, sob a máscara de latão pintado ou de madeira, o colorido dos seus fatos, com fitas, campainhas e chocalhos à volta do corpo. São os 'caretos', dificilmente identificáveis, se não de todo impossível, a quem toda a sorte de disparates, tropelias e brincadeiras lhes é permitido fazer. O mascarado torna-se um ser superior, mágico e profético, diabo e sacerdote ao mesmo tempo.»
ANTÓNIO PINELO
TIZA Inverno Mágico - Ritos e Mistérios Transmontanos
(Ed. Ésquilo, Lisboa, 2004).
{Tasca da Florbela} Lazarim, Lamego
Lazarim, Lamego
Lazarim, Lamego
Lazarim, Lamego
Lazarim, Lamego
{Centro Interpretativo da Máscara Ibérica} Lazarim, Lamego
{Centro Interpretativo da Máscara Ibérica} Lazarim, Lamego
{Centro Interpretativo da Máscara Ibérica} Lazarim, Lamego
{Centro Interpretativo da Máscara Ibérica} Lazarim, Lamego
{as testamenteiras} Lazarim, Lamego
{o artesão: Paulo Marco Fernandes} Lazarim, Lamego
{a máscara} Amarante
{Cármen Anunciação Pires} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{Valdemar e pauliteiro José António Preto} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{"Vielha" com Albertina Rosa Antão} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{"Vielha"} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{"Vielha" com rapariga} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{"Vielha" com rapariga} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{Pauliteiros com rapariga} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
CARETOS DE PODENCE Podence, Macedo de Cavaleiros
{Fábia do Nascimento Gonçalves} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
FESTA DO FARANDULO OU DO SANTO MENINO Tó, Mogadouro
FESTA DO FARANDULO OU DO SANTO MENINO Tó, Mogadouro
VELHOS CHOCALHEIROS Vale de Porco, Mogadouro
FESTA DOS VELHOS Bruçó, Mogadouro
FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{Cármen Anunciação Pires} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
{Ana da Conceição Miguel e Cármen Anunciação Pires} FESTA DOS RAPAZES Constantim, Miranda do Douro
A FESTA DOS RAPAZES
Constantim, Miranda do Douro


Constantim,
Miranda do Douro
Dezembro 2006
Já foi o Natal! De 27 para 28 de Dezembro correu uma noite de folia em honra de S. João Evangelista, padroeiro da freguesia. Os rapazes, ávidos de gozação, estipularam o dia em volta da gigantesca fogueira que ainda fumega no largo do lugar. Assim, logo pela madrugada, vestem o
"Carocho" com uma máscara de couro, um rosário de carretos de linhas — já vazios — pelo pescoço e um enorme garfo de madeira que há-de recolher os salpicões ou fazer tropeçar as raparigas da aldeia.
Juntam-se-lhe velhos gaiteiros, tocadores de bombo e de
fraita (flauta pastoril, cinzelada na madeira) e os dançadores com seus chapéus decorados com rosas: os Pauliteiros de Constantim!
No prolongamento da festa percorrem todas as casas, uma a uma: comem e bebem, dançam a pedido e lançam a lascívia do
"Carocho" sobre as filhas virgens do lar. E, porque na agonia do ano velho tudo se perdoa, trocam-se prendas e cumprimentos. A falsa fêmea do grupo da folgança (a
"Tiê Vielha", de blusa de chita estampada e com um rosário de castanhas assadas pelo pescoço) vem despedir-se da dona da casa, enquanto o chefe da família tem direito a lançar um foguete, que há-de dar sorte para o novo ano.
À meia para as duas da tarde há missa. O profano dá lugar ao sagrado, mas a gaita soa com um
Lhaço divino dentro do lugar santo. Os pauliteiros dançam na hora do ofertório. Depois da procissão à volta da igreja, o ritual da mesclagem entre o sagrado e o profano cumpre-se mesmo ali, em frente do cruzeiro, com o
"Carocho" e a "Tiê Vielha" ensaiando gestos de acasalamento.
Tudo não passa de uma cena de Carnaval de Inverno (um rito do solstício) em Constantim, terras de Miranda. E como diz o povo,
«Ne Antruido fázen uas macadas que a la giente dá-le ua risa mui grande.»

