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  Post 158 -  Março de 2014  

 

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já ninguém anda a pé [ III ]

 

 

 

José Manuel Félix Ribeiro acaba de publicar o livro Portugal, a Economia de uma Nação Rebelde. Um título que me fez lembrar Thoreau: «o mais vivo é o mais selvagem.»

Nunca acreditei nestes economistas televisivos, reduzidos a um pequeno número de economistas do regime que andam sempre em círculo e cujo esforço de mudança não vai muito para além de "remendar" o próprio regime, mas uma coisa que Félix Ribeiro diz é certa: «Não podemos reduzir as pessoas a um nível de insegurança tão grande, que as pessoas nem sequer tenham vontade [ou possibilidade] de acumular competências.» SIC Notícias, 23 de Março de 2014.

Então, todo o capitalista é um paralítico?

 

 

 

foto: JACQUES-HENRI LARTIGUE Arlette Prevost dite 'Anna la Pradvina' avec ses chiens Coco et Chichi, Avenue des Acacias, Bois de Boulogne Paris, 1911.

 

 

 

 

3. e um certo carácter do flâneur

 

Andar a pé, ou «o contacto verdadeiro com o real» como diz Ernesto Sampaio, não trata propriamente da arte de caminhar (a peripatética) segundo Aristóteles, ou da nobreza do pensamento que resulta das grandes caminhadas segundo Nietzsche, nem mesmo das andanças dos românticos andarilhos de que o protestante Rousseau é um exemplo acabado: «a minha mente só trabalha com a ajuda das pernas» (Jean-Jacques Rousseau, Devaneios de um Caminhante Solitário, 1782). Consta que, com apenas 16 anos, Rousseau atravessou a fronteira da Suíça com a França, de Genebra a Chambéry, e seguiu depois até Turim, a pé, só para se converter aos caprichos da bela católica Louise Éléonore, baronesa de Warens.

Em qualquer caso, «ficar sentado o menos possível: não pôr fé em pensamento algum que não tenha sido concebido ao ar livre e em plena liberdade de movimento...» — porque, afinal, «todos os preconceitos provêm dos intestinos» (Friedrich Nietzsche, Ecce Homo, 1888).

 

Voltando a Walter Benjamin, com um bafo de Baudelaire, aceite-se um certo carácter do flâneur, o verdadeiro dono de Paris segundo Anaïs Bazin, ou essa figura estereotipada do quase indigente — o pedinte? — que então se passeava pela capital francesa «para ver o mundo, estar dentro do mundo» , desafiando a moral burguesa dominante (Charles Baudelaire, O Pintor da Vida Moderna, 1863).

E, por fim, o excêntrico Rimbaud, ele próprio de certa maneira especializado na arte da flânerie (ou um misto de flâneur e dândi), porém, que se considerava a si mesmo «um pedestre, nada mais!» Ironia do destino, pouco antes de morrer amputaram-lhe uma das pernas, logo a ele, que ficou conhecido por «andar a pé, sempre a pé e medindo com as suas pernas a amplidão da terra» (Frédéric Gros, Caminhar — Uma Filosofia, 2010).

 

Andar a pé (Walking, 1862) é o título de um pequeno livro de Thoreau, que classifica e divide os seres em viventes e não viventes e muitos anos antes já sabia que «o mais vivo é o mais selvagem» (Henry David Thoreau, Walden, 1854).

 

 

____

"todo o capitalista é um paralítico?"

«Dar uma alma a essa multidão, eis o verdadeiro papel do flâneur...» (Walter Benjamin), pois, «que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a alma?» (Marcos, 8:36).

A análise alegórica à psicogeografia dos alienados das grandes cidades da era pós-industrial foi reinterpretada do seguinte modo por Debord: «Cette société qui supprime la distance géographique recueille intérieurement la distance, en tant que séparation spectaculaire» (esta sociedade que reduz a distância geográfica acolhe no seu íntimo a distância enquanto separação espectacular — Guy Debord, A Sociedade do Espectáculo, 1967).

Orientados por uma espécie de «cartografia alternativa» (Iain Sinclair, London Orbital, 2002), os «nómadas intelectuais» (Oswald Spengler, O Declínio do Ocidente, 1922) são hoje livres pensadores, tão violentamente desprezados como violentamente desprezam a sociedade de consumo e o fetichismo dos mercados.

Pois se «o espectáculo é o modelo de vida socialmente dominante», ou se «o capitalismo refaz a totalidade do espaço como seu próprio cenário», como diz Debord, é o próprio Debord que propõe, a partir de Henrique IV, de Shakespeare: «Ó senhores, a vida é curta… Se vivemos, vivamos para marchar sobre a cabeça dos reis.»

 

 

 

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que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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