«In general it can be said that a nation's art is greatest when it most reflects the character of its people.»
EDWARD
HOPPER
EDWARD HOPPER Auto-retrato (1925-30)
No passado dia 13 de Janeiro, numa
emissão do conhecido Antiques Roadshow, apareceu um homem
natural da pequena cidade de Boise, no Idaho, com uma gravura
assinada por alguém cujo nome lhe era completamente desconhecido,
mas que alguns amigos já lhe haviam garantido que poderia ser de um
artista famoso. Foi no decorrer desse programa de caçadores de
antiguidades da CBS americana que ele recebeu a
inesperada notícia: a gravura é de 1922, tem por
título The Cat Boat e está avaliada em 250 mil
dólares! O seu autor é Edward Hopper (1882–1967), que o próprio avaliador,
Todd Weyman, definiu como «um pintor americano muito
famoso (...), que teve um início de carreira muito difícil e foi
obrigado a
ganhar a vida como ilustrador (...), que demorou a construir um
estilo próprio e nunca se identificou com nenhum movimento artístico
do século XX.»
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Consta que Edward Hopper confessou,
certa vez, qualquer coisa como isto: «em geral, pode-se
dizer que a arte de uma nação é tanto maior quanto melhor reflectir o carácter do seu povo.»
Ora, mesmo considerando que Hopper passou por «um início de carreira muito difícil (...), demorou a construir um estilo
próprio e nunca se identificou com nenhum movimento artístico...»,
sendo verdadeiramente
«um pintor americano muito famoso»,
que carácter é esse do povo americano que terá conseguido reproduzir nas suas
pinturas?
«Nos EUA somos colocados entre a esperança e a
desilusão.»
HENRY
ALLEN
Washington Post
«(...) É comovente a transição entre a pobreza e a
riqueza.»
KARAL
ANN
MARLING
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Univ. Minnesota
Na implacável interpretação dos
críticos da obra de Edward Hopper, há duas grandes
teorias que decorrem da "estranha luz", da "estranha solidão" e da
"estranha melancolia" na atmosfera desolada de Sunday (1926),
Automat (1927), Hotel room (1931), Office at night (1940),
Nighthawks (1942), Hotel window (1955) ou Intermission (1963).
Por um lado, a prosperidade sem
precedentes, a angústia e a alienação do homem urbano que parece ter
chegado ao seu último
estado de conforto, e a incomunicação que corresponde
a essa luxúria, uma
espécie de tédio do materialismo. Por outro lado, os lugares abandonados e
as personagens em fuga, ausentes do seu tempo, num mundo contemporâneo
em
crise, abalado pela Grande Depressão, o desemprego, o medo e a
decadência, enfim, o desmoronar do Sonho Americano.
Ambos os cenários foram retratados em O Grande Gatsby
(1925), de Scott Fitzgerald, e mais tarde expostos em Psycho (1960),
de Alfred Hitchcock. E em qualquer dos casos se concluiu que
essa América é já, definitivamente, uma América sem alma.
Para lá do olhar dos críticos, feliz é
agora aquele pobre homem do vale do Boise River, talvez por ser um pobre
homem do vale do Boise River, Idaho, talvez por saber que a sua
pequena herança foi avaliada em 250 mil dólares, talvez até porque
agora ele compreenda a visão poética, íntima e
cinematográfica do "estranho Hopper", dessa "estranha luz",
"estranha solidão" e "estranha melancolia". Para ele,
e para tantos outros, Edward Hopper será sempre «o bom americano».