som de entrada PÁSCOA NA CÓNEGA (Rua da Boavista, Braga 2011) | slideshow NICK CAVE & WARREN ELLIS "What must be done"

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HISTÓRIAS DO SAGRADO E DO PROFANO

Histórias do sagrado e do profano FLASH

 

 

HÁ FESTA NA ALDEIA!

Podem proibir o povo de andar de TGV, de pôr os pés nos campos de golfe, de ouvir Sokolov na Casa da Música ou de dar um passeio no Douro num cruzeiro de luxo, mas ninguém pode proibir o povo de ir à missa, rezar a Nossa Senhora da Aparecida ou ver a banda a passar à frente da porta da igreja. Ainda que, para lá das cabeças, das pernas e dos intestinos de cera oferecidos à santa, o povo venha aqui mais para ver setenta homens a carregar um andor de 20 metros, o maior do mundo — dizem —, digno de figurar no livro do Guinness! Afinal, pensem o que quiserem e digam o que disserem, mesmo sem dinheiro o povo também tem direito ao seu ridículo...

SENHORA DA APARECIDA Torno, Lousada Agosto 2009.

 

Em Cerdedo, a poucos quilómetros das Alturas do Barroso, o povo junta-se todos os anos numa pequena capela no meio da serra, prometendo grande devoção em honra de Nossa Senhora do Monte, que em toda a região tem fama de aceder às preces mais íntimas. Findas as obrigações divinas, segue-se o almoço com os grupos de gente espalhados debaixo das árvores, por entre os morros de pedra. Na feira improvisada vende-se roupas, frutas e bugigangas, e há ainda as barracas de comes e bebes para os mais resistentes. A festa prolonga-se com danças e cantares até ao pôr-do-sol.

 

Em S. Bartolomeu do Mar as crianças sacrificam um 'pito' preto e são mergulhadas três vezes nas águas do oceano para afastar os males da epilepsia e gaguez. Para não perderem os benefícios do santo e o gozo da festa, muitos romeiros chegam no dia anterior e pernoitam ali em tendas montadas nas dunas.

 

No lugar de Torno, em Lousada (Penafiel), é Nossa Senhora da Aparecida que cumpre com o dom de curar as maleitas das pernas e em cuja devoção faz parte um andor com fama de ser o mais alto do país. Tal como na Senhora da Pena, em Mouçós, Vila Real, cuja façanha tem honras de figurar no Guinness Book — o famoso livro de recordes mundiais.

 

Em Amarante celebra-se o S. Gonçalo, conhecido por santo milagreiro, folgazão e casamenteiro das velhas. Mulher solteira que entre na igreja e não puxe no cordão do santo corre o risco de nunca casar...

 

Todas estas romarias juntam, ano após ano, milhares de pessoas, e nelas subsistem ainda maravilhosos ritos do sagrado e do profano que se misturam e se completam num imaginário expressivo de fé e tradição. Prova disto é a Festa dos Rapazes, em Constantim (Miranda do Douro). Aqui, depois de vários dias de folia típica das celebrações do Carnaval de Inverno, e no fim duma manhã de perseguição às filhas virgens da terra, a gaita de foles soa com um Lhaço divino dentro do lugar santo para abrilhantar a missa. E no fim da procissão, mesmo ali, em frente da igreja, dançam os pauliteiros e o casal de mascarados ensaia sem pudor os tradicionais gestos de acasalamento...

 

 

FESTA DAS CRUZES

Barcelos

Conta a história que no início do século XVI, mais exactamente na manhã do dia 20 de Dezembro de 1504, um pobre sapateiro, de seu nome João Pires, regressava da missa da Ermida do Salvador e encontrou no lugar do campo da feira uma cruz negra que milagrosamente crescia das profundezas da terra. O lugar, aonde rapidamente acorreu o povo e depois muitos peregrinos do norte de Portugal e da Galiza, ficou a ser também conhecido por Campo das Cruzes. Ali foi logo implantado um cruzeiro de pedra, mais tarde um pequeno convento de planta quadrada, e finalmente, em 1705, foi dado início às obras da actual Igreja do Bom Jesus da Cruz, onde se concentram ainda hoje as principais cerimónias da famosa Festa das Cruzes, uma das primeiras grandes romarias do Minho.

Como é da tradição, aqui se reúnem pacificamente o profano e o sagrado, como nos exemplos da Batalha das Flores, a colorida parada agrícola que simboliza a celebração da Primavera, e a grandiosa Procissão da Invenção da Santa Cruz, onde seguem os símbolos quaresmais de cada uma das 89 antigas freguesias da cidade.

 

 

FESTA DOS TABULEIROS OU DO ESPÍRITO SANTO

Tomar

Em homenagem à antiga matriarca Ceres (a deusa romana dos cereais e das colheitas), realiza-se na cidade de Tomar, desde tempos ancestrais, a Festa dos Tabuleiros. O ritual pagão ganhou carácter religioso no século XIV, por intervenção da Rainha Santa Isabel, que instituiu o culto ao Divino Espírito Santo e a tradicional distribuição do bodo pelos pobres (a "Pêza": carne, pão e vinho, porque os dons de Deus — frutos da terra e dos rebanhos — são para todos).

