«Limpas, pois, as suas armas, feito do morrião celada,
posto nome ao seu rocim, e crismando-se a si mesmo, convenceu-se de
que só lhe faltava buscar dama de quem se enamorar; porque o
cavaleiro andante sem amores era árvore sem folhas e sem fruto, e
corpo sem alma...
E foi, ao que se crê, que num povoado próximo do seu
havia uma moça lavradora de muito bom parecer, de quem ele em tempos
estivera enamorado, ainda que, segundo se entende, ela jamais o
tenha sabido ou desconfiado. Chamava-se Aldonça Lourenço e a esta
lhe pareceu bem dar o título de senhora dos seus pensamentos; e
procurando-lhe título que não desdissesse muito do seu, e que ao
mesmo tempo se assemelhasse e aproximasse ao de princesa e grande
dama, veio a chamar-lhe Dulcineia de Toboso, porque era natural de
Toboso: nome, a seu parecer, musical, peregrino e significativo como
todos os outros que a ele e às suas coisas tinha posto.»