femicídios ainda, ou
os soutiens invisíveis da Triumph
«As quase 500 funcionárias da antiga Triumph já não precisam passar os dias e as noites aos portões da
fábrica. A "luta" acabou num despedimento colectivo, já esperado por quem não acreditava que aquelas máquinas voltassem a costurar.»
Jornal Público, hoje.
"Vim abrir aqui a fábrica e vou fechá-la",
dizia ontem à Antena 2 Maria José Gomes, de 64 anos, operária
da Triumph desde os seus 15 anos.
Ao vigésimo dia de vigília, 24 horas sobre 24 horas,
decretou-se a insolvência, nomeada pelo tribunal, que mandou fechar
a empresa e deve garantir agora que pelas portas traseiras não sairá
mais roupa feita nem automóveis.
Acabou-se um martírio, diz a costureira Isabel,
despindo a bata com o velho logótipo da Triumph. Agora vai
começar outro.

foto: EMMET GOWIN Edith and Rennie Booher, Danville, Virginia, 1970.
Os soutiens invisíveis da Triumph,
disponíveis com -25% no
elcorteingles.pt
até 28 deste mês (online, 25 de Janeiro de 2018).
O que me ocorre dizer
sobre as grandes empresas multinacionais, os salários líquidos de 460 euros, as marcas que ouvimos
gritar e gritar e gritar todos os dias nas televisões e nos jornais pode resumir-se
ao seguinte: a publicidade — essa cassete capitalista! —, é a máscara de quem não tem nada para nos oferecer e está sempre pronto para nos vender tudo, até aquilo
que não existe, aquilo de que não precisamos e que nunca pensámos comprar.
E sobre roupa íntima para
mulher satisfaz-me perfeitamente aquela que é feita pelos chineses.
Ainda que, femicídios ainda...
____
"femicídios ainda"
Primeiro resultado da pesquisa por os_soutiens_invisíveis_da_Triumph no Google:
menos 25% numa selecção de marcas lingerie, moda íntima e meias, só
para clientes que pagam com o cartão de crédito El Corte Inglês (TAEG
16,40%).

Afinal, quem paga os 25% de desconto senão as trabalhadoras da
antiga fábrica da Triumph (agora TGI-Têxtil Gramax Internacional) de
Sacavém, Loures, que não recebem salários há mais de 4 meses e
acabaram de ser despedidas?
A propósito: pesquisem hoje no Google e vejam quem faz anos: Virginia Woolf.
Essa (como Simone de Beauvoir, que fez 110 no passado dia 9), que
lutou contra a rigidez do regime vitoriano e passou por sucessivas
crises depressivas até cometer suicídio em 1941, de certeza que não
usava soutien!
Agora, senhoras, perguntem aos vossos maridos: sabias que a Virginia Woolf
e a de Beauvoir
não usavam soutien? Irão ouvi-los a dar uma grande gargalhada.
"elcorteingles.pt"
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