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três histórias de Natal

[ 3. o saxofone soprano ]

 

 

«Um diavolo! (...) Veramente ingegnoso. Uno specchio!»

UMBERTO ECO, O Nome da Rosa, 1980.

 

 

 

 

O saxofone soprano, Amarante, 25 de Dezembro de 2017.

foto: ANTERO DE ALDA

 

 

Muito antes de eu ter um pai, havia um jovem. Um jovem, quero dizer: um rapaz vigoroso, impoluto, perigosamente fiel à sua juventude escrita em lâminas de ouro...

«Fui eu que tive, um dia, uma juventude adorável, heróica, fabulosa, digna de ser escrita em lâminas de oiro?» ARTHUR RIMBAUD

 

Depois, à força de tanto querer ter um espelho, esse jovem fez de mim seu filho, e eu tive um pai glorioso, adorável e heróico, digno de ser escrito em lâminas de ouro.

 

Mais tarde, quando os dois (pai e filho) crescemos, os nossos mundos tornaram-se mais distantes, tão distantes ao ponto do meu pai dizer, um dia, à minha mãe:

Queres ver que tu criaste um filho comunista?

(É assim, as mães são eternas, para alguns pais e sobretudo para alguns homens são elas as únicas criadoras...)

 

Enfim, o meu pai morreu e fez-se homem: ele já não era bem um pai, era um homem, um homem não exactamente igual a todos os outros homens, é certo, mas em todo o caso um homem muito parecido com todos os outros homens. (...)

 

***

 

Há quinze anos que o meu pai não vinha a minha casa. Sabendo como ele era um homem (sempre um amigo, sim, mas muito mais um homem), preparei-o com largos meses de antecedência:

Pai, você vai lá no Natal, não vai?

— Oh! Tu és tolo!

 

Era assim. Sempre que ao meu pai o mundo parecia perdido, pálido como todos os seus dias nestes últimos anos, era a mesma resposta:

Tu és tolo!

E só ao meu pai (o meu Satã e o meu Santo Graal) eu permitia essa extravagância verbal:

— Tu és tolo!

 

Pai, é verdade que tu, quando eras novo, eras um grande bailarino?

— Tu és tolo!

Pai, é verdade que cantavas ao desafio (canta, Mário!) e tocavas viola?

— Tu és tolo!

Pai, é verdade que tiveste filhos de várias mães?

— Tu és tolo!

Pai, é verdade que conquistavas as mulheres com o teu saxofone soprano? (...)

 

***

 

Um certo dia (um certo dia de Natal), enchi-me de forças, de tantas forças reprimidas há tantos anos, que lhe desferi um golpe fatal:

— Pai, tu não queres vir a minha casa, és um tolo!

Tal e qual. (...)

 

***

 

Neste Natal, o meu pai veio a minha casa.

Eu ofereci-lhe a minha gravata preferida, uma bonita gravata azul e rubra, boa para ornamentar a mortalha.

(Quando eu era criança, criança dos meus oito ou nove anos ou talvez menos, o meu pai comprou-me uma gravata azul, um azul, assim, mesmo só azul, tanto que ele queria que eu fosse do Porto!)

 

Neste Natal, o meu pai ofereceu-me o saxofone soprano.

 

 

Respiração, de ANTERO DE ALDA.

Amarante, 25 de Dezembro de 2017.

 

 

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