Quando as tropas americanas entraram no «pequeno campo de Buchenwald», a 11 de Abril de 1945, o general Eisenhower lembrou-se de pedir a alguns fotógrafos do seu exército para registarem, com as suas máquinas de bolso, os rostos dos prisioneiros esquecidos nos corredores da morte. A mais célebre fotografia do Yad Vashem, o memorial israelita do Holocausto, foi tirada no dia seguinte, por um tal Henri Miller (de que se perdeu o rasto), porque Eisenhower estava convencido que o mundo precisava de provas visuais para acreditar no que via.
Com apenas 16 anos, o jovem Elie, que para ali tinha sido transferido pouco antes com o pai (que entretanto faleceu) directamente de Auschwitz, era um dos sobreviventes, corpos esqueléticos, minados pelo tifo e roídos pelos vermes, carecidos duma última compaixão, talvez o lugar dos três mil cadáveres descarnados que apodreciam nas fossas do anexo Ohrdruf.
«Eu sou este», diz Elie Wiesel, apontando para o sétimo a contar da esquerda na segunda tarimba.
A fotografia só veio a público nos anos 80, através do «New York Times», e lembrou ao Nobel da Paz uma tal ausência de tudo que quase se envergonhou de ter sobrevivido.
«Será que o rosto que eu aqui vejo ainda vive em mim? Penso que o verdadeiro Elie Wiesel, aquele que viu a verdade nua, abrasadora, é aquele. (...)Não gostaria que ele me renegasse...»
«himmler!»

August Hirt, Victor Braque, Adolf Eichmann
AUGUST HIRT, VICTOR BRACK e ADOLPH EICHMANN. Três figuras sinistras do regime nazi aos serviço de Himmler.
O professor Hirt destacou-se no campo de concentração de Natzweiler, onde efectuou as mais atrozes experiências médicas com a iperite. Segundo se sabe, desapareceu depois da guerra sem deixar rasto.
Brack, médico e dirigente das SS, foi um modelo de eficácia profissional ao serviço da intolerância alemã. Ficou conhecido pela máxima que habitualmente utilizava para justificar a atrocidade das suas experiências: «guerra é guerra».
Eichmann celebrizou-se como um dos mentores da «solução final», ao ponto de figurar o seu nome numa das «salas de fumo» de Auschwitz. Foi detectado a 20 de Março de 1960, na rua Garibaldi, em Buenos Aires, quando regressava a casa com um ramo de flores para oferecer à sua mulher nos 25 anos de casado, e capturado pouco tempo depois.
Curiosamente, Eichmann atribuiu a um dos seus filhos o nome que adoptou na clandestinidade: Ricardo. Em 1995, Ricardo Eichmann, de 40 anos, professor de arqueologia na Universidade de Tobingen, na Alemanha, encontrou-se numa das salas do Hotel Hilton, em Londres, com Zvi A'haroni, o ex-agente da Mossad que esteve envolvido no rapto do seu pai 35 anos antes).
UNTERMENSCH/Langthaler!

Varsóvia, 1943
UNTERMENSCH=«sub-humano». Designação por que eram conhecidos os judeus condenados a trabalhos forçados nos campos de concentração nazis.
LANGTHALER=Nome do camponês que se tornou conhecido por ter protegido da polícia de Hitler dois «untermensch» que fugiram do Bloco B da famosa prisão de Mauthausen, em Fevereiro de 1945.
UM CONTO DE MICHEL TOURNIER

O Enigma de Deus

Quando Gagarine, o primeiro homem a ir para o espaço, voltou à Terra, foi primeiro recebido por Kroutchov, o mais alto responsável soviético. Este perguntou-lhe:
— Camarada, estiveste no céu?
— Estive — respondeu-lhe.
— Então, sempre viste que Deus não existe!
— Ele estava lá — retorquiu Gagarine. —
Eu vi-o, com a sua grande barba, sentado numa
poltrona de nuvens.
— Já suspeitava — disse Kroutchov. — Sempre achei que, no fundo, quem tinha razão eram os Papas e que o materialismo e o marxismo eram um disparate. É terrível! A URSS está perdida. A não ser que te cales. Jura-me pelo que tens de mais precioso, que não dirás nunca que Deus existe.
Gagarine jurou, depois correu mundo, foi recebido por chefes de Estado, e chegou ao Vaticano. O Papa chamou-o à parte.
— Diz-me, meu filho, foste ao céu? — perguntou-lhe.
— Fui — respondeu.
— Então, viste lá Deus?
Gagarine lembrou-se do juramento e disse:
— Deus não existe.
— Já suspeitava — comentou o Papa. — Sempre achei que ele não existia e que a religião é uma fantasmagoria...
MICHEL TOURNIER SEGUNDO UM FILME DE MAX ARMAMET
MOCIDADE PORTUGUESA

Da série «The Victims Of The XXth Century»

ANTERO DE ALDA
Acrílico s/ tela com impressão serigráfica (130x140cm)
Da série «The Victims Of The XXth Century»
No meio dos destroços, ouvia-se o choro de uma criança. Era uma menina e não devia ter mais de cinco anos de idade. Lembra-se que discutiram:
«O que é que se faz à miúda? Leva-se, não se leva?»
Durante algum tempo, ainda foi ao colo e às costas de uns tantos. Mas os soldados estavam cansados e ela chorava, gritava, não se calava. Sabe que lhe bateram... Mas ninguém conseguia resolver nada e uma coisa era certa: ela estava a pôr em perigo, pelo barulho que fazia, a posição deles. Tinha que se tomar uma atitude, acabar de vez com aquilo. Já há muito que alguns insistiam:
«Mata-se».
Foi um furriel que a degolou com uma catana.
GORBATCHOV BY WHAROL

Da série «The Victims Of The XXth Century»

ANTERO DE ALDA
Spray acrílico s/ tela com impressão serigráfica (190x120cm)
«Na cadeia de Huntsville há condenados fiéis a Noriega
que fumam grandes charutos oferecidos por Fidel Castro
via Nicarágua,
e nas ruas de Washington espalham-se todos os fins-de-semana
retratos coloridos de Gorbatchov
como num quadro de Warhol...»
O Século C.N.A.
GARRAFAS

Da série «The Victims Of The XXth Century»

ANTERO DE ALDA
Objectos: 1100 garrafas com etiquetas originais, numeradas em séries de 11
FÓSFOROS

Objectos (In)consumíveis

ANTERO DE ALDA
Objectos: 20 mil caixas de fósforos com grafismos originais,
1988.
Apoio: Fosforeira
Portuguesa
Galeria principal da Cooperativa Árvore, Porto
(exposição individual), 1989.
FOTOPOEMA

Poemas de Ele-Mesmo (homenagem a Alberto Caeiro)

ANTERO DE ALDA
Instalação: relógio +
livro + fotografia, 1982.
O homem,
guardião da exposição, contou-me mais tarde o
quanto lhe custou habituar-se ao cantar do cuco,
hora após hora, dia
após dia, do relógio ao lado do retrato daquela
rapariga triste, a Ofelinha, namorada de
Fernando Pessoa.
III Bienal Internacional de Vila Nova de
Cerveira (catálogo), 1982.
DESENHO

Marguerite Duras

ANTERO DE ALDA
Desenho a esferográfica (21x29,7cm),
1984.