FOTOGRAFIA
FEIRAS DA RAIA TRANSMONTANA
Miranda do Douro: feiras da raia transmontana
«Cun pena, beio las feiras
Nas aldés, a zaparcer,
Onde se come la puôsta,
Assi cumo debe ser!»
Citações do Mirandês de «Miranda Yê La Mie Tiêrra»
JOSÉ FRANCISCO FERNANDES
VELHOS GORAZES DE SENDIM Sendim, Miranda do
Douro
Para quem deixa o vale do Sabor ainda carregado de névoa e sobe até ao planalto mirandês, logo ao nascer do dia, seguindo por Carviçais, Fornos, Lagoaça, Mogadouro… há-de ver as carroças dos burros que tomam a estrada de betume com a carga das primeiras horas de um dia de trabalho, ainda na companhia dos seus velhos donos. Estes animais são a principal atracção dos Gorazes, todos os anos a 30 de Outubro.
Actualmente, a Feira dos Burros está descaracterizada pela exposição das alfaias industriais e pelo negócio dos chineses e dos vendedores da banha da cobra. Mas em Sendim encontramos ainda os chapéus e os lenços pretos dos velhos e velhas que descem das suas aldeias e por aqui se instalam para vender as novidades de final de Verão: queijo artesanal, cebolas, dióspiros, marmelos, romãs…
Dentro de poucos anos já não será possível fazer, assim, retratos de «velhos gorazes».
«Essa tue tan grande feira
De trinta de Outubre yê tal
Que nun beio nestas tiêrras
Outra que le seia eigual.»
"Gorazes" deriva do termo grego "gorax", que
significa «carne de porco». É no Mogadouro que
se realiza, todos os anos, a mais tradicional
Feira dos Gorazes, que no passado anunciava o
tempo da matança dos porcos e servia para
cumprir as obrigações fiscais aos «senhores do
Mogadouro», justamente com carne de porco.
Em Sendim, perto de Miranda do Douro, "Grazes"
(como diz o povo) é principalmente uma feira
onde se vendem burros, mulas e cavalos desde há
quase 300 anos.
FEIRA DE NATAL DO NASO Póvoa, Miranda do
Douro
À Feira de Natal no Santuário de Nossa Senhora do Naso, na Póvoa, a poucos quilómetros de Miranda do Douro, chegam a 22 de Dezembro os forasteiros das vizinhas aldeias e vilas raianas: Palaçoulo, Genísio, Malhadas, Ifanes, Costantin, Moveros (já do outro lado da fronteira). Como no Mogadouro, Sendim e muitas outras terras do planalto mirandês, no Naso também se realiza uma Feira de Burros, todos os anos entre 6 e 8 de Setembro.
«Cun pena, beio las feiras
Nas aldés, a zaparcer,
Onde se come la puôsta,
Assi cumo debe ser!
An barracas, chicha assada
De bitela mirandesa,
Pinga, molete ou fogaça
Yê l que eilhi pónan na mesa.
Que si cheira la assadura,
Que bien sabe todo aquilho,
Cun nabalha mirandesa
I cun copo de quartiêlho!»
Citações do Mirandês de «Miranda Yê La Mie Tiêrra»
JOSÉ FRANCISCO FERNANDES
Ed. autor, 1999, pp. 63-64.
Este povo que persiste em migrar no planalto
frio para fazer as suas pequenas compras da
natividade pouco terá já da tradição pírrica
greco-romana, guerreira por excelência;
conserva, porém, o orgulho da Festa dos Rapazes
(uma espécie de Carnaval de Inverno), da dança
dos Pauliteiros (danza de palos, na Galiza) e do
dialecto norte-ibérico comum: la lhéngua
mirandesa, de profunda tradição oral.
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