A HISTÓRIA DE FÁBIA
Em Constantim as mulheres são prendadas. Júlia é
especialista em feijoadas e Felisbina Rosa em
chás. Fábia do Nascimento Gonçalves tem 78 anos
e também já foi à televisão: a sua especialidade
é fazer bolos.
Enviuvou grávida, depois de sete meses de
casamento: o marido faleceu ao lançar um
foguete. Nas festas de S. João Evangelista (a
Festa dos Rapazes) aceita os tremoços e as
azeitonas e paga aos pauliteiros para dançarem
um Lhaço à porta da sua casa, mas não
quer que se lance o foguete como é da tradição.
FESTA DOS CARETOS
Podence, Macedo de Cavaleiros

Carnaval, Março de 2011. Em Podence, a poucos
quilómetros de Macedo de Cavaleiros, cumprem-se
as Saturnais Romanas — as celebrações em honra
de Saturno, deus das sementeiras. Os diabos
fazem as suas últimas maldades antes da
Quaresma: com máscaras de couro ou de lata,
vestindo colchas franjadas de lã ou de linho,
com uma enfiada de chocalhos à cintura e
bandoleiras de campainhas, os "Caretos"
percorrem a aldeia em estranhas correrias atrás
das raparigas solteiras...
A festa está agora transformada num produto
turístico, aberta a gaiteiros e gigantones, às
barracas de comes e bebes e aos passeios de
burro. Subsistem, porém, na atmosfera rural, a
lascívia dos chocalhos lançados contra as ancas
das mulheres mais desprevenidas, e os
"Facanitos" — jovens impúberes que vestem a
mesma indumentária e prometem continuar a
tradição.
FESTA DOS VELHOS
Bruçó, Mogadouro

Em Bruçó, no concelho de Mogadouro, os
adolescentes carregam grandes bexigas de porco
atadas na ponta de varapaus para provocarem os
mais velhos. Do desafio resultam demoradas
perseguições que acabam em acesas disputas entre
novos e velhos, num ritual de passagem à idade
adulta.
No seu passeio pela aldeia o "Soldado" tanto
oferece como protege a "Sécia" (a mulher,
que traz uma boneca ao colo), e às provocações
do povo — «Maria, vais com todos, sua galdéria!»
— responde com fortes açoites de cinturão de
couro para defender a honra.
Do casal de "Velhos" que compõem as quatro
figuras do cortejo espera-se que imponha
respeito. Com os seus cajados vão limpando as
ruas das bexigas que sobraram da violência dos
confrontos. A festa repete-se todos os anos no
dia da Natal e termina com o arrematar das
oferendas recebidas para o altar de Nossa
Senhora.
FESTA DO FARANDULO OU DO SANTO MENINO
Tó,
Mogadouro

São sete e meia da manhã. Em Tó, Mogadouro, o
"Farandulo" solta-se e dá uma primeira volta
pela aldeia à procura de raparigas solteiras.
Parece um rei negro com uma coroa branca e preta
na cabeça, um casaco cinzento vestido do avesso,
um saia escura e comprida, um colar de carrinhos
de linha vazios pelo pescoço e na mão um pau de
ponta bifurcada para apanhar os enchidos nas
casas onde consegue entrar.
A "Sécia" veste-se de noiva, de manto branco
rendado na cabeça e na mão um ramalhete de
guloseimas com uma tangerina espetada no topo.
Nas diversas investidas até à hora da missa é o
"Moço" que a defende da cobiça e da volúpia do
"Farandulo"...
O "Mordomo" e os "Tamborileiros" (gaita de
foles, bombo e caixa) compõem o grupo de
foliões.
VELHOS CHOCALHEIROS
Vale de Porco, Mogadouro

