o editor pergunta-me...
[ Retratos & transfigurações ]
Partilho a experiência de me ter encontrado nos últimos 9 anos com
um número significativo de homens e mulheres, especialmente do centro e norte de
Portugal, de Portalegre (Alentejo) a Moimenta da Raia (no alto
fronteiriço transmontano), Constantim e Genísio (Miranda do Douro),
Pitões das Júnias, Donões, Mourilhe, Cambeses do Rio, Pedrário e Vilar de
Perdizes (Montalegre), Alturas do Barroso e Vilarinho Seco (Boticas), Alvadia (Ribeira de Pena), Macieira (Mondim de Basto),
Jueus (Tondela), Covas do Rio e Covas do Monte (S. Pedro do Sul)...
e deles fazer estes retratos duros e puros das vísceras da dolorosa condição humana:
a velhice, a solidão e a morte.
E revelo esta felicidade de poder contar com
o inestimável testemunho de Ami Vitali { a
Lua cheia americana
}, que comigo partilha essa maneira de ser introvertida de quem se
relaciona com o mundo na incessante procura da verdade.
«A minha jornada levou-me a alguns lugares de grande agitação social, mas também de beleza surreal. Foi-me permitido testemunhar cenas de pobreza extrema, indescritível violência e até destruição da vida. Mas, mesmo nos lugares mais tristes, também percebi que há momentos de alegria e histórias de actos extraordinários de bondade.
Talvez agora, mais do que nunca, sinto uma necessidade de rever as histórias passadas, e ir além dos estereótipos para tentar obter um sentido mais verdadeiro sobre o que todos nós somos.
Antero, eu olho para as suas fotografias e elas fazem-me lembrar o quanto são importantes para destacar as nossas subtis e surpreendentes semelhanças, mais do que apenas as diferenças óbvias entre as nossas culturas.»
AMI VITALE
Montana, EUA
Março de 2015

foto: ANTERO DE ALDA
MARIA GONÇALVES MALTA (82)
Vilar, Boticas 2006.
No dia 13 de Maio de 2006 eu estava em
Vilar, Boticas, n'Os Dias da Criação — um encontro de poetas do
norte de Portugal e da Galiza —, e mal sabia ligar a minha nova
máquina digital.
O encontro com esta mulher, porém,
ensinou-me que o conceito de fotogenia não é material, e desde então
a interioridade e a condição feminina passaram a fazer parte da
minha maravilhosa experiência fotoafectiva.
Estimo quem faça sombras e
arrastamentos. Admiro quem consegue registar, numa fracção de
segundo, o improvável encontro de duas realidades que tão
provavelmente se contradizem e no mesmo instante se complementam.
Ainda assim, para mim a fotografia é sobretudo um exercício de
sedução, onde a condição humana (a dolorosa condição humana) é
simultaneamente impositiva e reflexiva.
Pouco depois, Maria Malta
— mãe
solteira, 82 anos em 2006 —
adoeceu. Para regular as batidas
cardíacas foi-lhe implantado um gerador de estímulos eléctricos (um
"marcapasso" artificial), prevenindo o bloqueio atrioventricular. Em
resumo, o seu coração passou a trabalhar com uma pilha.
Faleceu em 2011.
Daqui, continuo a sentir-lhe ainda as
batidas do coração.
[
Retratos & transfigurações
]
_______
Título: «Retratos & transfigurações»
*
Edição: GALÁPAGOS — fábrica de poesia
Capa: Maria Malta, Vilar, Boticas, Maio de 2006
Formato: 22 x 29,7 cm
Número de páginas: 72
Data: Junho de 2015
Depósito Legal: 392529/15
ISBN: 978-989-99082-3-9
Preço: 25 euros
* Com um texto de Ami Vitali

Pedidos a
mail@anterodealda.com

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