FOTOGRAFIA
BARROSO: DINHEIRO DO VENTO...
Barroso: dinheiro do vento...

«Olhe que ainda agora vim do monte com oito vacas e um boi tourão e quase vinte cabeças de rês e um jumento. A jumenta hoje não foi, que ele foi buscar uma carrada de milho com ela. E logo tornam a sair às 4 e meia/5 horas para o monte. Vêm depois às 8 horas para casa outra vez. Ainda ando com elas quase todos os dias. Ainda cheguei há pouco com elas. Foi ele... andamos a meter nas lojas, porque algumas estão paridas, têm os vitelos pequeninos, há lá um que já tem um vitelo para aí de 4 meses. Agora andam próximas mais a parir outra vez. Parem agora todas por aí fora... Temos o boi tourão... Temos tudo...»
DANIEL RUA
Arcos de Cervos, Montalegre
Agosto de 2010.
27 AGO 2010 0'46''
Filmes
FRANCISCA ALVES (84) Sezelhe, Montalegre
ANA (82) Sabuzedo, Montalegre
MARIA, AURORA e JOÃO Vilar de Perdizes, Montalegre
MARIA, AURORA e JOÃO Vilar de Perdizes, Montalegre
FESTA DE S. SEBASTIÃO Couto de Dornelas, Boticas
FESTA DE S. SEBASTIÃO Couto de Dornelas, Boticas
NOSSA SENHORA DO MONTE Cerdedo, Boticas
ANA URZEIRO (71) Mourilhe, Montalegre
ANTÓNIO REIS (85) Donões, Montalegre
ARLINDO PIRES (77) Mourilhe, Montalegre
MARIA PIRES (85) Cambeses do Rio, Montalegre
MARIA PIRES (85) Cambeses do Rio, Montalegre
ALZIRA LUCAS DA FONTE (85) e DANIEL RUA (83) Arcos de Cervos, Montalegre
MARIA DA CONCEIÇÃO (72) e ERMELINDA CARVALHO (74) Pedrário, Montalegre
ANTÓNIO PARENTE (94) Vilar de Perdizes, Montalegre
Em casa de ALBINA GONÇALVES Vilarinho Seco, Boticas
ILDA BARRETO (68) Vila Grande, Boticas
SANTA ANA Alturas do Barroso, Boticas
MARIA DA CONCEIÇÃO (73) Alturas do Barroso, Boticas
ALBINA TEIXEIRA Pedrário, Montalegre
MARIA DA GLÓRIA CARVALHO Pedrário, Montalegre
JOÃO DUARTE (88) Alturas do Barroso, Boticas
JOÃO DUARTE (88) e ANA DIAS (84) Alturas do Barroso, Boticas
MARIA DA GRAÇA (77) Mourilhe, Montalegre
ANTÓNIO e TERESA RITO Vilar de Perdizes, Montalegre
Já quase não há gado. Nem linho, nem lã, nem roca. Agora a gente negoceia com o vento… As eólicas estão espalhadas por toda a montanha.
Nos campos em volta da pequena capela de Santo Isidro, no alto da Pena Franga, bem à vista dos três cornos do Barroso (os majestosos cabeços que o diabo desenhou na montanha com a forma de chifres de bovino), junta-se grande parte do gado da aldeia para ser benzido durante a procissão ou simplesmente para cumprir promessas devidas por louvores recebidos, porque aqui o povo ainda tem fé.
O padre auxiliar, antigo missionário em África que decidiu calcorrear estas serras desde Viseu, faz o elogio do santo lavrador e da festa simples, e aproveita a oratória para avisar sobre os males da cobiça e da avareza:
«Vejam o que se passa no nosso país, assaltado por uma onda de corrupção sem fim, envolvendo grandes políticos e banqueiros que não hesitam em vender a alma para fazerem fortunas incríveis à custa do suor dos pobres.»
Adivinha-se do sermão da missa de Pentecostes que o povo já não teme somente os males naturais (os fenómenos que mais impressionam a fantasia do homem: o fogo, o relâmpago, o furacão, o terramoto, os trovões... Ezeq. 37, 1-14), usados na Bíblia para contar as manifestações de Deus...
SANTO ISIDRO Alturas do Barroso, Maio de 2009.
Filmes
FOTOGRAFIA
VILA NOVA: A CELEBRAÇÃO DA PRIMAVERA
Carnaval em Vila Nova: a celebração da Primavera

Em Vila Nova, no Barroso, a Primavera dá-se numa folha de carvalho: a oferta é levada de casa em casa e entregue em mão pelas crianças — os duendes —, que circulam entre mostrengos, velhas desconfiadas que vestem de preto, carneiros, javalis, lobos, corujas e muitos outros animais da fauna local que povoam as lendas e os contos dos antepassados.
Nesta aldeia escondida numa encosta sombria entre o Cávado e o Rabagão, às portas de Sidrós, no Gerês, e muito perto da Misarela (a famosa ponte que tem fama de boa parideira e onde Deus se cruza com o Diabo para resgatar as almas), há ruas e casas às quais o sol não chega durante três longos meses do ano.
Tânia, escolhida entre as mais vistosas e simpáticas raparigas da freguesia, veste para este ritual carnavalesco a indumentária principal, com motivos fitomórficos: raízes, musgo, caules, folhas e flores, celebrando o fim do Inverno, dos tempos da abstinência da terra e das fracas colheitas. Chamam-lhe Primavera.
CARNAVAL EM VILA NOVA Montalegre, Fevereiro de 2010.
FOTOGRAFIA
CIPRIANO MARTINS E JOSEFINA SEARA
Vilarinho de Negrões: Cipriano Martins e Josefina Seara

Cipriano lava a louça. Sentada no banco em frente da lareira, a sua esposa, Josefina, espera pela ambulância que a irá levar ao hospital mais próximo, a cerca de 60 km de distância; ela teve há pouco tempo um acidente vascular cerebral que a deixou paralisada. A ambulância pode vir hoje, ou depois de amanhã ou só na próxima semana.
Filmes
«Deve-se estar sempre bêbado.
É a única questão.
Afim de não se sentir o fardo horrível do tempo,
que parte tuas espáduas
e te dobra sobre a terra.
É preciso que te embriagues
sem trégua.»
BAUDELAIRE
«Ele brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem agarra a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis cravem mais fundo as pás vocês aí continuem tocando para dançar.
Leite negro da madrugada nós te bebemos de noite nós te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite nós bebemos bebemos…»
Fuga da morte
«Ela sabe as palavras mas limita-se a sorrir.
Mistura o seu sorriso no cálice de vinho:
Tens de o beber, para estar no mundo.»
Sete rosas mais tarde
PAUL CELAN
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