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PENEDA-GERÊS
Retratos da Peneda-Gerês

«Vi que todos os seres têm uma fatalidade de felicidade. (...)A cada ser, várias outras vidas me pareciam devidas. A minha saúde foi ameaçada.»
RIMBAUD
ETELVINA AZEVEDO (81) Pitões das Júnias


Etelvina Azevedo (81). Foi preciso 'morrer' para criar os filhos (7 ao todo, 5 que sobreviveram), e agora que se aproxima o fim definitivo já não há vontade para uma segunda vida. A crise — ou o que queiram chamar-lhe, porque crise sempre existiu — está a pôr em causa a própria fé.
Para o capitalismo (como dizem Sponville e Rimbaud — e há tanta poesia trágica nas aldeias do interior!) a moral é uma fraqueza do cérebro. Aqui, há pouco dinheiro para investir em iniciativas solidárias. Para os idosos a ameaça da miséria é a dobrar: em muitos casos, já não há dinheiro para comprar medicamentos. Eis o triste resultado da estranha relação que temos connosco próprios, nas nossas preocupações com a vida, com a beleza e com o tempo que está para vir.
A exuberância (ou a «fatalidade de felicidade») de alguns é a mutilação de muitos outros. É urgente parar para reflectir sobre isto.
PITÕES DAS JÚNIAS Julho de 2010
ANA BANDARRA (87) e LUCINDA PILOTO (82) Pitões das Júnias

«E agora ao senhor vamos dar uma pinga e um
bocadinho de pão, quer? E um bocadinho de uma
chicha ou de uma febrinha. Olhe que lho dou!
Limpinho, o pãozinho é do padeiro e o
presuntinho também é bom. Quer uma febrinha, que
lhe dou? Olhe que eu dou-lha de boa mente...»
LUCINDA PILOTO (82)
Pitões das Júnias, MONTALEGRE
2'13'' Junho 2011
DUAS VELHINHAS MUITO VELHINHAS Pitões das Júnias


Maria Dias Carvalho e Maria Teresa.
Cada uma tem a sua história para contar…
— O senhor donde é?
— Eu sou de Amarante. Conhece?
— Não conheço, mas já ouvi falar…
Faz-se uma pausa, e vai a dona Maria Dias (à
esq.):
— Então, é de Amarante… Quer que lhe conte um conto?
— Pois conte!
E desfia, sem pestanejar:
«Ó minha bela menina,
De Amarante vem o vento.
Menina que fala a todos
Não pretende casamento.»
— Gostou? — pergunta ela.
— Adorei.
— Então não acha que é verdade?
— Verdade, verdadinha!
Dona Maria Teresa (à dir.) pergunta-me então se eu também quero ouvir a sua...
— Claro que quero ouvir!
E vai ela:
«A flor no baldio
Bota rosa quando quer.
É como rapaz solteiro
Enquanto não tem mulher.»
— Magnífico!
PITÕES DAS JÚNIAS Julho de 2006
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