Centenas de raparigas e mulheres (684 em 2015) desfilam com os seus namorados, maridos, pais ou padrinhos, carregando os tabuleiros à cabeça.

Cada tabuleiro transporta trinta pães, generosos de 400 gramas, e papoilas, rosas, malmequeres, espigas de milho... espetados em cinco ou seis canas suspensas em cestos de verga decorados com panos de linho bordado à mão e rematados por uma coroa com a pomba branca do Espírito Santo ou a Cruz de Cristo. Em tempos, eram da altura de cada rapariga que os transportava e ainda hoje chegam a pesar mais de dez quilos!

Na tarde do segundo domingo de Julho, depois das cerimónias da eucaristia e da bênção pelo Bispo de Santarém, à terceira badalada do sino da igreja de S. João Baptista os tabuleiros erguem-se, todos de uma só vez, num impressionante espectáculo do cor.

Devido à sua complexidade e ao elevado número de pessoas envolvidas nas diversas cerimónias (a Procissão das Coroas, o Cortejo dos Rapazes, o Cortejo dos Mordomos ou dos Bois do Espírito Santo, o grande desfile dos Tabuleiros que sai da Mata dos Sete Montes e a "Pêza"...), a festa realiza-se apenas de quatro em quatro anos.

As casas e as ruas da cidade são ornamentadas com milhões de flores de papel, laboriosamente confeccionadas ao longo de vários meses pelos moradores.

 

 

NOIVAS, SENHORAS E LAVRADEIRAS DO MINHO

Viana do Castelo

(...) Em pouco tempo juntam-se centenas de raparigas e senhoras de vistosos trajes à Vianesa, e logo passeiam pelas ruas da cidade para se apresentarem ao povo e para os habituais cumprimentos às autoridades. Fecha a banda filarmónica da Sociedade Bingre Canelense com o hino da Amália: «Ó meu amor de algum dia...»

Os desfiles das mordomias de Viana são espectáculos generosos de se ver, só comparáveis com os melhores quadros da Criação.

Noivas, Senhoras e Lavradeiras do Minho

 

 

S. JOÃO: BUGIOS E MOURISQUEIROS

Sobrado, Valongo

Em Sobrado, Valongo, é famosa a batalha entre cristãos (bugios) e muçulmanos (mourisqueiros), durante as festas em honra de S. João Batista, a 24 de Junho. Dum lado, largas centenas de bugios, entre homens, mulheres e crianças, mascarados e vestidos com roupas coloridas e chefiados pelo "Velho". Do outro lado, algumas dezenas de mourisqueiros, um exército de rapazes solteiros comandados pelo "Reimoeiro". Logo pela manhã, cada grupo reúne-se em casa do seu líder para a Dança da Apresentação.

Pela hora do almoço, os mourisqueiros invadem a igreja e roubam a imagem do padroeiro, transportando-a na procissão. Mais tarde, os dois grupos ocupam as suas posições nos respectivos castelos e a banda filarmónica entoa a Marcha de S. João.

Após várias negociações, a batalha é inevitável. Os mourisqueiros invadem o castelo dos bugios e sequestram o "Velho"... Então, um milagre acontece: subitamente, vindo não se sabe de onde, surge a "Serpe" (uma espécie de dragão, ou serpente gigante) para ajudar os cristãos a libertar o seu chefe.

A festa termina com bugios e mourisqueiros dançando, cada um no seu lado, a Dança do Santo.

 

 

SEMANA SANTA

Braga

As mais importantes celebrações da Semana Santa em Portugal realizam-se em Braga, a cidade dos arcebispos.

Dos oito dias comemorativos, desde a transladação do Senhor dos Passos até à Missa de Aleluia e a visita pascal, destacam-se os rituais da Sexta-Feira Santa: a veneração do Senhor morto e a Procissão do Enterro.

À tarde, celebra-se a Paixão e a Morte de Cristo. Segue-se a dramática Procissão Teofórica, que transporta o esquife sob as escuras naves da Catedral. O Senhor morto é deposto e venerado.

À noite, a Procissão do Enterro. Ornamentam-na três únicos andores: o esquife do Senhor Morto, a Senhora das Dores e a Santa Cruz, acompanhados pelas Irmandades da Misericórdia e de Santa Cruz e pelas autoridades civis e militares. Os Confrades vão de cabeça coberta e o "Farricocos" (que tanto podem ser penitentes, descalços e vestidos de negro, ou caciques inquisidores encapuçados) levam fogaréus com pinhas a arder e matracas. É ensurdecedor o barulho dos ferros das bandeiras e dos estandartes arrastando-se pelo chão.

A cerimónia do lava-pés, a missa da Ceia do Senhor e as procissões da Burrinha e do Senhor "Ecce-Homo" (entre Quarta e Quinta-Feira Santas) completam o quadro religioso de grande intensidade dramática.