Em Vale de Porco a tradição está a perder-se.
Escondidos em máscaras de madeira pintada de
vermelho e envoltos em serapilheira amarrada ao
corpo por cinturões de chocalhos, crianças e
adolescentes pedem guloseimas e agradecem com
sonoros pulos de satisfação.
FOTOGRAFIA
MIRANDA YÊ LA MIE TIÊRRA
Miranda yê la mie tiêrra: aldeias de Miranda do Douro

FLORENÇA PIRES (87) Constantim, Miranda do Douro
MARIA JUSTINA ALONSO (79) Malhadas, Miranda do Douro
ADELINA AUGUSTA PIRES (76) Malhadas, Miranda do Douro
{Amadeu} Póvoa, Miranda do Douro
{Agostinho} NOSSA SENHORA DO NAZO Póvoa, Miranda do Douro
{Agostinho} NOSSA SENHORA DO NAZO Póvoa, Miranda do Douro
{Santuário dos Milagres} NOSSA SENHORA DO PICÃO Póvoa, Miranda do Douro
Especiosa, Miranda do Douro
Especiosa, Miranda do Douro
Igreja de Especiosa, Miranda do Douro
Igreja de Especiosa, Miranda do Douro
MARIA RAPOSO (74) e ANTÓNIO AUGUSTO (78) Prado Gatão, Miranda do Douro
Igreja de Prado Gatão, Miranda do Douro
ALZIRA RODRIGUES Igreja de Palaçoulo, Miranda do Douro
GERALDO (48) Sendim, Miranda do Douro
Torre de Moncorvo
Torre de Moncorvo (com retrato da autoria de Paulo Patoleia)
FELISBINA ROSA Constantim, Miranda do Douro
MARIA ADELINA NETO (80) Genísio, Miranda do Douro
MARIA JOSÉ (77) e MARIA ADELINA NETO (80) Genísio, Miranda do Douro
MARIA ADELINA NETO (79) Genísio, Miranda do Douro
MARIA ADELINA NETO (79) Genísio, Miranda do Douro
MARIA JOSÉ NETO /76) Genísio, Miranda do Douro
«Costantin, outra terrica
Mirandesa, eilhi al pie,
Ten un cabeço i ua Santa
Cun feira i remarie...
Spanholes i pertugueses,
Nun sei quantas bezes mil,
Juntan-se eilhi, nun deimingo,
L redadeiro de Abril.
Cun muita fé ou cun pouca,
Ban un deimingo a passar,
Para cumprir deboçones
Ou a bander ou cumprar.
A fazer meia ou na renda,
An tardes de sol, sarenas,
I quien sabe se a las bezes
Falando an bidas alhenas...»
Citações do Mirandês de «Miranda Yê La Mie Tiêrra»
JOSÉ FRANCISCO FERNANDES
Ed. autor, 1998.
GENÍSIO — LA LHIENDA DE LA BOUBIELHA
Cierto die, hai muitos anhos, las pessonas de Zenízio bírun un páixaro mui guapo que tenie un cuculho na cabeça. Esse páixaro era la Boubielha.
Confundindo-lo cun Nuossa Senhora, juntórun-se todos a la boç de 1 regidor i na reberência a la Birge de la Coquelhuda (pus assi chamórun a l’abe), fúrun stendendo lhençoles i telas de lhino brancos, para que assi pousasse e benisse pa l’eigreija, dezindo: — Senhora de la Coquelhuda, pousai na branco!
Mas l’abe, por su beç, bolaba de arble para arble, até que de l’alto dun uolmo cantou: — Bu, bu, bu! Bu, bu, bu! Bu, bu!...
De boca abierta i delorosa, de zinolhos no chano, la giente de Zenízio respundie: — Ah, Birge de la Coquelhuda, nun bos merecemos! Chamai-nos burros i nós que l somos.
Desde para lantre, ls habitantes de l pobo de Zenízio passórun a ser coincidos por boubielhos, nun gustando mesmo nadica de l nome. Mas la lhienda tem muita fuórça! Cousas de nuossos abós.
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