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  Post 224 -  Fevereiro de 2018  

 

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carta aos meus filhos

 

 

rapazes se vocês fossem crianças dos bairros da Bidonville ou da Síria eu só vos daria beijos beijos beijos...

deixem-me fazer-vos uma pergunta: quando eu morrer vocês metem o meu corpo e a minha alma no mesmo caixote?

 

 

foto: ANTERO DE ALDA Sever do Vouga, Natal de 2016.

 

 

meus filhos desculpem eu sou um pai implacável

mas eu sou vosso pai todos os dias.

 

não admito que me levantem a voz

que me indiquem o caminho — é já tão tarde!

 

não admito que interrompam o meu silêncio

quando estou a ouvir o cântico das almas.

 

não admito que me devolvam os meus nãos

que me recomendem um psiquiatra.

 

não admito que me digam se devo ler

o medo de AL BERTO ou a cartilha de

Madre Teresa de Calcutá.

 

meus filhos eu falo com o gato

vocês já alguma vez falaram com o gato?

vocês dizem que eu não vos compreendo

o que sabem vocês de compreensão?

vocês dizem que eu não vos amo

o que sabem vocês do amor?

 

meus filhos eu estou ainda em construção

mas nessa escultura divina que todos somos

Deus dedicou-vos ainda muito menos

tempo!

 

meus filhos vocês não pagam os meus impostos

não respondem às cartas que me chegam do Inferno.

pois eu digo-vos:

o vosso pai já perdeu demasiado tempo

com os homens já sabe que não é imortal.

 

meus filhos meus três filhos varões

meus deuses apolíneos

eu agora sou o Van Gogh da orelha cortada...

pintei mulheres, penteei mulheres

acariciei cães adormecidos.

já vi uma arma apontada para mim. se virem

um dia uma arma apontada para o céu fujam!

vocês são tão fantásticos que não merecem morrer

sob uma bala perdida.

 

eu empurrei-vos para o limoeiro dos vizinhos

que trabalheira!

empurrei-vos para o limoeiro dos vizinhos

sonhando sempre com uma laranjeira.

sois maiores trouxe-vos às portas do Céu

(aqui na porta ao lado de onde

me entrego ao juízo de Jezebel)

e agora?

 

ensinei-vos a ter medo medo de todos os medos

medo dos pesadelos com fantasmas e precipícios

medo da casa que geme de noite.

 

meus três filhos dionisíacos

eu ensinei-vos a beber! que mais querem vocês?

eu vou chorar tanto tanto por não vos poder ver

não vos poder sentir não vos poder falar

não poder beber do vosso cálice.

 

meus filhos quando eu morrer podereis ver-me

na orla de Cassiopeia. algures entre Andrómeda

e o monte de Vénus.

uma luz ínfima que não vos verá

que não vos ouvirá que não vos repreenderá.

uma luz que trespassará o olhar dos vossos filhos

dos filhos dos vossos filhos

dos filhos dos filhos dos vossos filhos.

uma luz que não turvará sob as vossas lágrimas.

 

meus filhos se eu morresse agora

quem iria ajudar a mãe a abrir as garrafas de

vinho com o saca-rolhas?

 

meus filhos vocês só compreendem a vossa mãe...

quem vos repreenderá?

vocês só compreenderão as vossas mulheres

as mulheres que houverem nas vossas mulheres

as mulheres que houverem nos vossos homens

os homens que houverem...

eu nunca vos repreenderei.

 

meus filhos vocês só me perdoarão

quando forem pais.

 

meus filhos eu já vos disse isto:

pintem as paredes da casa não deixem nunca

a mãe envelhecer.

 

meus filhos porquê esconder o coração porquê?

 

meus filhos procurem nos sorrisos

nos sorrisos nos sorrisos ao redor dos sorrisos...

eu estarei lá!

 

ANTERO DE ALDA

fevereiro 2018

 

____

 

POST SCRIPTUM: [ 19 de Março de 2018 ] A carta aos meus filhos é duma falta de generosidade tão avassaladora quanto involuntária, porque na verdade eu queria pedir-lhes perdão. Perdão por não ter conseguido, no meu tempo, proporcionar-lhes um futuro melhor, pelo qual sempre lutei de espírito livre. Perdão, portanto, porque não consegui impedir que uma falsa plêiade de governantes, homens maus e corruptos e sem talento, pudesse impor-lhes salários miseráveis, qualidade de vida em total desacordo com as suas expectativas. Eu definiria este tempo como Fareed Rafiq Zakaria, autor do livro O mundo pós-americano (2008): «É como uma super-nova. Uma super-nova é uma estrela que, para o resto da galáxia, parece o objecto mais espantoso e reluzente do mundo, mas no seu âmago não existe nada, é um buraco negro…»

 

Relacionados [ a herança de Ritsos ] [ manual de sobrevivência XXII ]

 

 

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que estão frequentemente em casa todos ao mesmo tempo.

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