Finalmente, no Domingo de Páscoa celebra-se a Ressurreição do Senhor e a cruz é levada de casa em casa para ser beijada pelas famílias cristãs.

"SEMANA SANTA — PROCISSÃO DO ENTERRO DO SENHOR", Braga.

17 ABR 2011 1'04''

 

 

NOSSA SENHORA DA AFLIÇÃO

Branzelo, Gondomar

Reza a lenda que, certo dia, uma embarcação que se encontrava no Douro salvou-se de um naufrágio eminente. Por essa razão terá sido edificada pelos embarcadiços, nos anos de 1882 e 1883, esta ermida particular em honra de Nossa Senhora da Aflição.

 

 

NOSSA SENHORA DO MONTE

Cerdedo, Barroso

Em Cerdedo, a poucos quilómetros das Alturas do Barroso, o povo junta-se todos os anos numa pequena capela no meio da serra, prometendo grande devoção em honra de Nossa Senhora do Monte, que em toda a região tem fama de aceder às preces mais íntimas...

"NOSSA SENHORA DO MONTE", Cerdedo, Boticas, Chaves.

8 SET 2012 1'00''

Dinheiro do vento...

 

 

NOSSA SENHORA DA APARECIDA

Torno, Lousada

70 homens carregam aquele que acreditam ser o maior andor religioso do país, com cerca de 18 metros de altura, em honra de Nossa Senhora da Conceição e sacrifício a Nossa Senhora da Aparecida, que se revelou nos despojos de um velho eremita que viveu numa gruta no lugar de Torno, Lousada. O episódio da revelação deu-se por volta de 1823, após estranhos sinais que chegavam dos céus. Desde então a Aparecida é local especial de culto, de crianças e velhos, dos mais humildes aos mais abastados. Antigamente ofereciam-lhe anéis, brincos e cordões em ouro em troca da cura de todos os males, especialmente das doenças das pernas. Hoje sacrificam-se círios em troca duma gravura da Santa que fornece saúde aos que dela mais necessitam.

 

 

NOSSA SENHORA DA PENA

Mouçós, Vila Real

Domingo, 9 de Setembro de 2007. Na devoção a Nossa Senhora da Pena, em Mouçós, Vila Real, o mesmo de todas as grandes romarias: os santos e os pastorinhos, as bandas de música, a missa cantada, os cromos da Santa por uma moeda, as barracas de comidas e bebidas, os palcos para as bandas de rock… Na imensa área de pinhal reúnem-se cerca de 25 mil pessoas para assistir à passagem do maior andor do país, catapultado aos céus por uma enorme grua. O episódio parece suplantar o caso de Nossa Senhora da Aparecida, de Lousada, em nome de uma inscrição no Guinness.

 

 

S. BARTOLOMEU DO MAR

Mar, Esposende

Todos os anos, a 24 de Agosto, tem lugar em S. Bartolomeu do Mar, Esposende, uma grande romaria que traz devotos à praia para o banho santo. A tradição impõe que se passe por debaixo do andor do Santo, e depois, com um pito (frango) negro ao colo, se dê 3, 5 ou 7 voltas (sempre número ímpar) à igreja. Por fim, pais ou banhistas contratados pegam nas crianças ao colo e mergulham-nas, o mesmo número de vezes, nas águas do mar para afugentar os males da gota, epilepsia e gaguez.

 

S. BARTOLOMEU Mar, Esposende

3'50' AGO 2008

 

S. GONÇALO: FESTAS DO JUNHO

Amarante

Em Amarante as Festas do Junho são dedicadas a S. Gonçalo. Monge disputado entre beneditinos e dominicanos, é adorado pelo povo e conhecido como casamenteiro das velhas, milagreiro e folgazão. A festa dura três dias e três noites. Começa e acaba com uma salva de morteiros e uma arruada de tambores. Rapariga solteira que venha às festas do Junho e não entre na igreja para puxar no cordão do santo corre o risco de nunca casar...

Mil vidas tem S. Gonçalo

Filmes

 

 

A FESTA DOS RAPAZES

Constantim, Miranda do Douro

Já foi o Natal! De 27 para 28 de Dezembro correu uma noite de folia em honra de S. João Evangelista, padroeiro da freguesia. Os rapazes, ávidos de gozação, estipularam o dia em volta da gigantesca fogueira que ainda fumega no largo do lugar. Assim, logo pela madrugada, vestem o carocho com uma máscara de couro, um rosário de carretos de linhas, já vazios, pelo pescoço e um enorme garfo de madeira que há-de recolher os salpicões ou fazer tropeçar as raparigas da aldeia. Juntam-se-lhes velhos gaiteiros, tocadores de bombo e de fraita (flauta pastoril, cinzelada na madeira) e os dançadores com seus chapéus decorados com rosas: os Pauliteiros de Constantim!

A Festa dos Rapazes

 

 

 

 

 

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